No poente de um dia
desenhado em uma noite,
movimentos opostos
de nuvens e aves
prendiam o olhar
na beira do cais.
Nuvens brancas esfiapadas
corriam velozes na direção do vento.
Abaixo delas, negras gaivotas em bando
voavam em sentido oposto.
E se o vento pastoreava as nuvens,
desafiavam as aves a ventania.
Eram como peixes corredeira acima.
Os movimentos contrários
de nuvens e aves
em flocos e asas,
o preto no branco,
confundiam o olhar
numa suave vertigem.
Deitada na madeira quente do cais,
uma poeta sonhava versos.
Nuvens passando horizonte abaixo,
aves passando horizonte acima,
pensamentos em sumidouro:
passavam como tudo passa.
Acordada,
transcrevo os versos sonhados
e percebo.
Nem tudo passa.
Tudo pode passar.
Mas, se verdadeiro e forte,
levamos por dentro
para sempre.
Impressos por trás da retina
assim como um sonho.
Tatuados na alma,
assim como um poema.
Como esse
que eu transcrevo agora.