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sábado, 31 de dezembro de 2011


Elefantes Flamejantes


Eu vou decorar um coreto
Chamar uma banda de música
Um bloco de carnaval

Só para te contar
O que te parece novidade

Eu vou colocar faixas na sua rua
Desenhar na sua calçada
Grudar bilhetes na sua janela

Só para te mostrar
O que te parece inédito

Eu vou escrever poemas
Compor canções
Publicar um livro

Só para te dizer
O que te parece extraordinário

E quem sabe
Eu até te mostro
Os meus amigos

Só para você saber
O que é o meu normal

O que é ter cuidado
O que é ser leal

E vou ficar assistindo
A surpresa do seu olhar
No insight

Manada de elefantes em chamas.

Dezembro de 2011.
O mesmo verso.

Era um verso já tão conhecido
Tantas vezes entoado
Tantas vezes decifrado

Era um verso já decorado
Era um verso já sabido

Cada rima já cantada
Cada estrofe declamada

A mesma música
Em tantas canções

O mesmo homem
Em tantos homens

Déjà vu

E a poeta

reescreve.

Dezembro de 2011

Era uma vez um gato amarelo. Em duas versões.


Era uma vez um gato amarelo... a versão da mulher.

Ela não desgostava de gatos. Também não gostava especialmente. Um dia, por capricho da vida, ficou com a custódia de um. Tinha nome de iogurte. Foi a primeira vez, depois de adulta, que precisou cuidar de uma coisa viva. Parecia fácil. Água, areia e ração.

Ele não se incomodava com os horários dela. Era carinhoso sem ser grudento. Percebia seus humores... deitava sobre o seu peito quando estava triste - coisa freqüente naqueles dias. Tinha os tempos dele... sumia de vez em quando. E, às vezes, ficava imóvel olhando o ar como se houvesse alguma coisa que só ele via. A ponto dela dar risada e perguntar se ele também escrevia.

Esteve com ela por dois anos. E isso já tem alguns agora.

Custou um bocado para perceber que aquela também foi a primeira vez, depois de adulta, que permitiu que cuidassem dela.



Era uma vez um gato amarelo... a versão do gato.

Ele não desgostava de gente. Também não gostava especialmente. Um dia, por capricho da vida, ficou com a custódia de uma. Não foi a primeira vez que precisou cuidar de alguma coisa viva. Sempre achou fácil. Era só atenção.

Ela tinha horários esquisitos. Achava estranho, mas respeitava. Afinal, ele também tinha lá suas manias. Estava sempre muito triste e isso às vezes o preocupava. Em pouco tempo percebeu que, se deitasse em seu peito, ela sorria. E ele gostava do sorriso dela.

Era carinhosa, mas parecia não gostar muito de mostrar isso. Não a via com outras pessoas. Pelo menos não desde que começou a cuidar dela. Levou um tempo até que ele a visse dar risada das coisas. E um pouco mais até a risada encher os grandes olhos dela.

Ficou com ela por dois anos. O tempo que achou suficiente para que ela ficasse bem.


Junho de 2010
Em memória de Chambinho


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Espelhada

Acontece que a minha vontade
É uma vontade
Espelhada

Daquelas que prende o olhar
No reflexo

E da mesma forma
que a luz reflete
em brilho

A falta dela
Opaca

Sabe o que é um espelho
sem o brilho da prata?

Vidro.

Sabe o que é a minha vontade
sem a tua?

Areia.

Dezembro de 2011

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011


Um Ano Novo que foi um Conto de Natal


Naquele ano, eu fui passar o ano novo com uma amiga querida, a Roberta, que inventou da gente ir ver uma praia à meia noite.

Todos os que estavam na festa foram, mas nos distanciamos na multidão. Passamos a virada do ano caminhando para a tal praia. E havia cerca de 100 metros e umas 300 pessoas entre cada um de nós. Na prática, estávamos cada um de nós sozinhos na multidão. E eu detesto multidões.

Poderia ter sido triste. Mas, na verdade, foi meio mágico.

É que, exatamente à meia noite, eu parei de andar e olhei para o céu. E tinha fogos. Alguma casa tocava uma música bonita que enchia a noite naquele pedaço de caminho. E eu vi que o lugar era uma alameda de eucalíptos. E os eucalíptos formavam um caminho verde no meio da noite. E inundavem o ar com um aroma fresco.

Os fogos no céu, a música na noite, o cheiro de eucalípto e a visão daquelas pessoas estranhas se cumprimentando na rua... estava uma coisa bonita de se ver. Parecia que eu estava dentro de um conto de Natal.

Eu sorri para a mulher ao meu lado e disse "Feliz Ano Novo"! E ela sorriu de volta. E me abraçou.

E o momento fez
daquelas pessoas estranhas
estranhamente familiares.
Milagrosamente familiares.

Quinze minutos depois, meus amigos se reagruparam. Desistimos da praia e voltamos.

Terminamos a noite eu e a minha amiga em um ponto de ônibus, a uma da manhã, dando risada de tudo e relembrando os muitos anos da nossa amizade.

Foi um Ano Novo Feliz.

Dezembro de 2011

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Desejo de Ano Novo

Envio a você o meu melhor pensamento
para que no novo ano
seu dias sejam repletos

repletos
de toda a paz
e de toda a magia
de toda a luz
e de toda alegria

repletos
de cores
e de sabores

repletos
de arte
e de amizade

repletos...

Bem, apenas repletos.

imagine você

pense você um sonho
faça você um desejo

que eu aqui
te envio o meu melhor pensamento

para que seus dias
dessa forma
sonhada ou desejada
transbordem!

Dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sonolenta Noite Insone

Não é nem que eu seja insone.
Na verdade, os olhos ardem.
Pesam.

