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- ▼ 2010 (163)
sábado, 25 de dezembro de 2010
Sei que a ti parece
que vivo a vida em verso.
É que eu sou feita
de carne, osso e Poesia
Em mim,
o Pensamento coexiste com o Sonho
e o Real
admite o Lúdico.
Só que o lúdico dos meus dias
não me embota olhar
ou imobiliza braços!
Da mesma forma,
a mulher existe na poeta
Ou a Poeta na Mulher!
E onde fica
a fronteira
do lírico
e do não-lírico?
Importa?
Bom,
se acha mesmo que sim,
vai ter que descobrir!
E, aí,
me faz um favor?
Não me conta!
Dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
Certeza do "Não-Ser"
O que me incomoda não é a incerteza do Amanhã.
A Incerteza faz parte do Amanhã.
E isso é bom!
Que graça tem um grão com a certeza da flor?
O que me incomoda é essa certeza do "Não-Ser".
É esse antecipado saber.
Esse caminhar despreocupado para o "Não".
Eu me convenci que podia.
E me convenci que queria.
Só que, agora, diante do encanto,
diante de tanto,
percebo o que vai ser.
E isso não vai ser bom.
Porque, hoje, está bom demais!
Então, eu te conto:
Eu gosto, sim, do incerto.
O incerto me instiga.
Mas "incerto" não é certeza do "Não".
É possibilidade do "Sempre".
Se, para estar do teu lado,
é preciso caminhar para o "Não",
então, digo eu o "Não!".
Guardo o encanto,
interrompo o toque,
recolho o riso.
Te beijo e me vou.
Para um amanhã de possibilidades.
Porque te gosto.
Mas também ME gosto!
E eu
cuido de mim.
(Flávia Côrtes - Dezembro de 2010)
www.poetaflaviacortes.com.br
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Quando dei por mim
estava
despida de ontem
nua de amanhã
mergulhada no efêmero
E achei bom.
Você me diz
sonho
E me olha
como se eu fosse
me dissipar
em brumas
Eu acho graça
E até acho que gosto
de ser sonho
Está bem, confesso.
É que eu gosto de sonhos.
E, de vez em quando,
eu me dissipo mesmo
e, depois,
me refaço
inteira
ou inteiramente nova
Então
você só precisa
me sonhar de novo
amanhã
e depois de amanhã
Porque eu
acredito em sonhos
E já me acostumei
a viver os meus!
Dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
acomodei-me sob o céu.
Sentimento exato
de quando tinha dez anos
e minha mãe me permitia
dormir no quintal.
Olhos poetas
vasculham céu sem estrela
aprendendo nuances da noite.
Barulho de vento brincando com folha
em ventilador sem hélice.
Conversa e risada ao longe
em novela do cotidiano.
Vento morno
sopra pele sob lençol fino
e emaranha cacho de cabelo
em preguiçoso cafuné.
Em redescoberta de ar
que não é condicionado,
levo dentro de mim
ar livre!
domingo, 5 de dezembro de 2010
Quase Verão
Calor horrível
de céu nublado para sempre
que não chove nem deixa de chover
Calor que entranha
em poro e pele
e dá vontade de chuveiro frio
de meia em meia hora
Calor que
embota pensamento
desacelera respiração
entorpece vontade
Dá uma vontade de nada
Pálpebra pesada na face suada
Raio de ar condicionado quebrado!
Dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
Amanhã também
A burguesia não se importa com o outro.
O operário não se importa com o outro.
Meu Deus, quem é que se importa?
O ser humano é que não desapega do umbigo.
Todo mundo é bom.
Todo mundo quer bem.
Ninguém nunca fez mal.
Será que alguém fez bem?
Acorda, levanta, trabalha.
Café da manhã, almoço e janta.
Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã também.
Acorda, levanta, procura emprego.
Arroz com feijão, graças a Deus.
Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã também.
Na Urca,
o aposentado não vê
que tem fome na esquina.
Na Tijuca,
a dona de casa não vê
que tem fome na esquina.
Em Realengo,
o trabalhador não vê
que tem fome na esquina.
O ser humano é que não desapega do umbigo.
Todo mundo é bom.
Todo mundo quer bem.
Ninguém nunca fez mal.
Será que alguém fez bem?
E, enquanto
boas intenções enchem o Inferno,
nas esquinas transitam
nossas crianças.
Há fome na esquina.
E não é só de pão.
Não dá no Jornal Nacional.
Boa noite, meu bem.
