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domingo, 31 de outubro de 2010

Pedidos ao Vento

Você chegou
sem me contar que vinha
Entrou em meu mundo
como quem sabia

E eu me vi
te dizendo os versos

E eu te vi
soltando as rédeas
das tuas palavras

Me alçou pela mão
até uma nuvem-lenço

E me olhou por dentro
me adivinhando
sussurros d’alma

E me mostrou o seu mundo

estranhamente igual
e, por isso mesmo,
não estranho

Me convidou a entrar

Como não entrar?
Seria como pedir ao vento
para não ventar

Outubro de 2010

Meu verso voltou prá mim

Adivinha quem voltou prá casa hoje?
Meu verso.

É incrível É só eu voltar a ter atividade poética que ele volta.

Vou a uns saraus, volto a ler, recomeço a me corresponder com os amigos, volto a ligar para as minhas pessoas no caminho do escritório, levo meus sobrinhos para passear, saio prá dançar, vou ali namorar um pouquinho, encho a casa de música, me dou uma ou outra manhazinha de pensamento solto... E pronto: ele volta prá mim!

Agora, deixa eu começar a trabalhar umas 13, 14 horas por dia... trabalhar uns fins de semana direto... parar com tudo isso que me faz bem... Ele logo me olha como quem diz... "ou você para com isso ou eu vou embora, sua chata". Primeiro some uns dias. E, se eu não tomar cuidado, pode me deixar por semanas! Acredita numa coisa dessas?

Dessa vez foram duas semanas inteiras! Aí, me enviou dois poeminhas no fim de semana passado... e mais uma semana inteira desaparecido! Pensei comigo: “ ai.. ai... já retomei tudo o que o verso gosta... porque está se fazendo de difícil?”

Bem, hoje é domingo. O dia preferido do meu verso.

Acordei cedinho e fiquei ali olhando a manhã, com pensamento solto. Li um tantinho e, quando olho para o lado, está ele ali, olhando prá mim com cara de quem nunca saiu.

E eu?

Devia fazer doce... devia brigar com ele. Sumir desse jeito! Tanto tempo sem dar notícia! Isso não se faz! Devia ter dado uma dura nele! Ignorado um pouco. Mostrar quem é que manda aqui!

Devia... ah, eu devia... Só que eu estava com tanta saudade. Não deu! Meu verso me olhando daquele jeito que só ele me olha. Não deu prá fazer outra coisa senão também olhar para ele. Ficamos ali nos olhando em silêncio...

meu verso e eu
sorrisos nos olhos
eu esperando...
até ele me rodear
e transbordar em papel

Juro que ouvi um sussurro...
"Boba... achou mesmo que eu não voltava?"


Outubro de 2010
Mudança

Pode dar trabalho
E dá

Mas tem algo mágico em mudanças
A sensação de colocar uma caixa imensa no meio da sala
E ir jogando fora

Se livrando de tudo o que é excesso
Tudo o que não use há mais de um ano
E que não ame

No início, com alguma pena

Um vestido tão lindo
Que você não usou
E nunca vai usar

Discos arranhados
Louças lascadas
Copos trincados

O dia em que ele não ligou
E nem você

A briga que teve com o seu melhor amigo
Por bobagem

As semanas que ficou sem falar com o seu irmão
E nem se lembra mais por que

Maquiagem fora da validade
Perfumes que você ganhou e não gostou

Tudo para fora
Da sua vida

Aí, é fechar a porta
Um último olhar nos cômodos vazios
E porta trancada

Mas divertido mesmo
É chegar lá do outro lado!

Janelas abertas
Sem cortinas

Tudo seu em caixas
Organizadas
Numeradas
Etiquetadas

E, ainda assim,
Abri-las
Como quem abre presentes

Redescobrir-se!


Outubro de 2010
E é só.

O caso é que o poeta
não se intimida
com o apenas
e tampouco em estar só
Na verdade, quase que precisa.

Talvez por isso
entre viver e não viver...
Irresistível atração da luz sobre a mariposa
Inevitável o viver

O impossível é não viver!

Outubro de 2010