Eu ia dormir
quando vi um vídeo do Lenine.

Eu ia dormir
quando lembrei de ligar para a minha mãe.

Eu ia dormir
quando meus olhos pousaram naquele livro que veio para casa comigo ontem.

Eu ia dormir
quando um amigo apareceu no MSN.

E eu estava quase indo dormir
quando esse verso olhou para mim.

E a cada música
E a cada riso
E a cada imagem
E a cada verso
Meu
ou do outro

Eu mesma me peço
E eu mesma permito:

"Mais um mergulho, vai... o último! Prometo!"

Sedenta de vida
Sonolenta sigo
Em noite insone.

Dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011


Ausência

Não nos vemos há tempo demais
Mas não tem problema
Porque eu te trago em mim sempre

(Dezembro de 2011 - Devaneios pela Palavra)
Matemática

Domingo é um dia de magia
O meu acontece
Misteriosamente
Milagrosamente
Aos domingos mesmo

Quase sempre

Eu nem abri os olhos
E já sei que é domingo
Ainda que seja uma terça-feira.

Um ano tem 56 domingos
Dez anos 560
Cem anos 5600

Eu bem seria feliz com 5600 domingos

Então, o jeito é roubar na matemática
E deixar o domingo acontecer um tantinho mais de vez em quando

Quarta-feira passada, por exemplo
Aconteceu uma manhã linda de domingo
E aconteceram respingos de domingo por todo dia ontem - e era sábado

Então, nessa semana, já foram quase dois domingos inteiros
Olha só que coisa gostosa!
Uma semana com dois domingos!

E os outros dias?
Ah, os outros dias não ligam.
Eles gostam de ser domingo de vez em quando.

O bom de você ser poeta
é que até as suas quartas-feiras
têm vocação para domingo.

Olha, eu nem sei como começou o poema.
Então, como é que eu vou saber como parar?
Enquanto isso, faz você a sua conta!

Quantos domingos você precisa na sua vida
para ser feliz?

E se, nessa vida,
você não nasceu poeta
para deixar a magia respingar
ou inundar
seus outros dias

Eu posso te sugerir luares
ou chocolate
Eu posso te sugerir canções
ou risada de criança

E posso te sugerir
um Poema!

Não esqueça.
Um ano
só tem
56 domingos!

Dezembro de 2011

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Foto de um dia nem tão cinzento

Geralmente, eu não gosto de dias cinzas.
Acho-os escuros. Um tanto insossos.
E abafados

Só que, hoje,
o vento nos presenteou
com nuvens luminosas decorando o canto direito do céu.
Ali perto da minha montanha.

Pincelou azul clarinho em toda a beirada esquerda do dia.

E arrumou os grandes flocos cor de chumbo no miolo.

Surpreendente dia cinza o de hoje
que deixou o vento brincar de aquarela
em suas beiradas
só para alegrar olhos poetas
a caminho do trabalho

Dezembro de 2011 - devaneios pela palavra

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Faísca

Muito mais ar
do que fogo

E se é ar
que alimenta
fogo

Só labareda
o que um dia
faísca

Dezembro de 2011
Um ano

Tantos sonhos
Tantos dias
Tantas luas
Tantos risos
Tantos versos

Tantos encontros
Alguns desencontros

Tanta magia
Algum desencanto

Armazenamos histórias
Memorizamos uns aos outros

Vivemos
E vivemos

Viva!

Dezembro de 2011
(para Thelma e Thamar... rainhas de minha Pasárgada)

Gabaritos

Acertos
Desacertos
Encontros
Desencontros
Ditos
Não ditos

Não tem certo
Ou errado
Só tem a gente
tentando ser feliz

Dezembro de 2011

domingo, 11 de dezembro de 2011

Rafting

E veio para mim
como eu fui
Rio de encontro ao mar

Cristalina e brilhante,
é verdade,
mas só água

E eu,
acostumada que estou
a ventanias,
nem estranhei
corredeiras

Dezembro 2012

sábado, 10 de dezembro de 2011



Colheita

Filha do Ano Novo,
nascida terra,
espelhada em água
para germinar palavra.

A nuvem que você vê
no meu olho
é só Poesia.

Terra irrigada germina verso.

A poeta,
em verdade,

colhe.


 (Flávia Côrtes - Dezembro de 2011)

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Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


Cedo ainda

Outro dia
qualquer dia
qualquer hora
qualquer tempo

não precisa ser sempre
no "agora"

Devaneio pela Palavra
Novembro de 2011


Beijo nas costas

Beijo nas costas
independente do arrepio
é de uma intimidade sem tamanho.

Pressupõe abraço de conchinha
ou um sobre o outro,
contato de corpo todo,
mãos envolvendo seios.

Então,
não é só beijo em pele sensível.


É receita de recomeço.

Bom demais.



(Flávia Côrtes - Dezembro de 2011)



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domingo, 4 de dezembro de 2011


O Dia da Magia

Tem dia que o dia escorre para dentro do quarto
E abre olhos poetas

A luz mostra mais que clareia
Coloca nuances no verde da parede
Reflete nas lâminas de madeira clara do piso
E deixa o olho descobrir sombras novas no teto branco

É o mesmo quarto
e o mesmo teto
É a mesma parede
e o mesmo chão
E a mesma é a poeta

Mas é domingo...
O dia da magia.

Novembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011



Chuvinha


Eu gosto de chuva.
Só não gosto de chuvinha.
Dessa chuva que não chove.

É assim como
um mar sem onda,
um ar sem vento.

Algo como
um beijo sem arrepio,
um dia sem poesia,
fim de tarde sem crepúsculo,
tempestade sem vendaval,
gozo sem abraço.

Então...
Que tempinho mais xoxo este hoje!


