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quarta-feira, 29 de maio de 2013


Sonho de uma noite de outono

No poente de um dia
desenhado em uma noite,
movimentos opostos
de nuvens e aves
prendiam o olhar
na beira do cais.

Nuvens brancas esfiapadas
corriam velozes na direção do vento.

Abaixo delas, negras gaivotas em bando
voavam em sentido oposto.

E se o vento pastoreava as nuvens,
desafiavam as aves a ventania.
Eram como peixes corredeira acima.

Os movimentos contrários
de nuvens e aves
em flocos e asas,
o preto no branco,
confundiam o olhar
numa suave vertigem.

Deitada na madeira quente do cais,
uma poeta sonhava versos.

Nuvens passando horizonte abaixo,
aves passando horizonte acima,
pensamentos em sumidouro:
passavam como tudo passa.

Acordada,
transcrevo os versos sonhados
e percebo.

Nem tudo passa.
Tudo pode passar.

Mas, se verdadeiro e forte,
levamos por dentro
para sempre.

Impressos por trás da retina
assim como um sonho.

Tatuados na alma,
assim como um poema.

Como esse
que eu transcrevo agora.


Flávia Côrtes - Maio de 2013