Arquivo do blog

domingo, 9 de outubro de 2016

Equações

Publicada a descoberta!
Divulgada a fórmula!

A Felicidade mora 
na equação

da Expectativa 
com a Realidade.

A receita parece simples.
E há quem diga que funciona.


Tudo se resume na questão
de calibrar a própria 
expectativa.

E, já que a realidade 
nem sempre
te pertence,

a expectativa
pelo menos
é toda sua.

Espera mais do que existe?
Infelicidade certa.

Espere menos ou não espere
e viva feliz.

Isso até poderia funcionar bem.
E, quem sabe, na imaculada teoria
até funcione.


Já em gente viva, eu não sei…

Cadê o botão 
de liga e desliga?

Matemáticos que me perdoem.

Prossigo acreditando
que precisa é mesmo
de um bocado de coragem
para ser 
feliz.

(Flávia Côrtes - outubro de 2016)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Mosaico

Foram tantas noites
tentando conter na moldura
os estilhaços deste mosaico
que um dia foi espelho

que nem eu mesma
me reconheço mais
neste quase reflexo.

(Flávia Côrtes - agosto de 2016)


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Majestade

A floresta estendia
majestosa
um manto verde
sobre a montanha.

O sol coroava
em púrpura
o horizonte.

Enquanto eu,
em reverência,
admirava
o poente.

(Flávia Côrtes - Agosto de 2016)

terça-feira, 5 de julho de 2016

Quando o que falta não é lacuna.

Tem época na vida
em que tudo está bem.

Pelo menos tudo o que pode
ficar bem.

Não estou discorrendo aqui
sobre o preço do feijão
ou a situação política do país.

Falo da equação cotidiana.

Está tudo bem em casa.
O trabalho vai bem.
Estão bem todos os amigos.
A saúde está em dia.
E vai bem a família, obrigada.

Então,
que falta é essa?

É que nem sempre
bem
é igual a
bom.

E a vida
precisa ser gostosa.

Sinto dizer
que não tem receita de bolo
para isso.

Quando o que falta
não é lacuna,
talvez nem seja o caso
de incluir
onde o excesso
já atordoa.

Em hora cheia
não vai caber
mais ponteiros.

Experimenta
esvaziar um pouco.

Até em elevador
antes de entrar
precisa esperar
a saída.

A arte de incluir o que falta
não precisar excluir
o que te completa.

Algumas vezes,
basta organizar
gavetas.

O que não tem utilidade
há mais de cinco anos
só precisa ser guardado
se te emociona.

Abre espaço.
A vida faz o resto.

(Flávia Côrtes - Junho de 2016)

terça-feira, 21 de junho de 2016

Engavetamentos.

A vida, às vezes, ganha,
sem aviso prévio,
outra dimensão.
(A vida, aliás, tem mania disso...)

Estado de sítio é pouco.

Um leão por dia?
Ou doze trabalhos
antes do meio dia?

Mas a gente se adapta.
A gente sempre se adapta.
(Gente, aliás, tem mania disso...)

E acaba que, nessas horas,
é que a gente descobre

quem
alinha ombro,
arregaça mangas,
empresta presença
e ouvidos

sem que seja necessário
bradar reforços.

E há quem se importe
com as almofadas.

(Flávia Côrtes - dezembro de 2015)

terça-feira, 14 de junho de 2016

Altos e Baixos

A arte pode ajudar
a fazer deste ioiô
roda-gigante.

Quem sabe
o que pode acontecer
se você desapegar da linha
e escolher ser carretel.

A bailarina sabe
que fixar o olhar,
um ponto a cada giro,
clareia a mente da tontura
e a preserva da queda.

Até descidas têm horizontes.

(Flávia Côrtes - junho de 2016)


domingo, 12 de junho de 2016

Mistérios sobre a Alegria

Eu sempre fui uma Pessoa Alegre
daquelas que encontra a própria Alegria 
todo dia.

Alegria de Pessoa Alegre
surge do nada,
sem convite ou aviso,
uma ou algumas 
vezes ao dia.

Porém, dia desses, eu percebi,
um tanto curiosa,
que anda meio sumida
a minha Alegria.

Não é que não venha 
nunca.

Mas tem se comportado 
assim como um filho 
que há pouco saiu de casa.

Aparece para almoçar
aos domingos,
nunca falta 
em aniversários
e lembra de datas 
comemorativas.

Mas não percebe a falta que faz
quando não liga todo dia
ou não acha um tempo 
para aparecer sem aviso
só para um café 
e algumas risadas.

Confesso que levei um tempo
para perceber a ausência
da minha Alegria.

Isso porque eu não ando triste.
Ando, aliás, bem feliz.
Todo dia eu sou Feliz.

Surpreendente isso
de perceber 
que a Felicidade pode existir 
dissociada da Alegria.

Custei para entender o motivo:
Cansaço Extremo.

Até para ser feliz, 
a pessoa precisa 
de energia.

Falta hora no dia.
Mas, ainda assim, 

é tempo de apagar as luzes mais cedo.

(Flávia Côrtes – Junho de 2016)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sinfonia

O ruído
continuo e permanentemente
do motor subindo a serra
se misturava a outros sons.

Um trepidar de vidros
das janelas.

As conversas paralelas
das gentes
que iam ou voltavam
de algum lugar.

Olhos fechados
aguçavam ouvidos
que brincavam
de separar e unir
os sons.

Apitos
pediam
paradas.

Um ou outro motor
ultrapassava.

A intenção era sono.

Mas o destino
poema.

(Flávia Côrtes - junho de 2016)


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Embarques e Desembarques

O problema de você
ficar tempo demais
esperando um ônibus
que não vem

é que vai dando
uma vontade danada
de pegar o ônibus errado.

Talvez nem seja um problema,
se o seu destino
não tem hora marcada.

Talvez seja até divertido,
se o caminho for bonito
e você se permitir
o passeio.

Algumas voltas a mais
podem te fazer bem,
se você souber atentar

ao tempo certo
do desembarque.

(Flávia Côrtes - maio de 2016)



terça-feira, 26 de abril de 2016

O arco-íris e o ônibus

Dessa vez, eu não parei
para olhar o céu.

Estava muito quente
e uma lufada de vento
me interrompeu os passos
e levantou o rosto.

Coisas de um verão em maio
sem ar condicionado.

Quando eu abri os olhos,
ele estava lá.

Sempre achei que arco-iris
só se ocupasse de horizonte.

Mas este
desafiava rótulos
e preenchia soberano
o meio do céu.

Perdi o ônibus.

Mas você tem que estar disposto
a perder um ônibus ou dois

se quiser ver todas as cores.

(Flávia Côrtes - Abril de 2016)


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Laranja em Flor

A caminho de casa,
eu devia estar ocupada.

Focada em problemas.

Os muitos.
Os tantos.

Casa, Trabalho, Dinheiro,
Família, Amigos,
País…

Falta dia no dia.

Certamente, eu deveria
ocupar-me dos problemas.

Mas tem esse meu olho reparador
que pousou
no laranja da flor.

Laranja de Flor
esvazia pensamento mais rápido
que vento forte desanuvia céu
em dia de verão pleno.

Pensamento,
uma vez vazio,
enche a gente
de forma tão completa
que não dá mais

para se ocupar assim
de burocracias,
polêmica
ou tristezas.

Não é nem
que eu não queira.

Acho até que deveria.

Mas falta espaço
na alma florida.

Por hora.

(Flávia Côrtes - Abril de 2016)