Amanhã também
A burguesia não se importa com o outro.
O operário não se importa com o outro.
Meu Deus, quem é que se importa?
O ser humano é que não desapega do umbigo.
Todo mundo é bom.
Todo mundo quer bem.
Ninguém nunca fez mal.
Será que alguém fez bem?
Acorda, levanta, trabalha.
Café da manhã, almoço e janta.
Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã também.
Acorda, levanta, procura emprego.
Arroz com feijão, graças a Deus.
Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã também.
Na Urca,
o aposentado não vê
que tem fome na esquina.
Na Tijuca,
a dona de casa não vê
que tem fome na esquina.
Em Realengo,
o trabalhador não vê
que tem fome na esquina.
O ser humano é que não desapega do umbigo.
Todo mundo é bom.
Todo mundo quer bem.
Ninguém nunca fez mal.
Será que alguém fez bem?
E, enquanto
boas intenções enchem o Inferno,
nas esquinas transitam
nossas crianças.
Há fome na esquina.
E não é só de pão.
Não dá no Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã
também?
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos
quanto aos seus direitos autorais.
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Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
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Maiores informações: contato@poetaflaviacortes.com.br
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2 comentários:
Quando vc leu essa no Corujão, me identifiquei com a realidade do meu trabalho ; o contato com o povo. Mas também amei a poesia do calor que li aqui!!! É muito gostoso passear pelo seu universo! Bjs da Vivi
"Ninguém nunca fez mal.
Será que alguém já fez bem?"
Anotei.
Gozado, eu continuo achando que a imprensa burguesa do Brasil continua sempre mostrando as misérias do país para confrontá-las com a fútil opulência do chamado Primeiro Mundo. Mas é uma opinião "de fora", apenas.
Teus textos, Flavinha, jamais nos deixam indiferentes, isso é certo. São os que ficam.
Um belo dia, querida, beijos, saudades,
André
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