É exclusividade do inverno
estas manhãs silentes
onde só se ouve,
muito ao fundo,
o latido um tanto rouco
de um cão.
Não pede nada este cão.
Late como quem canta.
E, ainda que não seja
uma manhã tão fria,
dá esta vontade de ficar.
Acendo a luminária
para emprestar à manhã
um ar de seis da tarde.
Deixam de pulsar as urgências.
Calam-se todas
para ouvir
a balada do cão rouco
que canta baixo
numa manhã
quase fria.
Algumas coisas só acontecem
em manhãs de inverno.
(Flávia Côrtes - Junho de 2013)