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terça-feira, 4 de dezembro de 2012



Pudim de Leite

Algumas coisas para sempre vão lembrar meu pai.

Abraços de olhos fechados.
Meu pai dizia que "beijo só tem valor com abraço".
Pedia abraço.
E abraçava de olhos fechados.

Gargalhadas.
Seu riso enchia uma sala.
Não, na verdade, seu riso enchia uma vida.

Citações.
Não sei se ele sabe disso, mas suas palavras ecoam em mim o tempo todo.
Perco a conta de quantas vezes eu penso ou digo: "meu pai dizia..."

Perfume.
Não era nem o cheiro do perfume.
O perfume vende em perfumaria.
Era um cheiro amadeirado misturado com o do cigarro que ele "não fumava".
Eu não sei explicar.
Era um cheiro de pai.

Pudim de leite.
Não que ele soubesse fazer.
Mas ele sabia comer.
Dava gosto de ver meu pai comendo pudim de leite.

Fazia isso como fazia todo o resto.
Com gosto.

Eu não sei como terminar este verso.
Aliás, eu nem sei se isso é um verso.

Acho que é só uma saudade
que escorreu
como calda.

Uma saudade doce.


(Flávia Côrtes - Dezembro de 2012)