(Flávia Côrtes - Novembro de 2011)

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domingo, 27 de novembro de 2011


Inteira

Até o efêmero pode acontecer
desde que seja inteiro na sua efemeridade

Essa coisa meio morna
meio quase
meio "meio"...
...não dá

Ou arrebatada
Ou conquistada.
Mas nunca mais ou menos.

Eu sou inteira.

(Novembro de 2011)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011


Tempos Modernos


Tempos modernos,
de modernas paixões em minissérie.
O virtual prende a retina.

Familias conversam pelo msn.
 E não é porque um deles mora na Austrália.
Ele está no quarto ao lado.

Homens e mulheres trocam mensagens via celular por dias.
E não se telefonam.
Nem se encontram.

"Tomagoshies" alimentados pelo som da mensagem,
 abrindo mão da voz,  do riso,
 dispensando o olhar e o toque.

Instantâneos efêmeros.
Cliques desgovernados em busca do perfeito.
Buscas incessantes com uma forma na mão.

Pai, perdoa-os.
Eles não sabem o que buscam!


Flávia Côrtes – Outubro de 2011
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sábado, 5 de novembro de 2011

Poema para um quase amor

Eu acho que podia ter te amado.
Com uma dessas paixões desesperadas,
dessas que cruzam os dias em desatino,
por um amor que um dia se perdeu.

E eu acho
que eu podia ter te amado
com uma dessas paixões desencanadas,
que cruzam as noites em desvario,
por um amor que um dia se encontrou.

Eu acho até
que eu podia ter te amado
com uma dessas paixões mansinhas,
que cruzam manhãs devagarinho,
por um amor que nem sabe se viveu.

E, certamente, eu acho
que eu podia ter te amado
com uma paixão risonha e leve,
dessas que refrescam as tardes
e dão calores na gente de madrugada.

Mas só que eu só sei
de amores
que eu tive.

Então, meu quase amor,
de quase sorrisos,
quase suspiros,
e quase arrepios,
para você,
eu dedico um poema.

Inteiro.


Outubro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

Hieróglifos

E quando vi
falávamos de tudo
e de nada

A palavra dita misturada
na não dita
a linha embaralhada
na entrelinha
um riso entrelaçado
no meio

um assunto
sem começo ou fim
falando sem dizer
palavra

um contar da vida
um dizer do dia
que sem dizer
que conta
mostra

e eu
que me via
entoando versos
ainda não ditos
em palavras
não escritas
de uma linguagem
não inventada

te vi
leitor da entrelinha
descobridor do verso
tradutor do hieróglifo
da história
ainda não escrita
de nós dois

e agora
nos intercalamos

hora página
hora pena
hora palavra

Em tempo tempo tempo

Outubro de 2010

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Para bom leitor de entrelinhas

O risco é só
de você me dizer coisas
que eu quero ouvir
de eu fazer coisas
que não quero fazer
de eu dizer coisas
que não quero dizer
de você fazer coisas
que não quer fazer

Então, melhor não
Antes que não reste
Nem mesmo um poema

Outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Desisto

Eu te disse
que não sei desistir

Era mentira
Na verdade,
Eu desisto

É só olhar em volta
E para trás
E vai ver
Volta e meia
Eu desisto

O caso é que
Não tenho pudor
Em desistir de desistir
Principalmente se for
De gente

Então
Desiste você
De mim

Outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Penélope

Para entender o gênesis do desencanto
Há de se saber a origem do desejo
E aí, é só percorrer o caminho inverso

É um desfazer
Que começa
Em um não fazer

Um se distancia do outro
Sem perceber
O fio preso
No silêncio

E eu aqui
Hora tecelã
Hora Penélope

Desfaço as horas
Enquanto teço
Versos

Desfaço os versos
Enquanto
Teço horas

E enquanto teço
E enquanto verso
Desfaço-te

Outubro de 2011
Irmãos

Juntos caíram, juntos se levantaram, juntos riram e choraram.
Brigaram e fizeram as pazes em dois minutos, centenas de vezes, como cabe a irmãos.

Se protegeram de outros, zangados, preferindo levar porrada eles mesmos
porque só irmãos podem se bater.

E se empurraram, rindo, em direção a outros, sabendo o quanto seria bom.

E deitaram-se de mãos dadas no escuro
e contaram os sonhos assim que acordaram
e falaram de seus medos, seus pudores, seus anseios

Falaram dos dias ruins quando aconteceram
falaram das vitórias nos dias em que as viveram

Contaram seus desejos, pouco antes de decidir se iriam mesmo se entregar a estes
e, logo depois, quer em jubilo, quer em arrependimento

Deliciaram-se em saber-se entendidos pelo olhar, sem precisar explicar-se
E também explicaram-se uns aos outros, sem necessidade,
só pelo gosto de ser ouvido por quem te aceita, mesmo que não te entenda.

E, nesta troca, cresceram.

Floresceram, cada um ao seu modo.

E, ainda que diversos,

essencialmente juntos.

E, ainda que distantes,

eternamente

Irmãos.


Setembro de 2011
Decisões

Não decidir
Não faz de mim
Indecisa

É que eu posso simplesmente
Não querer resolver

Porque se for para te resolver
A resolução
É "não"

Então
Subverto o direito
Abdico a decisão
E só
Vivo

Nem sim,
Nem não,
Nem talvez.

Apenas
Agora!

Outubro de 2011
Vivenciando

Até que vai chegar uma hora
Que a vida vai fazer
O que a vida faz
Que é fazer a gente
Viver

Outubro de 2011
Ressaca

Cabeça pesada
Boca ressecada
Corpo doído
Cansaço

Olhos vermelhos
Estômago embrulhado
Noite mal-dormida
Amanhecida
Opaca

E o pior é que
Não tem
Gemada
Ou copo d'água
Que cure decepção
De quem, um dia, amigo

Quem sabe
Poesia

Outubro de 2011


Como Chegar

A minha varanda fica
entre uma palmeira e um antúrio,
logo depois de uma fonte
que faz barulhinho d'água...

