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domingo, 28 de fevereiro de 2010


Fim de tarde desenhando temporal.

Gosto de assistir da varanda. Arrasto poltrona da sala e fico ali... quase deitada.. vendo nuvem baixar e desenhar floco cinza no céu branco.

Fecho os olhos e espero.
Espero vento esfriar e sussurrar ventania por entre as folhas... ventar pingo d’água na pele e brincar com o meu vestido.

Espero o céu desabar em água e a noite cair sobre a tarde. Espero raio rasgar noite e iluminar retina.

Experimenta, um dia.
Assistir temporal.

Fevereiro de 2010

Não me pergunta meu sempre

Logo a mim
Que desconheço meu nunca
Que ignoro meu como
Que brinco com meu se
Que permito meu quando
E não me importo
Em saber por que

Fevereiro 2010

E se moveram em contraste e espelho
Encontro e descoberta
Certeza e surpresa
Intimidade sem tempo
Tempo com intimidade

Fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Pesadelo de poeta... dias mudos.


Devaneios pela Palavra
Fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010


Dueto de Contos: Eu tive duas avós... igualmente lindas e completamente diferentes...


Primeiro Texto

A minha Vó Didina era uma avó com nunca se viu antes uma avó.

Alta, sempre bem arrumada, cheirosa, nunca ninguém a viu sem um batom vermelho nos lábios e um sorriso nos olhos. E o sorriso que aqueles olhos traziam era um sorriso de quem está se divertindo com a vida.

Minha Vó Didina morava em um apartamento numa cidade pequena na serra e eu passava as férias de julho com ela. E foi aninhada na cama dela, entre colchas de lã, que eu ouvi estórias de um tempo em que as mulheres não se separavam e não trabalhavam.

Era uma avó cultural. Com ela, conheci circos e cinemas. Fui a parques e a restaurantes. Descobri livrarias. Em sua casa, havia um quarto com uma estante imensa, com livros de todo tipo e assunto. E eu me perdia ali por horas, olhando as lombadas dos livros e lendo trechinhos antes de resolver o que queria ler... assim como quem prova sorvetes. Vem daí o jeito que eu escolho livros até hoje.

Era uma avó musical. Sua casa era cheia de sons. Sempre tinha alguém conversando e rindo na sala e o ar se enchia de música desde a manhã. Foi com ela que eu aprendi a dançar. Quando eu era bem menina, ela colocava os meus pés sobre os dela, me segurava pelas mãos e dançava comigo pela sala, me dizendo para fechar os olhos e deixar a música passar pelo corpo... dizia que a música sabia o caminho. Vem daí o meu gosto de dançar de olhos fechados, enquanto o som percorre o corpo e me leva junto com ele.

Minha avó tinha um namorado. Namoraram durante 50 anos e era bonito ver o carinho dos dois juntos. 50 anos depois, ele ainda escrevia poemas de amor em caneta vermelha para ela. Uma vez perguntei por que não se casavam. Ela me olhou com um olhar sábio e me disse, com um quase sorriso nos lábios... “querida, você já viu como ele me trata?... quando a gente casa, a gente é que cuida deles”.

Ela era uma mulher à frente de seu tempo, separou-se nos anos 50 em uma cidade pequena e foi trabalhar para criar 4 filhos. Mas não era isso o que mais me impressionava nela. Impressionante era o raciocínio rápido e o humor sutil naquela senhora idosa, sempre acompanhado de um olhar que levava um sorriso divertido e cúmplice.

Minha Vó Didina me ensinou muitas coisas.

É verdade, houve histórias e filmes. Houve peças e espetáculos. Houve música e livros. E, sim, eu trago isso comigo. Mas foi o exemplo da coragem, do humor e da vontade que marcou os coloridos invernos da minha infância.

Fevereiro de 2010
Esse texto faz parte de um dueto de contos.
Leia também o segundo texto, que fala sobre a minha Vó Landa

Dueto de Contos: Eu tive duas avós... igualmente lindas e completamente diferentes..

Segundo Texto

A minha Vó Landa era uma avó de conto de fadas. Pequena, macia, muito branquinha e com sorriso morando nos olhos. Na casa dela, os verões ganhavam cores e sabores que só se via por ali... e eu descobria coisas novas todos os dias.

