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segunda-feira, 23 de julho de 2012





Poema Verde


A árvore era muito antiga.
A ponto de eu ter que envergar-me
para admirar a cabeleira altiva
suspensa duas dezenas de metros acima de mim.


O enorme tronco de textura enrugada
dividia-se em dois
pouco acima da linha do meu olhar.


Havia decidido ser duas aquela árvore.

Os galhos grossos eram cobertos
por uma delicada folhagem tricotada.


A folhagem, se um dia parasita,
tomou-se de tal amizade pela árvore

que ficou ali
a aquecê-la e enfeitá-la.

Da ponta dos galhos laterais,
derramava-se como um xale

que a árvore, vaidosa, sustentava,

enquanto me dizia o poema

que aqui eu transcrevo.


Ao seu lado, uma árvore menor crescia à sombra.
E os galhos das duas,
em alguns pontos, se misturavam,
em um silencioso e terno dar de mãos.


Sentei-me numa pedra branca
que alguém,

em algum século,

colocou abaixo da árvore-poema.


Não sei quanto tempo ficamos ali as cinco.

Eu,
a pedra que era branca,

a árvore que era duas,

a folhagem que era xale

e a árvore que era menina.


Talvez o tempo de um poema.

Talvez o tempo necessário
para que eu pudesse levar

por uma vida

a beleza daquele instante.



(Flávia Côrtes - Julho de 2012)www.poetaflaviacortes.com.br
Nota da Autora:


Este texto germinou em mim em uma semana que passei no Hotel Fazenda Villa-Forte, um lugar mágico, repleto de história e com uma paisagem que transborda dos olhos direto para a alma.

Eu poderia escrever dezenas de outros poemas e não conseguiria contar como é lindo o lugar. Então, é melhor vocês conferirem tudo no site deles:
http://www.villa-forte.com.br










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