E amanhã
também?
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
Por favor,
não arrumem
os meus livros.
É assim mesmo
que gosto deles
Espalhados pela casa
Tem dia
que me provocam
Não posso sentar
quieta na varanda
sem que Adélia
Lucinda
ou Clarice
fiquem puxando assunto!
Tem dia
que me consolam
Veríssimo
espera comigo
ferver a água do café
E Drummond
me vela o sono
Por favor
não desmarquem
os meus livros!
É assim mesmo
que gosto deles
Com dobrinhas nas páginas
Não se escandalize
Não, não são dobrinhas apenas...
São declarações de amor
Se eu fosse um livro
ia querer dobrinhas!
E anotações!
São como rugas
Sinal de que viveram
Sinal de que alguém
algum dia
se apaixonou por ele
chorou com ele
riu com ele
Então
que fiquemos assim
meu livro e eu
espalhados pela casa
e fazendo questão
de cada uma
de nossas rugas!
Novembro de 2010
terça-feira, 23 de novembro de 2010
E essa história me veio inteira na memória...
Quando eu tinha 12 anos, indo para a escola, um menino de rua cruzou comigo e me deu um olhar de raiva e um tapa. O tapa doeu. O olhar doeu. Nunca ninguém havia me odiado antes.
Minha mãe me contou que a raiva do menino não era de mim. Era de todo mundo. E que o tapa não era em mim. Era na vida. Eu não entendi bem o que eu tinha com isso, já que não me batizaram “Vida” e eu nunca havia machucado ninguém. Minha mãe me disse que um dia eu entenderia o menino e aceitaria os motivos dele.
Eu cresci. Entendi o menino. Os motivos...? Entender não é aceitar.
Novembro de 2010
O nome dela é Ana Júlia
Confesso que o que me chamou a atenção nela foi o laço no cabelo. Um laço pequeno, cor de rosa choque, enfeitando o cabelo curtinho e penteado. Olhos risonhos no rosto sério, como se estar triste fosse tarefa árdua e recomendada.
“Tia, me dá um dinheiro prá eu comprar leite pro meu irmão?”
O bebê no colo da menina dormia serenamente, alheio ao tumulto em frente à galeteria onde eu esperava a minha vez de comprar frango para o almoço de domingo.
Pousei os olhos na menina . Não tinha mais de 12 anos. Pensei se o bebê era filho ou irmão. Reparei na roupa limpa e arrumadinha. E no laço cor de rosa.
Perguntei num sussurro, como quem se aproxima de passarinho que pousa perto de manhazinha: “Ele é seu irmão, menina?”
A menina assentiu com a cabeça.
“Cadê a sua mãe?”
O dedo indica a esquina. “Tá ali com os meus irmãos.”
“Vocês são quantos?”
“Oito.”
“Você é a mais velha?”
“Não. Tem dois grandões.”
“Olha, dinheiro eu não te dou, não. Mas, se você quiser, eu te compro um frango. Você quer?”
O sorriso se abriu deixando, enfim, o rosto combinar com os olhos.
“Quero! Aí eu arrumo um guaraná e já dá prá gente almoçar.”
“Então, espera que eu compro o frango prá você.”
A menina esperou do meu lado, brincando com o bebê, agora acordado, como se fosse uma boneca. Conversava com ele alguma coisa que só os dois escutavam. E pareciam se entender bem.
“Olha só como ele entende, Tia.... Ju.. Ju...”
O neném arregalava os olhos quando ela o chamava pelo nome.
“Qual o seu nome, menina?”
“Ana Júlia.”
“Bonito nome.”
“Obrigada!”
Achei a menina educadinha.
“Você tá na escola, Ana Júlia?”
Negou com a cabeça... “Eu não tenho registro.”
Chegou a minha vez. Pedi os frangos. O meu e o da Ana Júlia. Comprei os refrigerantes. O meu diet, o dela normal. Pedi para embrulhar separado e entreguei o dela.
“Escuta, Ana Júlia, deixa eu te dizer uma coisa. Na escola você não tem só estudo, você tem merenda. Eles te dão almoço e lanche. Se um dia você passar em frente a uma escola, entra e procura a diretora. Conta para ela que você quer estudar e não tem registro. Ela vai te ajudar, tá? Toma. Este é seu”. Entreguei o almoço a ela.
“Obrigada, Tia.”