Siga por alguns versos,
de acordo com os caminhos
que ditarem os ventos.

É recomendado perder-se um pouco pelo caminho.
Se houver dúvida, feche os olhos,
e siga o poema.



(Flávia Côrtes - Setembro de 2011)
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Entrelinhas

Se eu digo que
Não te quero
Dói-me menos
Que não venhas

Se eu digo que
Não a deixes
Dói-me menos
A tua escolha

Então,
nem sei o porque
do Poema

Setembro de 2011
Receita de Insônia

Almoço de tarde inteira com amigos
E soneca das 18h às 22h
Bom dia, Madrugada!

Setembro de 2011



Recall

Não importa por
Que culpas
Que vontades
Que caminhos

Ela já me provou
Que me tira
Este homem
Quantas vezes quiser

Eu vou fazer
O que

Então?

Julho de 2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011


Invenção

E se todos os amores
Invenções?

E se todos os quereres
Encantamentos?

E se todos os saberes
Vontades?

Então?

Não diria
ainda assim
o Poema?

Setembro de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011


Verso em reflexo

A previsão
era de chuva para o fim de semana.

Só que o domingo descobriu
que eu andava muito precisada de azul
e nos surpreendeu a todos
com uma manhã clarinha.

Eu me deitei na varanda
abraçada a um livro
enrodilhada em travesseiros
para deixar o domingo
fazer manhã em mim.

Em varandas
pálpebras fechadas
cobrem de um amarelo dourado
o olhar da gente.

No dia em que construíram
o jardim do meu prédio
um engenheiro entendido de gente
colocou uma fonte
fazendo barulhinho d'água

Mães emprestam crianças ao jardim.
E as crianças emprestam risadas ao dia.
Risadas de crianças misturadas a barulhinho d'água
lavam almas

Por trás do dourado da minha pálpebra
abraçada ao meu livro,
enrodilhada em travesseiros,
sussurrada de risos e águas,
eu me amanheço
em poesia

Sempre me surpreende o quanto o domingo
me conhece e me cuida.

E eu
verso
em reflexo.


Flávia Côrtes - Agosto de 2011
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sexta-feira, 12 de agosto de 2011


Irrigação

Acordei seca.
Dez dias sem poesia
viram rotações.

E ressecam.

Você há de me perguntar
porque não bebi
qualquer poema
colhido
nessas dezenas de livros
espalhados pela casa

É que para estiagem assim,
dessas que racham a alma,
poema em folha
é gota.
Já não resolve.

Recomenda-se,
em casos graves como esse,
submersão imediata
em lirismo
em estado puro

Não é essencial que haja
céu azul por fora,
mas por dentro

E, imprescindível, que a pessoa
esteja propensa a folha

Feito isso,
é só abrir as comportas do mundo
sobre si mesmo
e se deixar inundar

Acreditem.
Qualquer um
vai de Saara
a Pantanal
em meia manhã
desse jeito

Aí, é só colher uma flor atrás da orelha,
deixar passar tuiuiú pela retina
e prestar atenção no barulho da água
que corre por dentro

Pronto.
Germinada em Poesia.

Agosto de 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011


Túnel do Tempo

Num túnel esculpido em rocha crua

em tempos antigos,
a gota minada da pedra me transporta.

Se fecho os olhos, ainda dá para ver...
mãos escravas abrindo pedra
gritos
explosões em pólvora
estalos de chicote no ar
em um tempo distante
mas nem tanto

E a tarde pára na queda
daquela gota
para lembrar a poeta
que nem tudo que é belo
foi indolor

Julho de 2011

domingo, 31 de julho de 2011


Tempo Corrido ou Tempo Escorrido

Angra desacelera o tempo.

É como se o tempo passasse
um pouco mais lento
só para a gente
apreciar
a beleza

E é quando o tempo
passa lento assim
que dá para
descobrir
o que não se vê
em tempo corrido

Em tempo escorrido
se vê o vento fazer textura prateada em espelho d’água
brincando de ofuscar o sol
só para prender o olhar
da gente

Em tempo escorrido
se vê o sol encontrar passagens por trás das nuvens
colorindo bordas amarelo-luz em flocos cor de chumbo
só para transbordar a alma
da gente

Em tempo escorrido
se descobrem verdes
em folhas diferentes

E só em tempo escorrido
a retina admira
com propriedade devida
a arquitetura delicada
da teia

Neste domingo
Angra desacelerou o tempo para mim
por dentro
e por fora

Você pode achar que eu estou
aqui
agora
te dizendo um poema

Estou nada...
Ainda estou
acompanhando o vôo da gaivota
sobre a baía de Angra

Daqui a pouco eu volto
Mas em tempo escorrido, tá?

Julho de 2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011


Recomendações de uma Leitora de Manoel de Barros

Estou lendo a “Poesia Completa”, de Manoel de Barros. Comecei tem uns dois meses. Um livro apaixonante. Vim aqui recomendá-lo.

Você há de me perguntar como posso levar esse tempo todo para ler um livro com no máximo 500 páginas e ainda dizer que é apaixonante.

Bem, para ser sincera, eu ainda não cheguei à metade do livro. Acho que li umas 200 páginas até agora. E posso afirmar, com absoluta certeza, que é apaixonante.

Existem bons motivos para eu estar na página 200, acredite.

Na verdade, são duas coisas.

