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sexta-feira, 30 de março de 2012

O Som do Poema

Imaginas que o som do poema
vibra apenas se o dizes?

Pensas que o som do poema
ecoa apenas no teu pensamento?

O poema crepita e pulsa
alinhado com a tua alma.

E te equipa como a um morcego.
Sintoniza o teu vôo cego.

Então, encosta teu ouvido aborígene
nesta folha-solo
e percebe o mundo ancestral
que o poema te traz.

Fecha os olhos.
Sente o sussurro
suave ou forte do poema
ecoando nas membranas
do teu pensamento.

Abre a mente.
Percebe que o poema
sintoniza a tua freqüência
com o timbre lírico do mundo
que vibra alheio a tua ocupada vida.

E não te preocupas com a racional certeza
de que o som não se propaga no vácuo.

Ainda que tenhas tido o meticuloso cuidado
de lacrar hermeticamente a tua alma,
o som do poema traz dentro de si
sabedoria de Kabbalah.

É por isso que, ainda que tenhas te perdido de ti,
o som do poema ainda sabe o caminho.
E te ecoa
em mágica viagem da Palavra.

Escuta.

(Março de 2012)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Lágrima

Desde cedo
Tem uma saudade doendo
No canto do meu olho

Não deixei cair
e ela empoçou
no meio da minha garganta

Tentei engolir
e não coube.

Escorreu de mim
nessa folha-face
um verso morno
salgado

Nem sei se chamo
de verso
essa
lágrima.

Março de 2012

quarta-feira, 21 de março de 2012



A Olho Nu
Tem uma certa mágica
em descobrir a pessoa
por trás da pessoa
que a gente se acostumou
a olhar.

Cada um é um.
E, ao mesmo tempo,
é tantos.

Por trás de cada mãe,
uma mulher.

E, sendo mulher,
por trás de cada mulher que é,
tantas.
E outras.

Por trás de cada amiga,
uma mãe.

E, sendo mãe,
por trás de cada mãe que é,
tantas.
E muitas.

Por trás de cada amor
um homem.

E, sendo homem,
por trás de cada homem que é,
antônimo.

E atrás de cada face,
e por trás de cada fase,
cada um é camada
de si mesmo.

Homem,
mulher,
humano.

E, a cada um de nós,
que também somos tantos,
cabe a experiência
e a descoberta.

Se despe dos olhos de filho.
Esvazia retinas amigas.
Desnuda teu olhar de amante.

E, a olho nu,
descobre a outra história.
Pergunta a nova opinião.
Observa o gesto além do gesto.
Aprende o riso que não é espelho.

Não da uma que você já conhece,
nem da outra que você já esperava,
nem daquele que você já sabia,
mas de quem você vai ver
surgir
agora.

Aprende que
"várias"
é mais que palavra feminina
nascida plural.


É Palavra Humana.




Flávia Côrtes - Março de 2012

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sexta-feira, 16 de março de 2012

(des) pétalas

Bem me quer
Mal me quer?

Ás vezes, deixar ir
é o único jeito
de preservar
o que se teve de bom

Bem me quis
Mal me quis?

Insistir, algumas vezes,
é o caminho de extinguir
o pouco que ainda se tem
do muito que um dia se teve

Bem te quis.

(Março de 2012)

domingo, 11 de março de 2012


Via Expressa

Intimidade é um caminho tão sem volta.

Mas também
quem é que disse
que eu quero fazer
o caminho de volta?

Março de 2012
Devaneios pela Palavra

quinta-feira, 1 de março de 2012


Entomologia

Gafanhotos
São seres que te consomem
E seguem
Adiante

Março de 2012