O “obrigada” era pelo frango. Eu queria que fosse pelo conselho. Queria que fosse porque eu olhei para ela como “Ana Júlia”, não como um número. Mas era pelo frango. Não tinha como ser por outra coisa além do frango. Que menino ou menina, de qualquer lugar, pensa em estudar ou em conversar quando está com fome?
Pensei na estatística oficial: mais de 95% das crianças brasileiras nas escolas. Está bem! 95% das crianças registradas. Como saber das milhares que transitam pelas ruas e simplesmente não têm registro. Estão fora das estatísticas.
O nome dela é Ana Júlia. E ela não é um número.
Novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
Espanto
Soltar olho no azul.
Desenhar dia.
Assistir passarinho.
Te parece sem sentido?
A mim, faz todo.
Amigos de ocasião.
Abraços protocolares.
Não ver menino em sinal.
Chorar em novela das oito.
Te parece normal?
A mim, não.
Escolher sorvete pela cor.
Sentir verso me olhando.
Jogar conversa dentro.
Soltar pensamento.
Te parecem metáforas?
Para mim, fato.
Bala perdida.
Homofobia.
Morto de fome.
Menino de rua.
Sem teto.
Te parece normal?
Em mim, dói.
que o teu olhar horrorizado,
em frente à tela,
convence?
se não gera ato.
Então, não me olha em espanto
só porque danço de olhos fechados.
Meus olhos poetas,
há muito,
me abriram o peito
e me descruzaram os braços.
Experimenta você
desfranzir sobrancelhas.
Só para começar!
(Flávia Côrtes – Novembro de 2010)
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sábado, 20 de novembro de 2010
E agora?
Eu tentei viver com você
no agora.
Fixei olhos no efêmero
e deixei
o amanhã desfocar.
E foi
tanta cor,
tanto riso,
tanta arte,
tanto querer...
que o que era bom me fez bem.
Não fui eu quem levantou o meu olhar.
Foi você
quem segurou o meu rosto
em holofote
para o amanhã
e me disse:
"Olha!"
E agora...?
Flávia Côrtes - Novembro de 2010
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Completamente apaixonada.
Intensamente apaixonada.
Eternamente apaixonada.
A moça que gosta de palavras
se pergunta:
combina tanto
com tal terminação?
Céticos levantarão sobrancelhas:
Mente?
Poetas entenderão.
Apaixonada,
completa a mente,
intensa a mente,
eterna a mente.
só sabe
que lia um Drummond,
nesta manhã,
quando se apaixonou
completamente
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010
De olhos abertos
Quando me deixei ir para você,
me prometi tomar cuidado
e mergulhar de olhos abertos.
Foi de olhos abertos que eu te aprendi.
Primeiro eu vi um homem que me olha em muitos olhares.
Olhos que me riem e se riem.
Olhos que me olham poeta e me sabem mulher.
Olhos que me contam quando insiste em não me dizer.
Depois eu vi um homem que planeja o seu sonho.
Um homem que transforma a vida em arte
e faz da arte oportunidade.
E eu te aprendi
entre poemas e músicas,
entre cafés e silêncios,
entre cigarros introspectivos - ou não.
E te aprendendo eu vi
que só me responde quando eu não te pergunto,
que o tato é o que menos te seduz,
que cria como quem respira
e que só café te acorda.
E foi assim que eu te gostei.
Gosto da tua sede.
Uma sede que não alucina,
impulsiona.
Gosto da tua gana.
Uma gana que não desarvora,
objetiva.
Gosto dos teus silêncios.
Porque eu também tenho os meus.
Gosto do teu cheiro.
Um cheiro que é de homem
e que também é de abraço.
Pois é.
Foi de olhos abertos que eu mergulhei.
E eu que me prometi
cuidado.
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domingo, 14 de novembro de 2010
Eu não te convidei a desenhar domingo.
Meio porque sabia que não viria
Meio porque te queria,
dessa vez,
senhor do lápis.
Ah, amor, será que você não vê
que tenho olhos poetas?
Nasci com olho que olha prá dentro.
Então, te digo um poema
te beijo
e te deixo
Então, me visto um poema
me beijo
e me deixo
E me vou
em cores
Em mágico domingo,
levo eu o lápis.
Novembro de 2010
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Poema para um Poema Raso
Hoje
meu verso olhou para mim
Era belo o verso
Estampou-se
em meus olhos poetas
mudo
lindo
e nu
Poeta aplicada,
ofereci-lhe agrados.
Sedutora em minhas melhores metáforas,
divertida em minhas metonímias,
cortejei o meu verso.
implicante e belo verso
sem querer vestir palavra
Exagerada,
ameacei deixá-lo
com agressivas hipérboles.
