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domingo, 4 de fevereiro de 2024

 Um domingo e um quintal. 

Há vida borbulhando no verde. A manhã escorre entre beija-flores que sobrevoam o jardim. Galinhas desfilam sobre o gramado. Os cães intercalam latidos, sonecas e carinhos. Um grilo de dimensões jurássicas exclama um espanto.  No fim da tarde, a sombra do limoeiro tece o muro qual renda estendida no varal.

Por hoje, meu mundo inteiro é este quintal.


Flávia Côrtes - fevereiro de 2024

terça-feira, 27 de setembro de 2022

 Dos amores e da vida.


Existem muitos tipos de amor. 

Nenhum deles é menos amor. 

E cada um deles será, 

com sorte e por escolha, 

construído ao longo da Vida. 


Uma paixão, havendo em dois

e por tempo suficiente, 

poderá tornar-se amor profundo 

e te tomar completamente 

por toda a vida. 


Há amizades que, ao longo dos anos, entrelaçam-se de forma tão irrestrita, 

que transmutam amigos em irmãos. 


Um filho constrói seu amor 

pela mãe e por seu pai 

cotidianamente. 


Será a partir da primeira voz, 

eco familiar no silêncio do útero? 

Será no primeiro toque que acolhe 

o grito ardente do primeiro sopro?  

Ou será em encontro inexplicável, presente predestinado dessa vida? 


Não importa como ou onde. 


Um vínculo de encanto, 

admiração e respeito, 

poderá unir dia-a-dia 

essa criança 

a este pai e a esta mãe.  


Havendo espelho, 

impregnará a todos. 

Família.


Todos amores.

Construídos ao acaso ou por escolha. 

Nenhum deles menos amor.


E, quem sabe um dia, te encontrará 

esse amor visceral e irrrestrito, 

terno e feroz… inesperado.  


Um dia, frente aos teus seus olhos, 

por escolha sua ou da vida, 

uma criança - seja bebê ou já crescida - poderá te olhar por dentro. 


Nesse instante, brotará no teu peito 

uma vastidão nunca antes vivida. 

Uma ternura irrestrita.  

E a força de um tufão. 


E a criança te plantará nos olhos uma luz

e te espalhará no rosto ternura 

e te colocará no sorriso um orgulho. 


Maternidade o nome disso.

Paternidade o nome disso.


Prepara-te.


Flávia Côrtes 

Setembro de 22

domingo, 7 de agosto de 2022

 Aurora Noturna


A tarde ainda se despedia 

colorindo o verde 

de um dourado poente,

quando ela ergueu-se

soberana e bela

no azul ainda celeste.


Os pássaros silenciaram

e o Sol recolheu-se tímido


enquanto a Lua 

reinventava a aurora

na tela dourada da tarde.


Flávia Côrtes 

Outubro 2022


sábado, 23 de julho de 2022

 Modo Pouca Energia 


Como faz para desligar 

essa praga de Subconsciente 

que roda em segundo plano

o tempo todo e todo dia?


Intermitente e independente,

sorrateiro e incansável,

interpela tuas decisões 

e te move ou empaca

ainda que você não perceba. 


Ninguém ainda descobriu

o modo Off Line 

para essa Entrelinha 

que mora atrás do pensamento 

em algum lugar anterior 

ao gesto. 


Relaxa. 

Não vai dar para bloquear isso.

Com ou sem você ter feito 

recarga completa da tua energia,

não vai ter trégua.


Ah, você não tem isso?

Meu amigo, o seu Subconsciente

então, é realmente Profissional.

Esse tempo todo, está aí

e você não viu?


Se, desde o primeiro choro,

nenhuma das tuas sinapses 

demandou platéia

para acontecer, 


acha mesmo que teu Subconsciente

precisaria te dar satisfação 

para assumir o leme

vez ou outra?


Vamos combinar assim:

O meu, eu chamo carinhosamente de “Sub”.

Vou chamar o seu de “Bond”. 


Se preferir, ignore-o.

Pode dar menos trabalho.

Ou não. 



(Flávia Côrtes - julho/22)

sábado, 13 de novembro de 2021

 28/05/2019


Hoje é seu aniversário. O dia em que celebramos a sua vida. O primeiro dia da nova década. E vim te contar o que você já sabe.


Amor da minha vida, Homem que eu amo,

meu Bem, Amorzinho, Vida, Paixão, Benzinho... você é todos estes e tão mais que isso. 


É você quem me cuida e protege simplesmente porque me sabe do avesso. 


Entende as minhas fragilidades muito antes que eu possa admiti-las para mim mesma.


Adivinha-me o pensamento quando este nem virou palavra dentro de mim. 


Meu companheiro e melhor amigo. Meu homem e meu cúmplice. Meu sempre namorado e meu marido para toda esta vida e além.


Te amo desde sempre e para sempre. 

Feliz Aniversário, amor.


Flávia Côrtes 

Maio de 2019










 Qualquer dia desses…

Podem chamar de amor à primeira vista.

Mas não amou, nada. Apaixonou.

Amor é outro departamento, 

em que não se aterrisa assim em um dia.


De toda forma, em um dia quase comum,

estará lá você de coração e corpo abertos

(mesmo que nem saiba disso),


quando, sem aviso e de repente,

te tomará completamente

essa chuva de hormônio e encanto

que sequestra o dia inteiro o pensamento, 

acelera sangue e respiração,

une o riso e o olhar, 

todo assunto interessa

e dá uma vontade imensa de ficar.


Se isso aí vai virar amor, 

já é outra história.  

Porque são duas as histórias.


Valores de dois - inclusive os diferentes.

Funciona, se alicerces não excludentes.


Hábitos de dois - inclusive os conflitantes.