A cozinha tinha uma mesa grande, onde nunca faltaram páginas brancas, lápis de muitas cores e risadas. Bonequinhas de papelão eram desenhadas com espaço para os dedos das crianças virarem pernas de dançarinas. Lacres laminados de latas de Nescau serviam de molde para riscar rostos de moedas em esculturas prateadas. E dedos gordinhos e infantis eram autorizados a tocar em agulha e linha para aprender a bordar borboletas em panos de prato.

Um enorme quintal com ladrilhos vermelhos abrigava plantas de todas as cores e formatos e uma família de beija-flor vinha tomar água todas as tardes. Imensos tanques de azulejos brancos viravam piscinas nas manhãs de dezembro enquanto mangueiras verdes regavam as crianças naqueles dias quentes.

Em dias de chuva, os móveis da sala abriam espaço para as brincadeiras sentadas no piso de madeira escura. E minha avó sentava-se conosco para jogos de tabuleiros intercalados com histórias de sua infância.

A minha Vó Landa cozinhava divinamente. De um jeito que só avós sabem cozinhar. As almôndegas que eu provava na casa da minha avó eram sempre macias por dentro e crocantes por fora. Os bolinhos de chuva escorriam recheio quando a gente mordia. E as empadas tinham uma massa que era a melhor da vida.

Quando eu era bem menina, gostava de sentar na cozinha ampla e ficar ouvindo estórias enquanto minha avó desfazia massa de empada com os dedos. Sim, porque minha avó dizia que massa de empada não pode ser amassada, tem que ser desfeita. E ela ficava ali, por hora, hora e meia, desfazendo farinha, ovos e azeite entre os dedos, enquanto coloria o ar com relatos de fadas, princesas e gnomos.

Ela me deixava desfazer a massa junto com ela... e os dedinhos infantis brincavam com a farinha enquanto os olhos se perdiam encantados nas imagens das estórias que a voz da minha avó desenhava para mim.

Minha Vó Landa me ensinou muitas coisas.

Com ela aprendi a bordar e a não ter pena de desfazer os pontos. Aprendi a recomeçar sempre que preciso. Aprendi a ter paciência para deixar os rostos se desenharem por trás de lacres laminados. Aprendi que beija-flores sempre chegam quando a gente não esperava e se vão antes do que gostaríamos, mas sempre voltam. Aprendi que farinha se suaviza com toques suaves, se endurece com movimentos bruscos e que precisa de um dedo de prosa para ganhar sabor.

Os anos passaram e, em outros verões, eram os meus dedos que desfaziam a massa da empada naquela cozinha. E, enquanto a minha voz desenhava no ar estórias dos meus medos e receios e das minhas vitórias e conquistas, os dedos da minha avó brincavam com a farinha e o seu olhar desfazia o que era triste e dava encanto ao que era feliz.

Eu nunca aprendi a cozinhar como a minha avó. Mas gosto de pensar que sou boa no dedo de prosa.

Fevereiro de 2010
Este é o segundo texto de um Dueto.
Leia também o primeiro, sobre a minha Vó Didina


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Não precisa me pedir para perdoar porque não há dor a perder... só prazer. Braços aninhados em abraços, pernas entrelaçadas sem laços, bocas se perdendo, toques se encontrando, pensamento se unindo em cheiros e suspiros. Livre e terno encontro de corpos, mentes e vontades. Vida que segue.

Devaneio pela Palavra
Fevereiro de 2010

Momento Perfeito

Especial isso... ver a noite caindo sobre o mar do Arpoador, tingindo devagar o céu em marinho, enquanto o ar ganha frescor de mar aberto... deitar o corpo em pedra morna e soltar o olho no azul, escutando o mar rugir baixinho e se retrair gestando onda.

Devaneios
Sem palavras... só som e cor
Fevereiro de 2010



terça-feira, 16 de fevereiro de 2010



Briga de Namorados


Estou, desde ontem, irritando o meu verso.

É que eu tenho uma palavra meio inquieta, sabe?
Não pode me ver com a mente desocupada
que vem logo me encher pensamento!

Só que, ontem, eu precisava muito...
muito mesmo...
fazer um tantinho de nada.

Precisava deixar corpo esparramado na cama
umas horas.

Então, confesso:
esparramei logo corpo e pensamento
e me deixei ficar ali
olhando parede
até meio da tarde.

