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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Não cabe

Não cabe
na palavra "saudade"
toda a falta
de vocês.

Como pode um vazio
encher tanto assim o peito?

(Primeiro Natal sem minha Mãezinha. Que Deus me dê força.)

domingo, 21 de dezembro de 2014


Diálogo

"Por que você está quietinha?"

"Estou escrevendo um poema."

"Eu posso pegar um papel e escrever um poema?"

"Pode, meu amor."

A criança não sabe,
mas já escreveu tantos.

(Flávia Côrtes - dezembro de 2014)

Caligrafia

Num quarto, a criança dorme.
No outro, o homem dorme.

Na pia, dorme a louça.
E dorme, no tanque, a roupa.

Na sala, a poeta acordada
percorre versos de outra poeta.

A manhã passeia encantada
em seis
talvez oito
poemas.

A infância em flanela azul e chupeta
chega sonolenta e se aninha
no colo abaixo do livro.

Tem poema mais doce
que criança adormecida em colo junto ao livro?

"Mamãe, meu mamazinho..."

O dia acorda.
Mas não antes que o poema.

(Flávia Côrtes - dezembro de 2014)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014


Três da Manhã.

Na madrugada tênue,
pequenos passos
leves e silentes
despertam olhos maternos
como não conseguem
despertadores nem alvoradas.

Que mistério é esse que une
teu despertar ao meu?

Na penumbra do quarto
olhos pacientes
agora despertos
esperam um sono
que não é meu.

A respiração
da criança aninhada
ainda é leve e conta
que ainda é cedo.

Um suspiro profundo
mostra o mergulho
no sono mais denso.

Meus olhos enfim pesam.

Que mistério é esse que une
meu sono ao teu?

(Flávia Côrtes - Dezembro de 2014)