A primeira é que eu descobri que leio Manoel de Barros muito melhor em manhãs de domingo. Sim, porque os domingos, já há muito tempo, fazem manhã em mim. Manhãs de domingo escorrem – o que é perfeito para desaprender coisas. Principalmente se você está experimentando-se lagarto pela primeira vez. Hoje, por exemplo, descobri que há lagartos que dão para pedra e outros que dão para água. Domingo que vem vou tentar experimentar-me lagarto que dê para água. Porque essa coisa de tentar-se lagarto, para alguém habituado a nuvem e borboleta, é, verdadeiramente, muito difícil. Pode ser que eu esteja tentando o tipo errado de lagarto. Imagino, de qualquer forma, que eu dê muito mais para água do que para pedra. Vamos ver.

A segunda é que o verso de Manoel ecoa na gente. Você lê um verso e fica ali, olhando o eco do verso. Não dá para seguir adiante, lendo outro verso, antes de absorver aquele que está ecoando na sua frente. E têm uns versos que dão vontade de ficar manhã inteira olhando, meio como quem solta o olhar na beira do mar esperando maré subir só para descobrir o que vai sobrar de areia.

Enfim, voltando ao assunto inicial: Vim aqui recomendar um livro apaixonante que está germinando em mim.

Chama-se “Poesia Completa”. O autor é um poeta com nome de passarinho.

Flávia Côrtes
Poeta, Leitora de Poesia e Desaprendiz de Coisas
Julho de 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011




Jogo

As regras são
claras,
antigas,
conhecidas.

Toda mulher aprende
ainda menina.

Ligar.
Não ligar.
Deixar.
Não deixar.
Esperar.
Instigar.
Manipular.

Conheço a cartilha.
Sei do protocolo.

Então, porque
a palavra aberta,
o olhar direto,
o sorriso claro,
o poema?

Te conto.
É esse olhar poeta
que me impede o jogo
e que me impele à vida.

Um pouco escolha,
um pouco sina,
descarto regras.

Será que perco?
Será que ganho?

Me diz você.

Eis aqui as cartas.

Eis aqui
a mulher.


Flávia Côrtes - Julho de 2011
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terça-feira, 12 de julho de 2011


Era uma vez

E éramos nós dois e o mundo
em um tempo
onde qualquer sonho
era possível

Sem metáforas
mas criativos,

sem encenações
mas poéticos,

desenhávamos
um futuro
de arte
e poesia

Sonhos sonhados
em madrugadas
viravam fatos
em nossos dias

Fizemos o que foi possível
antes da décima segunda badalada
dissolver o encanto
e paralisar
o sonho

Dizem que só o beijo
de um amor verdadeiro
desfaz o feitiço

Aguardemos
cem anos.


Julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Veleiros

E eu
Que conduzo os meus caminhos
Que imprimo os meus ritmos
E escolho os meus rumos


Soltei amarras
Em redemoinho
Pleno
Do teu toque

Foi bom te ver
delicado e firme
tomar o leme
e realinhar o rumo

Então te deixo escolher
por que águas
por que ventos
e a quantos nós

E aprecio a viagem.

Julho de 2011

domingo, 10 de julho de 2011

Êxodo

Migrei
De nós dois

Não sem olhar
Para trás
É verdade

Mas é que me prefiro
Estátua de Sal
Do que ter-te
Eternamente
Em mim

Porque amores
que não se estingüem
viram mitos

Conduzi-me
Portanto

Sem revelações
E sem regras

Nem santa
Nem prometida

Mas senhora de mim

Julho de 2011
Forma e Conteúdo

E quando vejo
cá está você
em meu verso

De novo
Ainda
E novamente

De certa forma
já está em mim

Descubramos juntos,
então,
todas as formas.


Julho 2011


Ciclos

Quando me dei conta,
foi-se o faz de conta.

E, na realidade de nossos cotidianos,
se me perguntam
se já fiz as contas,
se valeu a pena,
me espanto...!

Contar o que?

Arte?
Intangível.

Amizade?
Imensurável.

Fechamos o ciclo,
cumprimos o círculo,
terminamos o circuito
de Outra Paixão.

E, naquilo que não tem início ou fim,
nos descobrimos,
nos mostramos,
e nos soubemos.

Então, eu te conto
incontáveis vezes
esse faz de conta.

Era uma vez, um grupo de amigos...
...
E foram felizes.

(Flávia Côrtes - Julho de 2011)

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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Rapunzel

Se a escalada ainda te encanta
Ainda que me faltem as tranças
Te estendo as mãos

E quem sabe me ajuda
A derrubar os muros

Julho de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011


Licença Poética

Te quero num hiato de tempo
Ritmada vogal ecoada
Entre as consoantes
de nossos dias

Só não me peça explicações
De como conjugo
Teu verso em mim

Esquece a gramática, vai

Ou, então,
chama
isso
de liberdade poética


Julho de 2011


Naturismo

Descobriu-a nua
Entre linhas
Antes mesmo
De sabê-la nua
Entre lençóis

E agora
que já a viu
Inteira

Pode até baixar os olhos
Mas falta força ou vontade
Para suspender
O vestido


Julho de 2011

sábado, 2 de julho de 2011


Efemeridades

E se eu descubro desenho
em nuvem

E escuto sino
em pingo d’água

Por que o espanto
em eu ter visto tanto?

Por que a surpresa
em eu ter sido muitas?

Você devia saber

A arte dá perenidade
ao efêmero


Julho de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011


(des) proporções

Pela manhã?
10% bom humor...
90% você sabe o que

Sem você por perto,
administro as proporções,
fazer o que?

música, café da manhã, um banho

Mas com você por perto
Ah, com você por perto...