Logo na primeira hora, meu verso começou a provocar.
Contei para ele que não ia adiantar.
Não levantava por nada.
Estava fazendo nada e pronto.

E não houve...
       barulho de criança na piscina,
       ruído de mosquito no ouvido,
       som de lençol roçando no corpo,
       ar gelado e condicionado brincando com arrepio,
       persiana imitando tecla de piano...
que me fizesse desistir disso.

E, só para provocar, ainda dormi sono sem sonho.

Meu verso me contou
que vai tirar férias de mim também um tempo
só para eu ver o que é bom.

E eu?

Dou risada.
Duvido!

(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2010)




www.poetaflaviacortes.com.br

Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.



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Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
Maiores informações: contato@poetaflaviacortes.com.br
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domingo, 14 de fevereiro de 2010


Tem algo especial no dia começando. O sol rasga devagar a madrugada... tinge de dourado as paredes dos prédios... colore a beirada do céu em tons quentes e púrpuras. O ruído dos carros silencia para descobrir som de passarinho e o ar ganha um frescor de geladeira aberta de madrugada para pegar água descalça.

Devaneio pela palavra
Fevereiro de 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010


Saber de mim é fácil... nasci com olho que escancara e sorriso que denuncia. Se não fosse suficiente, ainda tem a minha palavra... que sai me esparramando em papel público com toda sem-cerimônia. Quem lê meu verso faz incursão dentro de mim.


Devaneio pela Palavra
Fevereiro de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


Memória do Corpo

A boca conhecia o gosto antes do beijo.
O corpo sabia do calor antes do toque.
O riso combinou o olhar antes de vir.

O cheiro do homem misturado no meu cheiro.
O gosto do beijo misturado no meu gosto.
Olho reencontrando olho.
Toque reconhecendo toque.

Rasgamos a época,
fundimos o tempo,
em gosto e gozo,
refazendo a memória do corpo
esquecida no tempo.

E, do mesmo jeito que a gente se encontrou,
a gente se perdeu.

O que faço agora?
Meu corpo lembrou do teu.

(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2010)
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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Riscos e Perigos


Eu sei dos riscos e dos perigos.
Dos meus talvez mais que dos seus.
E sei dos nossos.

Sei das vontades,
das intimidades.

Sei das portas entreabertas.
Da sua e da minha.

Sei do gosto.
Do seu,
do meu,
do nosso.

Sei da força.
Algumas vezes maior que a minha.
Sei da doçura.
Tantas vezes igual a minha.

Sei da voz
que traz lembrança de abraço.

Sei da falta
e da presença.

Perigoso jogo o nosso.
Onde sei tanto
e tão pouco.

Janeiro de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010



Abraço Mergulhado
Tem dia, que você não sabe,
mas só precisa
de um abraço mergulhado.

Aquele que te encosta
peito,
umbigo,
e pensamento.

Aquele que encaixa
queixo,
ombro
e sentimento.

Aquele que te segura
firme,
forte,
e sereno.

Até você relaxar
corpo
e alma.

E se deixar
abraçar.

E abraçar.



Flávia Côrtes - Janeiro de 2010
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Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.
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Nuggets são Nuggets

Hoje um amigo me contou que aprendeu de tudo na vida, mas que havia algo que ele achava muito importante. Eu achei tão, mas tão, importante que compartilho com vocês:

Nunca, jamais, em tempo algum, asse Nuggets. Nuggets são nuggets. Precisam ser fritos. Foram feitos para serem fritos. Se quiser assar alguma coisa, compre frango.”

E a risada que seguiu o meu “Ah.. eu até gosto de Nuggets assados...”.. me fez dar conta de que “até” não combina com “gosto”.

Bem...

Eu não sei como a vida te presenteou com amigos

Se risonhos e presentes
Se densos e presentes
Se distantes e presentes
Mas presentes

Eu não sei como a vida te presenteou com amores.

Se rápidos e intensos
Se vagarosos e suaves
Se rápidos e suaves
Se vagarosos e intensos
Se avassaladores
Mas amores

Então
Procure se lembrar
O que acontece

Se você tenta

Assar Nuggets.

Janeiro de 2010
O texto era para ser crônica... mas o verso se intrometeu sem pedir licença.