Bunker
Aquele poderia ter sido
um mês comum
em um ano a mais.
Poderia.
Fomos, porém,
surpreendidos todos.
Compulsoriamente alistados
em batalha invisível.
Subitamente aprendizes
de uma rotina futurista
que converteu os dias
em uma quase ficção.
Com sorte,
sala vira escritório.
Quarto, academia.
Mesa de jantar, sala de aula.
E prosseguimos.
Compras à porta.
Pacotes ensaboados.
Maçanetas ensaboadas.
Galões de água ensaboados.
Mãos ensaboadas.
Vidas, nem tanto.
Entrincheirados,
equilibramos como podemos
orçamento e ansiedade
em busca da vida normal.
Ou, pelo menos,
de algo que nos mantenha,
prioritariamente,
vivos.
Flávia Côrtes
Março de 2020
(Caso alguém me pergunte daqui há 20 anos como passamos pela Pandemia de 2020)