Beijo onde encontrar pele
até te tirar do sono
até você me olhar com olhos que me dizem
eu bem sei o que

Julho 2011

quinta-feira, 30 de junho de 2011


(In) definições

Instinto
Nem inteligência
Nem querer
Só saber

Vontade
Nem inteligência
Nem saber
Só querer

Não
Não te conto
O que me diz o instinto
O que me pede a vontade

Poema
Cada um pega o seu
Dentro do verso

Junho de 2011


quarta-feira, 29 de junho de 2011


Déja vú

Com você
Tenho a sensação
De que sigo reescrevendo
Versos

São belos os versos
E gosto da poesia

Mas deixa eu te contar
Os melhores versos
Ainda são

Os que surpreendem

Junho 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011


Desconstrução

Seria mais fácil
Desconstruir
Se você não tivesse
Esses olhos que me olham
Por dentro

E olha que eu sou
Empreiteira empenhada

Aproveitei
Tua indecisão

Esses dias
Em que olhou ali
Para o lado

E comecei
Dupla reforma

Desconstruir sentimento

E construir os meus muros
que esses
você derrubou todos
já tem uns meses

Eu já estava aqui
com as obras
bem
adiantadas, sabia?

Ah, vai,
não fica aí parado me olhando

Entra
Prepara um café
que eu te digo um poema

Junho de 2011


terça-feira, 21 de junho de 2011




Desconstrução

Seria mais fácil
Desconstruir
Se você não tivesse
Esses olhos que me olham
Por dentro

E olha que eu sou
Empreiteira empenhada

Aproveitei
Tua indecisão

Esses dias
Em que olhou ali
Para o lado

E comecei
Dupla reforma

Desconstruir sentimento
E construir os meus muros
Que esses
você derrubou todos
já tem uns meses

Eu já estava aqui
Com as obras
Bem
adiantadas, sabia?

Ah, vai
Não fica aí parado me olhando
Entra

Prepara um café
Que eu te digo um poema

Junho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011


Poema à Fidelidade

As pessoas
não são fiéis

Elas são felizes.

(Junho de 2011)

quarta-feira, 15 de junho de 2011


Poema para Quem não Perguntou

Se você tivesse me perguntado
Eu tinha te dito
Para não vir

Tinha te contado
Que estou em recesso
Feriado prolongado planejado

Mas você
Me aparece assim
Sem avisar

E eu agora, aqui,
Sem saber

Se te deixo entrar
E te peço para me esperar
Ou se te levo comigo

Ah, vai,
não me olha
com esses olhos de quem já sabe


Mania feia essa.
Sua mãe não te ensinou
A esperar convite?

Que bom.

Junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011


Cadê o encanto que estava aqui?


Antes do desapaixonar,
há o desencantar.

Junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011


Desperta

Acordar para mim
É lentidão

O corpo vem para o dia
Muito antes da mente
Chegar

É um momento
Em que sou muito mais
Sensação
Do que pensamento

Talvez por isso
Veja o verso tão melhor
Nessa hora

Eu me amanheço.

Junho de 2011

domingo, 5 de junho de 2011


Olhos de Ver

É que o meu olho
Alcança
Onde vive o
Teu sonho


Junho de 2011

Poeme-se!

Desenha
com o corpo
o poema

Gira
Com a rima
Na ponta dos dedos

Inspira
Respira
Transpira

Diz o verso
Desde o estômago

Deixa
Te percorrer

Poeme-se!

Junho de 2011

Textual

Minha poesia me garante
Que meus vazios
Nunca sejam lisos

Oco para mim
Vira tronco de árvore
E tem textura

Então, me deixo aqui
Redescobrindo o centro
Da cama

Porque meus sós
Um dia já me levaram
A pedra

Mas, hoje,
Só me levam
A passarinhos


Junho de 2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pingos

Explica mais nada, não
Meus "is" estão super bem
Sem os pingos

Já tem, nessa história,
Pingo demais
Para pouco "i"

Acredite
Nunca fiz questão de pingos
Prefiro que me inundem
Nunca me detive em poças
Me encantam corredeiras

Então, a esta altura,
Respingos?
Precisa, não

Maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011



Cosmopolita

Como toda mulher,
trago em mim
todas as mulheres
do mundo.

Ora te olho
com olhos de gueixa
e acato.

Ora te rio
e desarmo.

De nova-iorquina desencanada
a heroína mexicana
em minutos.

Prática,
exagerada.

Mulher.


(Flávia Côrtes - Maio de 2011)
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Mexicana

Está bem.
Isso está, sim,
um tantinho exagerado.

Da próxima vez que acordar assim
preparo nachos.

Devaneio pela Palavra
Maio de 2011

terça-feira, 24 de maio de 2011


A dualidade não me incomoda...
Na verdade, gosto.
Hoje, pelo menos, gosto.


Texto da Série - Devaneio pela Palavra

Flávia Côrtes -  Fevereiro de 2012
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domingo, 22 de maio de 2011

Eu sei

Não me pergunta se eu te amo
A pergunta não é mais esta
Isso sempre foi certeza

Me pergunta se eu te quero
Não quero
Isso agora é certeza

Teu "não sei"
Virou certeza em mim

Maio de 2011



Confissão

Apesar
da tua roupa
ainda espalhada pela casa

e da tua presença
ainda espalhada em mim,

estou te recolhendo.

Uma hora, vai virar poema.

Por hora,

dói.

