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domingo, 26 de fevereiro de 2012




Contramão

Manhãs são breves e ternas.
Têm algo de Infância,
um cheiro de Novo,
um quê de possibilidades.

Tardes acontecem.
Correm ou se arrastam,
mas acontecem.

Se eu pudesse escolher,
todas as tardes
corridas ou escorridas,
terminariam em varandas.

Fins de tardes merecem Varandas.

Em Varandas,
o dia desfila mais lento
dá uma paradinha,
troca de perna,
olha por cima do ombro.

Só para a gente reparar num detalhe
antes dele sair
e deixar a noite entrar.

Em fins de tardes, gritam detalhes.

Por que será que as gaivotas
voam todas para a direita?

Eu bem queria ver,
neste céu de fim de tarde,
uma gaivota
voando na contramão.

(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2012)

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Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.

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Reflexão Dominical

Se o Domingo faz parte
do fim de semana,
como pode ser também
o primeiro dia
da próxima semana?

Um dia que é início
e também é final

Portal do tempo
para a gente fazer
o que quiser.
Ou o que puder.

Hiato da magia
entre o antes e o depois

Para escolhas
de tudos
Ou de nadas

Brincadeiras
de vazios
ou recheios

Um dia com vocação
de preposição
se realiza de fato
quando junta
os elementos
Pessoas
Ações

E a cada um de nós
que, afinal, é sujeito
de sua própria oração
cabe a escolha

Se prefere um Hoje
Que esteja mais para "antes" ou "até"
que pulse "com" ou "contra"
que vibre "para" ou "porém"

Escolhe você, então, Sujeito,
E faz do seu Domingo
Início
ou
Final.

Fevereiro de 2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Dízima Periódica

O tempo diz que tem um mês
O tempo não sabe
Que a saudade multiplica
Os dias
À eternidade

De que me vale o calendário
Quando a saudade
Repete infinitas vezes
A tua falta

Quanto tempo?
Que importa

Para sempre
é tempo demais.

Fevereiro de 2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Poema Arco-íris

O dia não decidiu
ainda
se vai ser nublado
ou claro

Tem uma réstia
azul-esperança
no canto do céu
tomado de nuvens
que o sol
ainda assim
clareia

Tem uma réstia
azul-esperança
no canto do olho
tomado de chuva
que a poesia
ainda assim
clareia

O dia não decidiu
ainda
se vai ser
nublado
ou claro

O dia nem sabe
ainda
o que a poesia
sempre soube

O olho nem sabe
ainda
o que o sol
sempre soube

E o sol
derrama
pelo canto do olho
molhado
da poeta

Um poema arco-íris

Fevereiro de 2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012



Colo Dourado

O sol tinge de um dourado poente
a beirada esquerda da tarde.

Uma imensa nuvem cor de rosa
decora o miolo do céu.

Flocos de um branco prateado
se espalham sobre a montanha.

Na varanda,
uma mãe,
um colo
e uma poeta.

As mãos da mãe fazem cachos
nos cabelos de uma filha
já adulta.

As mãos da poeta tecem versos
de um poema
ainda criança

E foi assim que
céu,
sol,
mãe,
mãos,
poeta,
e versos
se uniram em poema

No colo materno,
viveram Poesia.


(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2012)

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012


Viver Plenamente


Este é para responder à pergunta de uma amiga: ‎
'Qual é a diferença entre estar vivo e viver plenamente?'

Para explicar, peço ajuda às palavras.

"Estar" é um estado.
"Estar" é um dos poucos verbos que não demandam ação.
Então, em "estar vivo" o foco é todo no "estado" e não na vida!

"Viver" é verbo que inclui mobilidade.
"Viver" não é estado.
"Viver "é ato.

Para exercer o verbo "viver", não basta "estar", precisa fazer.
Precisa conjugar a si mesmo em tantos atos...

E "viver plenamente"?
Ah, aí a gente fez o ato de "viver" vir acompanhado de um "modo".
Um "modo" é um jeito.
"Plenamente" é um jeito "muito" de fazer as coisas.
"Plenamente" pressupõe "intensidade".

É isso.
"Estar vivo" está para "viver plenamente"
assim como o "ar" está para a "ventania" .

Tem pessoas a quem bastar respirar
e algumas
nasceram para voar.

Fevereiro de 2012
Para Márcia Drummond, minha amiga passarinha.
Obrigada pela inspiração
.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


Pretéritos Presentes

Nem um mês
e parece um ano.

E o passado é tão presente
que estranho o pretérito.

E dói.

"Meu pai diz..."
E eu me corrijo
"Meu pai dizia..."

Como conjugar em outro tempo
alguém tão presente?

Atônita
Corrijo os tempos
de todos os nossos verbos

Apenas um mantenho
Intacto.

Eu amo.

Fevereiro de 2012

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012


Álbum de Família

Estivemos juntos
durante um tempo
que nenhum relógio
ousa registrar.

Não contamos os dias.
Não contamos as noites.
Não contamos as horas.

Como contar
tudo o que foi vivido,
tudo o que foi sentido,
tudo o que foi feito?

Como contar
o ombro alinhado ao ombro,
o riso compartilhado,
as conquistas,
as batalhas,
as vitórias?

Criamos
e nos recriamos.

Inventamos
e nos reinventamos.

Em busca do sonho
ignoramos limites,
descartamos fronteiras,
desfizemos o impossível.

E porque,
na retina de cada um,
brilha o mesmo brilho,

E porque,
na vontade de cada um,
pulsa o mesmo motivo.

O que era um Grupo,
um dia,
se fez Família.


(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2012)
www.poetaflaviacortes.com.br


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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012



A natureza da oração
O que caracteriza a oração é o verbo.
Não fui eu quem disse,
mas fui eu quem aprendi:
Toda palavra guarda dentro de si
uma prece.
Amém.
Flávia Côrtes - Janeiro de 2012
www.poetaflaviacortes.com.br
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Era uma vez, em um reino muito distante...

Ela morava em uma terra de encanto
Um reino rodeado por uma montanha mágica
Onde o céu se coloria de lilás nos fins de tarde
E as madrugadas espelhavam os seus humores
Era uma terra distante
E era onde ela
Vivia feliz

Ele construía sonhos em uma terra antiga
Três portais de luz depois de Narla
Onde o céu se coloria de lilás nos fins de tarde
E as madrugadas ecoavam silêncios
Era uma terra distante
E era onde ele
Vivia em paz

Nenhum dos dois Viajantes de Luz
Nenhum dos dois Passageiros do Vento
E, ainda assim,
alados
em noites
insones

Por que Longe
Só é um lugar
Se você não quer ir.

Fevereiro de 2012