Sobre Holofotes e Ampulhetas - o poema
Pensamentos podem ser ideias
já elaboradas na mente.
Convicções. Pretensões.
Conversas de você consigo mesmo.
Lembranças. Sonhos.
Objetivos. Invenções.
E tem também um tipo de pensamento
que está ali,
mas que não foi elaborado
ainda.
Algo que você sabe e reconhece,
mas que não quis (ou não pôde)
encarar por tempo suficiente.
Ora, quem é que,
por livre escolha,
vai ocupar a mente
com coisas conflitantes?
Problemas já existem
em quantidade suficiente todo dia
para que alguém ainda queira buscar,
lá no canto mudo do pensamento,
uma reflexão incômoda
para colocar no forno
e deixar crescer.
O problema é que Problemas
são pacientes.
Experimente ignorá-los.
Pegam uma cadeira,
cruzam as pernas, relaxam
e pacientemente te esperam.
Um dia você, vai ter que olhar para eles.
É uma questão de tempo.
E, um dia, o TEMPO também deixa
de ser um “tic-tac” que ecoa
muito discretamente
enquanto escorrem os anos…
e vira uma ampulheta sentada
na poltrona da sala te olhando.
Nesse dia, caberá apenas a você
escolher se olha de volta
ou não.
Então, enquanto o ponteiro do tempo
ainda é seu, experimenta
pinçar um ou outro
desses “quase-pensamentos”
para olhar de perto.
Mas cuidado.
Se vestirem palavra,
você terá que olhar de verdade
para dentro deles.
Ou de si mesmo.
(Flávia Côrtes - outubro de 2020)