(Flávia Côrtes - Maio 2011)

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sábado, 14 de maio de 2011

Estranha Noite

E, de repente,
Enquanto eu te contava
De sonhos trazidos
Ao real,

Você me falava
Do que não sou
Capaz

Logo a mim
Que habituei-me
A não saber do impossível

Eu não sei bem
Como

o moço
Que me falava
De janelas

Uma noite
Coloriu de amarelo
Um desenho que era
Todo azul

Vem, amor,
Vem ver o desenho
Que agora é
Todo verde

Eu espero

Maio de 2011
O melhor lugar

O melhor lugar
Do mundo
Para esta poltrona
É aqui

Aqui
Onde a luz do dia
Me deixa ver
Que a página deste Drummond
É verde

É verde
E combina
Com a cor do meu vestido

Não me deixa esquecer, amor
O melhor lugar do mundo
É aqui

Maio de 2011
Yasmim

E você me levava
Em mágica viagem
De música
E cores

Ao alcance
De um toque
Descortinava
Um mundo

Um vôo
Na ponta dos dedos

E foi assim
Que uma noite
Se fez em mil

E foi assim
Que te vi

Aladdin
Em mim

Maio de 2011
Dispnéia

Porque se não me dou um tempo
para respirar o mundo

Eu sufoco

Maio de 2011
Despertar

Ela já estava acordada
Ou quase

A respiração ainda na mesma cadência do sono
E as pálpebras fechadas
mantinham a manhã do lado de fora

A consciência sonolenta
Fazia
Prazeroso o momento

A textura gelada do travesseiro sob os pés
O peso macio do edredom enrodilhado no corpo
O ronronar suave do ar condicionado sussurrando
Um verso

E o dia se vestiu de domingo
Para acordar
A poeta

Maio de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011



Apneia

E, mesmo quando eu estou
inteira em mim mesma,
conhece o caminho.

Sabedor das minhas marés,
mergulha em mar cristalino,
me descobre em calmaria,
me encontra em madrepérola,
me inspira
e submerge comigo.

Escondida em tua mão,
me faz presente
em nós dois.


(Flávia Côrtes - Abril de 2011)

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terça-feira, 29 de março de 2011

Filha do Vento

De olhos fechados
na varanda
me faço folha
ao vento

e o frescor
me invade
me leva
me toma
por dentro
e por fora

ruídos do dia
voam comigo
folhagem crepita
na ventania
que emaranha
os cabelos
e desembaraça
as entranhas

De olhos fechados
ao vento
me faço vela
à varanda

E a brisa
me infla
me solta
me move
me leva
por dentro
e prá fora

Suspiros do dia
viajam comigo
risadas
silêncios
murmúrios
sussurros

De olhos fechados
ao vento
me faço
varanda

Filha do vento
Flutuo ventania

Março 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011


Encaixe

Se quem pensou improvável
soubesse,
saberia inevitável.

Na figura do côncavo
e do convexo,
contrastes
se somam
e se integram.

E a tua luz
combina
as minhas sombras.

E o meu azul
espelha
o teu celeste.

E maciez suspira
na aspereza delicada
das mãos.
Provavelmente evitável.
Possivelmente improvável.
Completamente possível.

Irresistível.


(Flávia Côrtes - Março de 2011)
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quinta-feira, 17 de março de 2011


Peço-te

Descobri
Que não posso mais
Ter você em volta
Todo dia

Amo-te
E por isso peço-te


Peço-te
Com a certeza dos que amam
E se sabem amados


E ao te pedir
Já me dói tua ausência
Já anseio a tua
Chegada

Preciso que se vá
Para que possas chegar
De novo

Preciso que se vá
para que eu possa
te encontrar
De novo

Preciso que se vá
para que eu possa
me encontrar
De novo

Amo-te
E por isso peço-te


Volta prá mim

Março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011


Ilusionismo

A poesia mostrando
uma lua semi
escondida atrás de uma nuvem,
fazendo de conta que é cheia...

uma nuvem fingindo de montanha

Março de 2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Jardim
Entre arbustos de muitos
verdes,
o caminho serpenteava
tardes

Março fazia
a copa baixa das Alamandas
pontilhar confetes amarelos
no chão.

O riso solto das crianças
dobrava cristalino
no ar.

E eu
espreguiçava
poentes.

Março de 2011

domingo, 27 de fevereiro de 2011


Transformação

A palavra muda
a pessoa

Mesmo que você não queira
a palavra entra em você

Te invade ouvidos

Te percorre

Neurônio
Peito
Pensamento

E aí
Quando você percebe
Já leva dentro de si
Um pouquinho do outro

Agora mesmo
Nesse verso
Nesse poema

Percebe que me leva
um pouco?

Pois é
Vou contigo agora

Fevereiro de 2011

Independente

Eu não quero só que você
me queira
Quero que você goste
de me querer

Preciso que você me queira na sua vida.
Inteira.
E não apenas
o meu verso.

Quero ser teu amor
Menos que isso não me basta

Não quero ser teu vício
Tua dependência

Se sou seu vício
Então me diz

Que droga eu sou?!

Dezembro de 2010


Autoanálise

Não escrevo em autofagia.
Apenas em fagia mesmo.

Pela minha palavra,
devoro o mundo.

E meio que não me reconheço
se não transbordo
Poesia.



(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2011)
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Não fica triste

Não estou triste.
A palavra não é essa.

O que você sente
quando alguém que você gosta
age com você com total falta de zelo?

Decepção? Não.
Não sou tão crédula
a ponto de alguém conseguir me decepcionar.

Tristeza? Não.
Não sou tão boazinha assim...

Eu fico puta mesmo.

Dezembro de 2010

domingo, 20 de fevereiro de 2011


Linda e Lenta Manhã

O domingo trouxe
uma manhã clara
e quase fresca
de verão

Dessas manhãs tão lindas
e lentas
que simplesmente
não se vão

Sabe essas manhãs
que não correm
escorrem?

Dessas que se deixam
dentro do dia
inteiro?

Pois é.
Já vai prá mais de cinco
horas
e eu estou aqui
numa manhã linda e lenta
de domingo
conversando de tudos e de nadas
lagarteando varandas

Vai ser um por do sol lindo
o desta manhã!

Fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011


Deixo de Ser um Pouco

Manhã perfeita
de domingo
para desaprender
as coisas
com Manoel de Barros

E eu
que sempre
me soube

me deixo aqui
com Manoel
brincando de desnomear
as coisas
desbotando pensamento
até encontrar
o que era
antes do nome nomear

E me amanheço passarinhos

Fevereiro de 2011



Crescimento

E o bebê deu altura de porta.

Pontinha dos pés,
mãozinha esticada,
mas altura de porta!

Não tem mais maçaneta
que segure!


(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2011)
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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


Letargia

Estirada em lençol branco,
tal náufraga
entregue à areia
pelas ondas,
repousa

Pernas e braços sonolentos
Pensamento embotado

E o coração?
Desarvorado

Fevereiro de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011



Amazona

Na folha branca,
pastam idéias.

No lápis,
o laço.

Em horas brancas,
trotam versos
selvagens.

No olhar da poeta,
um tanto de Hipólita.

No olhar do poema,
um tanto de Pégaso

Não se sabe ainda
quem domando
quem.



(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2011)

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Água Raz

Ah, meu amor,
mas isso foi há tanta horas.

As horas dissolvem o desejo.

Só não me olhe assim,
ou o desejo dissolve as horas!

Ah, meu amor, já são tantos os dias...

Quem foi que disse
que os dias dissolvem a vontade?

De certo
alguém que não sabia
dissolver as horas!


Flávia Côrtes - Fevereiro de 2011


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Poema a quatro mãos

Você entrou em mim como um poema
Cada toque
Cada beijo
Reverbando sob pele
Em ecos

Poeta de nós dois
Fez de mim
Poesia

Fevereiro de 2011

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


O meu verso... o seu verso... o nosso verso

E quando eu escrevo sobre o sentimento
E não sobre o fato
O poema ganha
Universalidade
E vira de todo mundo

Porque o sentimento
é igual
para todo o mundo

Ele só se veste de forma diferente
Nas diferentes vidas das pessoas
Nas diferentes situações
Em que nos encontramos
Todos

Pessoas
Iguais
Humanos

Janeiro de 2011

Vocação

Tuas pernas entrelaçando as minhas no sono
Tua mão me segurando a cintura
O livro do Rubem Braga me prendendo o pensamento
E o relógio avisando que está na hora

Por que manhãs de segunda-feira
Se vestem de domingo,
meu Deus?

Janeiro de 2011

Olhos em Luz

A bola dourada do sol
namorando nuvem
me prende retina.
Me cega em luz.

Não, eu não esqueci
que não se encara Sol
com olhos nus.

Escolhi olhar mesmo.

Janeiro de 2011
Sonolência

O dia me sussurra encanto
Me mostra desenhos de luz e sombra
em teto branco

Rubem Braga me conta causos
de Cajueiros e Amadas
Pernas entrelaçam travesseiros
E as horas
Me pesam pálpebras

Devaneio pela Palavra - Janeiro 2011

Neblina

Hoje a manhã nasceu com saudades de anteontem
Espalhando brumas ancestrais em volta da montanha
Para lembrar a história
Antes da história

Devaneio pela palavra - Janeiro 2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Exemplos

Meus pais me doaram muitas coisas nesses muitos anos de aprendiz. Sim, porque filhos são aprendizes. Com sorte, aprendizes de seus Pais. Se a Vida assim não permitir, aprendizes da Vida mesmo - que mais cedo ou mais tarde adota todos os filhos, de qualquer forma.

Não vou discorrer aqui sobre todo o riso, toda a serenidade, toda a eletricidade ou todo o amor que minha mãe imprimiu em mim em todos estes anos. Nem vou contar das lições de Humanidade pontilhadas nos meus dias desde sempre. Hoje, conto para vocês só do Exemplo Feminino.

Conto do tanto de mágico que foi ver, nos incontáveis dias de minha infância, aquela dona de casa se arrumando logo cedo: perfume, batom e vestido para o expediente de mãe e esposa.

Foi minha mãe que me ensinou, por exemplo, que perfume é algo que se passa porque é bom da gente mesma sentir o cheiro. Levou anos para eu perceber que a gota atrás da nuca nunca faltou.

Minha mãe, neste ano, faz 70 anos. E você pode chegar na sua casa a qualquer hora do dia que vai encontrá-la em lavanda e vestido. Os 40% de perda óssea que a Osteoporose roubou de seu esqueleto e os quase 50% de capacidade pulmonar que a Enfisema levou do seu fôlego a impedem de algumas coisas. Mas só algumas. Não consegue mais, por exemplo, curvar-se, depois do banho, para o ritual diário de lixa e creme nos pés.

Semana passada, meus pais vieram passar uns dias aqui em casa. E eu descobri que meu pai, aos 72 anos, cuida dos pés da minha mãe, com lixa, creme e conversa e, enquanto faz isso, leva nos olhos Lavanda.

Meu pai me doou muitas coisas nesses muitos anos de aprendiz. Hoje, eu contei para vocês só o Exemplo Masculino.

Janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

Ensaio sobre o “Não"

Acontece que o meu
Não
é um tantinho
subversivo

Tenho um
Não Saber
Curioso

E um
Não Poder
Imprudente

Meu
Não Ser
É criativo

E o meu
Não Querer...
Ah, o meu Não Querer...

Este
Só conhece o limite
da minha Vontade

Não, não é preguiçoso
o meu
Não Querer!

Só que o pobrezinho
apaixonou-se, há anos,
pela minha Vontade

Derrete-se todo
ao primeiro sorriso dela

É só a minha Vontade
olhar para ele
e pronto!
O meu Não Querer
vira "nãozinho"!

Pois é,
de todos os meus
Nãos
o que me dá mais trabalho

É este
Apaixonado
Não Querer!

Janeiro de 2010