Carta a Anna
Olá, Anna,
te escrevo aprendiz.
Escrevo à dona do verso,
à Dona do Verbo.
O verbo que pode.
O verso que eclode.
Me diz, Anna,
de onde vem?
Tanta força,
tanto encanto.
De onde vem
tanto?
Me conta, Anna
como vem?
O que mostra,
o que comove,
o que encanta,
o que espelha,
o que traduz,
o que seduz.
Porque a poeta,
diante do teu verso,
se reconhece aprendiz
daquela que se diz louca
e se diz!
Ah, Anna...!
Anna que compartilha,
Anna que mostra,
Anna que conta!
No seu verso,
uma vida,
um dia,
um momento.
Ah, Anna,
tua aprendiz te diz:
Se louca ou lúcida?
Que importa
diante de tanto!
Ah, Anna,
tua aprendiz te conta:
Teu verso
te mostra, te salva?
A ti, mas também ao outro!
E é, assim,
espelho e encanto
que te leio
e releio
e releio.
Porque é, assim, que me diz.
E, se a mim diz,
diz de mim.
Porque é, assim, que me conta.
E se a mim conta,
conta de mim.
Então, Anna,
me ensina!
E quem sabe, assim,
aprendo também
de mim!
Que me prefiro louca,
que me permito lúdica,
que digo,
que conto,
que mostro!
Não por gosto,
não por vaidade!
Mas
por vontade,
por necessidade,
por lucidez!
E aqui, sentada do teu lado,
te ouvindo,
te aprendo
e me aprendo!
E aqui, debruçada no teu verso,
te lendo,
te vejo
e me vejo!
E é, assim, que te escrevo,
Anna.
Te escrevo aprendiz.
Que aprende
e diz!
(Flávia Côrtes - Janeiro de 2010)
Encantada diante da palavra exposta e forte de Dona Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho, em seu livro, “O Auto de Ana, A Louca – Poemas Lúcidos”
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