Redundei-me em apelos,
esgotei-me em pleonasmos!
teimoso e belo verso
sem querer vestir palavra
Estava a ponto de deixá-lo,
quando me mostrou,
no fundo da retina...
uma imagem linda
de uma poça d'água
refletindo um rosto
enquanto a luz do sol
transpassava
translúcida
água
Tola e vaidosa poeta!
Novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Borboletas Idas
Magia dissipada,
vontade se esvai.
E se temos riso,
e se temos arte,
e se temos carinho,
a ti chamaria
amigo.
Será que temos?
(Flávia Côrtes - Outubro de 2010)
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domingo, 31 de outubro de 2010
Você chegou
sem me contar que vinha
Entrou em meu mundo
como quem sabia
E eu me vi
te dizendo os versos
E eu te vi
soltando as rédeas
das tuas palavras
Me alçou pela mão
até uma nuvem-lenço
E me olhou por dentro
me adivinhando
sussurros d’alma
E me mostrou o seu mundo
estranhamente igual
e, por isso mesmo,
não estranho
Me convidou a entrar
Como não entrar?
Seria como pedir ao vento
para não ventar
Outubro de 2010
Adivinha quem voltou prá casa hoje?
Meu verso.
É incrível É só eu voltar a ter atividade poética que ele volta.
Vou a uns saraus, volto a ler, recomeço a me corresponder com os amigos, volto a ligar para as minhas pessoas no caminho do escritório, levo meus sobrinhos para passear, saio prá dançar, vou ali namorar um pouquinho, encho a casa de música, me dou uma ou outra manhazinha de pensamento solto... E pronto: ele volta prá mim!
Agora, deixa eu começar a trabalhar umas 13, 14 horas por dia... trabalhar uns fins de semana direto... parar com tudo isso que me faz bem... Ele logo me olha como quem diz... "ou você para com isso ou eu vou embora, sua chata". Primeiro some uns dias. E, se eu não tomar cuidado, pode me deixar por semanas! Acredita numa coisa dessas?
Dessa vez foram duas semanas inteiras! Aí, me enviou dois poeminhas no fim de semana passado... e mais uma semana inteira desaparecido! Pensei comigo: “ ai.. ai... já retomei tudo o que o verso gosta... porque está se fazendo de difícil?”
Bem, hoje é domingo. O dia preferido do meu verso.
Acordei cedinho e fiquei ali olhando a manhã, com pensamento solto. Li um tantinho e, quando olho para o lado, está ele ali, olhando prá mim com cara de quem nunca saiu.
E eu?
Devia fazer doce... devia brigar com ele. Sumir desse jeito! Tanto tempo sem dar notícia! Isso não se faz! Devia ter dado uma dura nele! Ignorado um pouco. Mostrar quem é que manda aqui!
Devia... ah, eu devia... Só que eu estava com tanta saudade. Não deu! Meu verso me olhando daquele jeito que só ele me olha. Não deu prá fazer outra coisa senão também olhar para ele. Ficamos ali nos olhando em silêncio...
meu verso e eu
sorrisos nos olhos
eu esperando...
até ele me rodear
e transbordar em papel
Juro que ouvi um sussurro...
"Boba... achou mesmo que eu não voltava?"
Outubro de 2010
Pode dar trabalho
E dá
Mas tem algo mágico em mudanças
A sensação de colocar uma caixa imensa no meio da sala
E ir jogando fora
Se livrando de tudo o que é excesso
Tudo o que não use há mais de um ano
E que não ame
No início, com alguma pena
Um vestido tão lindo
Que você não usou
E nunca vai usar
Discos arranhados
Louças lascadas
Copos trincados
O dia em que ele não ligou
E nem você
A briga que teve com o seu melhor amigo
Por bobagem
As semanas que ficou sem falar com o seu irmão
E nem se lembra mais por que
Maquiagem fora da validade
Perfumes que você ganhou e não gostou
Tudo para fora
Da sua vida
Aí, é fechar a porta
Um último olhar nos cômodos vazios
E porta trancada
Mas divertido mesmo
É chegar lá do outro lado!
Janelas abertas
Sem cortinas
Tudo seu em caixas
Organizadas
Numeradas
Etiquetadas
E, ainda assim,
Abri-las
Como quem abre presentes
Redescobrir-se!
Outubro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
o toque,
o gozo?