Funciona também, 

se negociados os insuportáveis

e relevados os irrelevantes.


Opiniões de dois - inclusive as políticas.

Até pode funcionar, havendo respeito.

(Sem isso não ia funcionar nada mesmo).


Gostos de dois - inclusive os culturais.

Isso pode não apenas funcionar, 

como ser até bem divertido.


E se forem dois que se queiram inteiros,

e por tempo suficiente, 

qualquer dia desses… amor.


Só fica improvável se um amar ao outro 

bem mais do que a si mesmo. 

Ou a si mesmo, 

bem mais do que ao outro. 


Nem morando sozinho vai ser feliz assim.

Imagina resolvendo 

quem vai lavar o banheiro hoje.


Está bem… 


Então, os dois juntos

se amaram e se respeitaram, 

se apoiaram e se cuidaram, 

se divertiram e se aprenderam,

juntaram amigos e familiares

(os irritantes e os cativantes),

fizeram ambos terapia

e foram felizes para sempre?


Talvez.


Espera só que venham dias de luta, 

além dos de glória. 


Amaram-se e respeitaram-se

mesmo quando irritados ou cansados

e apesar do mau humor?


Uniram-se e encontraram 

algum riso e ternura,

mesmo descongelando geladeira,

apesar da louça interminável na cozinha,

até mesmo quando contas atrasadas

e com crianças gritando pela casa?


Bem, então, sim, 

os dias podem virar anos.

E os anos poderão ser, 

na maioria dos dias, 

felizes e risonhos.


Ô, sorte?

Não foi apenas sorte, meu amigo. 



Flávia Côrtes 

Outubro de 2021




(Para Everson, com quem a vida há mais de sete anos, segue encantada, ainda que nem sempre fácil.) 









 E a gente até se amava.


Por tanto tempo alistada

na batalha cotidiana,

nem percebeu.


Um dia viu-se só 

na trincheira.


E onde havia ombro

de repente, vácuo.


Poderia ter 

tentado mais,

insistido mais,

ter pedido mais…


… não soubesse, há tempos,

que amor que se pede 

provavelmente nem seja.  



Flávia Côrtes

Novembro de 2011


terça-feira, 2 de novembro de 2021

 Azul Revoado


Não parasse embaixo da goiabeira,

não a tinha visto gestando flor.


Nem a ele 

sereno e belo, 

flutuando estático no arbusto fino.


Passarinho azul pousado em arbusto 

não espera foto.


A imagem é impressa 

perene e bela na fotografia 

ou efêmera e linda na alma.


E agora que não tenho foto 

de passarinho azul?


Fotografia, 

desbota e perde.


Alma encantada,

de passarinho azul eterniza. 


Pausa ou passo também é escolha.


Flávia Côrtes

novembro de 2021

domingo, 12 de setembro de 2021

Dilemas antigos em tempos atuais. 

Conhece-te a ti mesmo

recomenda inutilmente 

o Oráculo ao viajante 

preguiçoso a ponto de simplório. 


Ouvir a resposta, aprendiz,

nem sempre é mais fácil

do que formular a pergunta.


“Pessoa, pessoa minha,

existe algo mais lindo?”

questiona o Espelho à Esfinge 

ocupada demais

em autofagia.


Espera-se, então,

antes que a sede e a fome

derrubem Narciso 

em frente ao reflexo,


que seja aceito o convite

recebido da Vida 

ao nascimento


para que jante e dance 

com sua própria 

fera.


Flávia Côrtes 

Setembro de 2021

domingo, 8 de agosto de 2021

 Só ainda que não sozinha 


É preciso fazer.

Tenho que resolver.


Nada de novo sob o céu.

Sempre foi assim.


Então, por que só agora

essa sensação horrível 

de isolamento em mar revolto?


Por que só agora

esse aperto no peito, 

enquanto a maré sobe?


Náufraga tantas vezes

de mim mesma,

já não me atiro mais 

à correnteza.


É que é preciso poder voltar

quando não se está só. 


Só não sei se isso ajuda.



Flávia Côrtes

Agosto de 2021

sábado, 19 de junho de 2021

 Dicotomia da Palavra


Diga lá… diz aí.

Conta, vai.


Ou não.

Quem sabe melhor não?


Quem sabe melhor?

Quem se sabe?


Mas alguém, 

realmente,

se sabe afinal?


E se dizer ou não dizer

é uma questão, 

o que dizer, então, 

desse dicotômico dilema 

do auto-conhecimento?


No princípio era o Verbo”


E, se qualquer palavra tem força,

com que força ecoa a tua

dentro do teu pensamento?


Subtraia o Verbo na aurora da ideia.

E que assim não seja. 


Dá certo, sabe? 

Por um tempo. 


Ou, então, faça da palavra lupa

e se permita desvendar 

o mistério dessa Caixa Preta

naufragada no fundo do cérebro.


Mas saiba que toda palavra-lupa

também é uma palavra-chave.


O que traz mesmo por dentro 

essa tua Caixa, 

Pandora? 


Comporta aberta. 

Descoberta.


Ou, quem sabe, 

avalanche. 


Mas, abrindo ou trancando,

o fato é que existe 

dentro daquela caixa escura 

uma força 

daquilo que quis ser 

e que você não deixou. 


E o resultado virá.

Reação ao invés da Ação. 


Subconsciente.

Um cretino que todo mundo tem

em algum canto do cérebro.


Acha mesmo que ele ia deixar barato,

Pandora, tanta coisa trancada 

dentro dessa Caixa? 


Dizer ou não dizer.

Ser ou não ser.

Perceber ou ignorar.


A Vida é feita de Escolhas. 

Livre arbítrio. 


E ninguém disse que isso seria fácil. 



Flávia Côrtes 

Junho de 2021