Arquivo do blog

terça-feira, 31 de julho de 2012

Só para constar...

Só para contar,
a lua está linda.

Só que hoje
ela se enfeitou de nuvens
e se mostra devagarzinho
para quem tem paciência.

Assim como uma mulher
que deixa escorregar o xale do ombro
a lua hoje se mostra.

Mas só para quem tem paciência.


(Flávia Côrtes - Julho de 2012)




segunda-feira, 23 de julho de 2012

Incendiária

Vã tentativa 
de controlar
o incontrolável.

Foi como fogo contido
por toras organizadas 
na fogueira.
Ainda assim consome.

E alguém achou mesmo
que não consumiria?





Cantiga

A rede verde, 
suspensa no ar,
movia-se de forma 
quase imperceptível.

Quem observasse,
as diria imóveis.

Tanto a rede
como a poeta dentro da rede.

A rede mantinha 

uma cadência suave
como uma respiração.

A poeta estava ocupada
ouvindo o silêncio.
O ar frio trazia 
esboços de sons.

Um pé de vento remexendo folha.
Uma criança brincando com um pato.
Uma bicicleta estalando a grama.
De vez em quando,
o apito de um trem
transportava a um tempo
em que só se chegava à fazenda
por trilhos.

Enquanto a tarde
pedia silêncio ao pensamento
e embalava a poeta,
a rede suspirava

num sono
profundo.

(Flávia Côrtes - Julho de 2012)

www.poetaflaviacortes.com.br


Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.



======================================================
Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
Maiores informações: contato@poetaflaviacortes.com.br
======================================================


Paisagem

Havia dois caminhos.
Mas o olhar,
ao invés de imaginar destinos,
se detinha 
em árvores.

É que eram tão verdes
as árvores.

Julho de 2012

















Poema Verde


A árvore era muito antiga.
A ponto de eu ter que envergar-me
para admirar a cabeleira altiva
suspensa duas dezenas de metros acima de mim.


O enorme tronco de textura enrugada
dividia-se em dois
pouco acima da linha do meu olhar.


Havia decidido ser duas aquela árvore.

Os galhos grossos eram cobertos
por uma delicada folhagem tricotada.


A folhagem, se um dia parasita,
tomou-se de tal amizade pela árvore

que ficou ali
a aquecê-la e enfeitá-la.

Da ponta dos galhos laterais,
derramava-se como um xale

que a árvore, vaidosa, sustentava,

enquanto me dizia o poema

que aqui eu transcrevo.


Ao seu lado, uma árvore menor crescia à sombra.
E os galhos das duas,
em alguns pontos, se misturavam,
em um silencioso e terno dar de mãos.


Sentei-me numa pedra branca
que alguém,

em algum século,

colocou abaixo da árvore-poema.


Não sei quanto tempo ficamos ali as cinco.

Eu,
a pedra que era branca,

a árvore que era duas,

a folhagem que era xale

e a árvore que era menina.


Talvez o tempo de um poema.

Talvez o tempo necessário
para que eu pudesse levar

por uma vida

a beleza daquele instante.



(Flávia Côrtes - Julho de 2012)www.poetaflaviacortes.com.br
Nota da Autora:


Este texto germinou em mim em uma semana que passei no Hotel Fazenda Villa-Forte, um lugar mágico, repleto de história e com uma paisagem que transborda dos olhos direto para a alma.

Eu poderia escrever dezenas de outros poemas e não conseguiria contar como é lindo o lugar. Então, é melhor vocês conferirem tudo no site deles:
http://www.villa-forte.com.br










quarta-feira, 11 de julho de 2012



Provocações

O olhar trazia uma afirmativa
que me isentava da resposta.

O que eu lia nos teus olhos
me fazia baixar os meus.
 

Eu que sempre soube sustentar olhares .

A recomendação 
era seguir pelo caminho do meio
para não perder o equilíbrio.

Logo a mim, 
a quem encantam extremos.

Tinha uma lua amarela no céu
e a tua lembrança
me provocava 
verso.

Não era para te provocar
mas te saber provocado
sempre me deixa
provocante. 

Se isso não fosse um poema
e eu estivesse sob os teus olhos,
provavelmente,
não diria tanto.

Mas, como páginas brancas
não ruborizam,
eu verso.

(Julho de 2012)

segunda-feira, 9 de julho de 2012


Equilíbrio

A recomendação era seguir pelo caminho do meio... assim, seria mais fácil não perder o equilíbrio.

Mas logo a mim, a quem encantam os extremos?


(Devaneios - Julho de 2012 - caminhando pelas ruas de pedra de Paraty)

Para Ti


Ontem eu me apaixonei.
Perdida e inesperadamente.
Não que haja outro jeito de se apaixonar.


Não sei precisar o minuto exato.
Mas quem saberia?

Só sei que cheguei.
Era tarde. Mais tarde do que eu pretendia.
E a cidade inteira convidava ao verso.

Levou o tempo de um sorriso
para o caminho se vestir
de amarelinha rumo ao céu.

Na praça da matriz, lampiões acesos entre as árvores
acolhiam canções entoadas na esquina.

Uma lua pálida
me olhava pela fresta de uma árvore.

E eu me vi apaixonada.
Nem vi tudo ainda... e apaixonada.

Como cabem às paixões.

(Paraty - Julho de 2012)