Amanhã também
A burguesia não se importa com o outro.
O operário não se importa com o outro.
Meu Deus, quem é que se importa?
O ser humano é que não desapega do umbigo.
Todo mundo é bom.
Todo mundo quer bem.
Ninguém nunca fez mal.
Será que alguém fez bem?
Acorda, levanta, trabalha.
Café da manhã, almoço e janta.
Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã também.
Acorda, levanta, procura emprego.
Arroz com feijão, graças a Deus.
Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã também.
Na Urca,
o aposentado não vê
que tem fome na esquina.
Na Tijuca,
a dona de casa não vê
que tem fome na esquina.
Em Realengo,
o trabalhador não vê
que tem fome na esquina.
O ser humano é que não desapega do umbigo.
Todo mundo é bom.
Todo mundo quer bem.
Ninguém nunca fez mal.
Será que alguém fez bem?
E, enquanto
boas intenções enchem o Inferno,
nas esquinas transitam
nossas crianças.
Há fome na esquina.
E não é só de pão.
Não dá no Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã
também?
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos
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