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terça-feira, 29 de junho de 2010


E

E adormeceu em teu verso
para amanhecer poema.


Devaneios pela Palavra
Junho de 2010

Grafites Espelhados


O contorno insinua
Mais que mostra

Nuances de um
no esboço do outro
Espelho refletido
terra olhando terra

Estranhos hábitos
sussurrados
varandas descobertas
sabores que atraem o olhar
cheiro de papiro no ar

A palavra
sobreposta
no átimo

Será que percebeu
que fez de mim Psiquê?

Junho de 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010


Se eu quisesse te provocar


se um dia eu quisesse te provocar
te dava um beijo
na curva do queixo

daqueles que só roça
lábio
de leve
na pele

e que segue
um suave
roçar dos dentes

mas isso...


só se eu quisesse
te provocar

Junho de 2010

sexta-feira, 25 de junho de 2010


Artífice

Qual artesão,
esboça a minha vontade,
desenha o meu desejo,
esculpe o que eu quero.

Maestro,
rege meus suspiros,
compõe meus arrepios,
me descompõe.

Pintor das minhas nuances,
mergulha as mãos em minhas tintas
e faz de mim
tela branca de ti.

Diretor do desatino
coordena nossa loucura.
Me faz personagem,
desnuda em tua cena.

Cineasta de um filme
inédito de nós dois,
me olha como quem sabe o final.
E eu que nem vi o início.

Dançarino que me conduz
em ritmo que é só nosso.
Me enlaça e me leva,
bailarina em teus abraços.

Poeta
da palavra que eu não disse,
do canto que me seduz,
do verso que eu mais quero.

E eu aqui,
criadora
e criatura,
vejo no ar
as imagens do que dissemos,
as figuras do que pintamos.

Nossas cenas,
nossas cores,
se condensam em mim.

E me deixam aqui exposta
em poema de nós dois.



(Flávia Côrtes - Junho de 2010)
www.poetaflaviacortes.com.br
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.
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Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
Maiores informações: contato@poetaflaviacortes.com.br
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quinta-feira, 24 de junho de 2010



Pergaminho


Manuscrito de vontade
impressa no tempo
timbrada por dentro
publicada nos olhos

Desejo antigo
impregnado
em cada poro
reescrito em teus versos
destino dos meus

Caminho que não se sabe
desenhado
em cada passo
descoberto em meus versos
início dos seus

Pergaminho
Do que não sabemos

Ainda

Junho de 2010

Sintonia


Me olha como quem sabe
me escreve como quem quer
me diz como quem pode

Mostra
Seduz
Conduz
Traduz

Na mesma cadência
palavras encontradas
pensamentos perdidos
Sintonia

Junho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010


Dueto do que te leio


Ah, poeta
Se minha é tua poesia
E meus são os teus versos
O que dizer desse encanto
Que me invade
Olhos, peito e pensamento
E derrama
Verso nu em papel branco
Espelho do que me mostra
Vontade do que me diz
Dueto do que te leio
Então me conta
Poeta
E esses versos que escrevo
Agora
São de quem?

Junho de 2010
(esse poema nasceu depois de ler um lindo texto do poeta Mário Roberto Guimarães. Quem puder conferir o texto, e encantar-se como eu, é só checar o link:http://recantodasletras.uol.com.br/sonetos/2336095


segunda-feira, 21 de junho de 2010


Que nada... que bom!


Ah, minha amiga,
não estranha isso, não
Que é assim mesmo
Esse nada!

Aproveita o nada, querida.
Hoje, nada é bom!
Porque ontem
foi tanta dor...

E eu te trago a boa nova!

Quando a gente acorda
assim vazia
cheia de nada

E se sente
como quem, subitamente,
se livrou de uma dor de cabeça

E até estranha...
acostumada que estava
com a dor

Ah, querida,
esse nada
É porque passou, sabe?

Depois disso
mesmo que demore

mais dia
menos dia

os dias
se enchem
de luz
de novo

Então,
aproveita, querida,
esse momento
silencioso
e calmo
que a noite nos presenteia
antes da alvorada

Se aconchega
no edredom de si mesma

Abre os olhos
Deixa o ar encher o teu peito
E se prepara

O sol vai chegar.


Junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010


Destemperada


Entre um beijo doce
E outro pimenta
Me prova
O que eu não sabia
E o que eu já queria

Me destempera
Quero mais!

Junho de 2010

Oferecida

Teu toque converte
Sussurros
Em mantra

E me deixa assim

Relicário
De ti

Entoando
Desejo
Em eco

Redimida
Pervertida

Santa
Profana

Nua
Oferenda

Recebe-me!

Junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010


Olhos


Ah, esse seu olhar
devia ser proibido
na verdade, devia ser permitido
pensando bem, devia ser obrigatório!

Junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Desidratada


Uma poeta disse
que saudade
é como sede
que só se mata
com a presença

Então

Estou
desidratada
de ti

Tenho sede!

Junho de 2010

Então digo


Você diz
Que não digo
E eu te digo
Que disse

Você diz
Que não sabe
E eu te digo
Que sabe

Porque
O que digo
E repito

Em cada verso
Em cada linha

Não te digo
Em palavra

Então
Te peço

Me olha
Me vê
Me aprende
Me lê

Pronto
Disse!

Junho de 2010


Foto de uma mulher perdendo o sono


Ruim de dormir cedo demais era isso. Abriu os olhos e deu um suspiro. Olhou as horas no celular. Noite ainda. Pela janela, o dia contava que ia nascer dali a pouquinho. O céu começava a perder noite... as beiradas ganhando cor e o miolo clareando. Se enrola no edredom e se leva descalça para a varanda para ver dia desabrochar. Fechou os olhos e deu um suspiro. Bom de dormir cedo demais era isso.


Devaneio pela Palavra
Junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010



Teu olhar perverte meu lado santa

Impensadamente sabendo
Insensatamente buscando
Indecorosamente permitindo
Deliciosamente descobrindo
Teu olhar perverte meu lado santa

Junho de 2010

Versos que me reconhecem mulher

Te leio
E te escrevo

Desarticulada
Pensamento intercalado
Entrelaçado
Misturado
Em verso
Em sensação

Verso que ecoa em voz
Voz que tremula em verso
Labareda

Pensamento
que toca
que envolve
que prende
que solta
que fita
denso
desnudo

Transpiro-te
Em versos
Que me reconhecem mulher

Junho de 2010
Uma semana sem escrever

Escrevo como quem respira, suspira, inspira, transpira... uma semana sem me derramar em papel é algo como prender a respiração por tempo de mais

Junho de 2010

Do meu eu que não é lírico

Saibamos, então
Do eu que não é lírico

Mas, olha,
Vai ter que descobrir

Às vezes
Nem eu
Sei tanto assim

Lírico
ou não lírico?

Um e outro
Um sem o outro
Um por dentro do outro
Depende tanto!

E se você já vê
Em uma única entrelinha
Tanto

E você já lê
Na palavra que eu não digo
Meu desalinho

E ainda nem me viu não lírica

Ou será que viu?

Junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010


Desperta com teu verso

Durmo
E o sono ainda me abraça

Muito longe
Um verso
Um sussurro

Uma cantiga
Que embala

Uma pétala
Que desliza

Suave
No pensamento

Durmo
E o verso ainda me embala

Manhãzinha
Luz do dia
Desperta

Olhos vagarosos
Descobrem

Teu poema no travesseiro

Junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010


Borboletando

Voos aos olhos
que molho
em cores.

Versos
que adentram versos,
palavra sobre palavra,
amores em letras.

Borboletas
meu pensamento
poeta.

E voo.



Junho de 2010

Meu agradecimento ao meu amigo Da Montanha, pela inspiração e pelos versos que podem conferir em http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdealegria/2306808

O Homem que Via Versos

Primeiro eu vi
O homem que dizia versos

Encantadores os versos
E o homem que dizia versos

Depois eu vi
Os olhos
Do homem que dizia versos

E aí
Eu vi
Um Homem

E o Homem
via versos

Junho de 2010


domingo, 6 de junho de 2010


Entre Lençóis


Entre lençóis
A qualquer hora
Há qualquer tempo

Sobre ou sob
Vira por dentro

Mais ou menos
Vira tanto

Nunca ou quando
Vira ainda

E se
Vira certeza

Junho de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Era uma vez um gato amarelo


Ela não desgostava de gatos. Também não gostava especialmente. Um dia, por capricho da vida, ficou com a custódia de um. Tinha nome de iogurte. Foi a primeira vez, depois de adulta, que precisou cuidar de uma coisa viva. Parecia fácil. Água, areia e ração.

Ele não se incomodava com os horários dela. Era carinhoso sem ser grudento. Percebia seus humores... deitava sobre o seu peito quando estava triste - coisa freqüente naqueles dias. Tinha os tempos dele... sumia de vez em quando. E, às vezes, ficava imóvel olhando o ar como se houvesse alguma coisa que só ele via. A ponto dela dar risada e perguntar se ele também escrevia.

Esteve com ela por dois anos. E isso já tem alguns agora.

Custou um bocado para perceber que aquela também foi a primeira vez, depois de adulta, que permitiu que cuidassem dela.

Junho de 2010