Dia desses, uma amiga cobrou-me explicações sobre as minhas incoerências. Difícil resposta essa. É mais umas daquelas coisas tão complicadas de explicar que fujo da resposta com um sorriso. Cansa-me um pouco explicações antecipadamente incompreendidas. Prefiro guardá-las comigo.
É que tem a questão da intensidade. E tem a coisa da vontade.
Não sei viver as coisas de outra forma que não seja muito. Faço intensamente. Vivo inteiramente. Sofro profundamente. Meu riso não é metade. Meu choro não é contido. Se me fecho, eu tranco. Se me abro, eu mostro. Eu me permito. Me perco na minha vontade e nela também me encontro. Meu gozo é onda.
Tem sempre um sorriso chegando ou saindo. Ou, então, grudado nos olhos. Mas vivo as minhas tristezas. Plenamente. E, às vezes no mesmo dia, as guardo.
Eu choro a minha lágrima para fora. Se você nunca viu é porque preciso de privacidade para chorar. Preciso de liberdade para me derramar. Irrita-me um pouco esse ímpeto que as pessoas têm de secar a lágrima e interromper o pranto. Se um dia eu chorar na sua frente, não me consola, vai. Ou chora comigo ou, então, me abraça. Mas me deixa chorar.
Eu acho sempre com muita propriedade. Coerente, articulada, decidida, equilibrada. Não fosse a vontade... nem sempre o que eu quero é igual ao que eu acho.
Decido que espero você me ligar. E espero. Até a vontade de ouvir a sua voz me fazer quebrar o protocolo. E quebro. Acho melhor não te contar de mim. E não conto. Até você me olhar por dentro, desse jeito que você faz, e me dar essa vontade de te dizer. E digo. Resolvo que não faço. E não faço. Até a vontade me encontrar de novo. E faço. Sei que é melhor não te deixar ir além. E não deixo. Até a vontade chegar de mansinho. E peço.
A dupla face não é máscara. É o meu avesso. Mas sou eu.
Julho de 2009