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Uma crônica da série “Ele diz... ela diz...”
Bem, pessoal, e se o assunto é dinheiro, está estabelecida a polêmica.
O assunto se divide em dois, na verdade.
1) Se o cara ganhar menos? Como fica o namoro? Aliás, há namoro?
2) Quem é que paga a conta afinal de contas?
Tenho amigas feministas xiitas que se ofendem até se o sujeito fizer menção de pagar um café. E há outras que não colocam as sandálias de tirinhas para fora de casa se tiverem que levar na carteira mais do que o batom e o celular.
Também é informação de domínio público que os homens se incomodam absurdamente de sair com mulheres que ganhem mais do que eles. Isso acontece até mesmo com aqueles que, por convicção ou pão-durismo, fazem questão de dividir os centavos no final do encontro.
Quanto à conta:
No primeiro encontro, sem dúvida, a conta é do homem. E contas de motéis, sempre. As demais, depende muito. Se ele ganha menos ou a mesma coisa que eu, vou me sentir mal em deixar que pague tudo sempre. Certamente, vou intercalar nos encontros, ao receber a conta, a frase "esta é por minha conta, está bem?" (odeio aquela coisa de ficar dividindo conta no final da noite). Se ele ganha muito mais, não me incomodo que pague, se fizer questão. Embora ache desnecessário, sei que há homens que não gostam de ter a conta paga pela mulher. Então, tudo bem.
Agora, vamos ao assunto que acredito ser mais polêmico: E se o homem ganha muito menos que a mulher? Alguma chance disso funcionar?
Quando comecei a escrever essa série de crônicas fiz uma pesquisa com amigas minhas e fiquei completamente surpresa com as respostas.
Em conversa objetiva entre amigas, descobri que as mulheres avaliam, sim, a condição financeira do homem. O que ouvi, na maioria dos casos, foram relatos de que, se for só para transar, isso não é importante. Agora, quando o assunto é namorar, a maioria pesa isso, sim. Dizem que namoram para construir alguma coisa e que não iam querer ficar sustentando ninguém.
Confesso que estou pasma até agora com os relatos que ouvi. Nunca tinha pensado que ouviria coisas desse tipo de pessoas carinhosas, inteligentes, independentes e modernas.
Para mim, não faz muita diferença a questão social propriamente dita. Eu preciso admirar a pessoa. Preciso sentir que posso me amparar nele. Não financeiramente. Eu ganho o suficiente para pagar as minhas contas. Não me importo que o cara pague, se isso o incomoda, mas não preciso que pague, na verdade.
Eu já resolvo tanta coisa o dia inteiro. Já decido a vida de tanta gente... trabalho, amigos, família... é muito bom poder deixar que alguém seja o mais forte um pouquinho. Mesmo sabendo que não precisa. A gente não faz as coisas realmente boas porque precisa.
E eu não estou falando que o homem precise resolver nada para mim. Só é bom estar do lado de alguém que eu saiba que, se precisasse, resolveria. E que resolveria tão bem ou melhor do que eu.
Resolver o que? Sei lá. Estou falando de atitude. Não de problemas.
O problema é que homens ficam inseguros quando ganham menos que as mulheres. E pode anotar: homens ficam irritados quando se sentem inseguros.
Você vai notar um tom de voz irritado com coisas absolutamente corriqueiras.
E os reflexos vão da insegurança mesmo... ciúmes dos amigos, do trabalho, dos decotes... até à irritação pura e simples. Irrita porque você está trabalhando no domingo, irrita porque te ligam às onze da noite, irrita porque você sugeriu irem ver aquele show no domingo e comentou que a entrada é franca... e é claro que eu sei que não é isso que o está irritando. É a coisa toda.
Aí, já sei o que vai acontecer. Pode escrever aí: ele vai ficar incomodado em muito pouco tempo. Acredite. Incomodado de me ver gastando dinheiro. E eu gasto. Não tenho filhos, moro sozinha... por que não gastaria?
E o incômodo dele vai virar irritação. E isso vai me irritar também. Pronto. Tem jeito de dar certo?
Ah, pode ser também que ele simplesmente tome uma atitude de homem... e suma!
Então, a questão, para mim, não passa pelo tanto que ele ganha, entende? Mas pelo quanto isso impacta nele.
Sabe, é algo que eu nunca vou entender... o quanto essa coisa do dinheiro incomoda aos homens.
É tão irracional isso. E tão pouco criativo!
O Rio de Janeiro tem centenas de lugares interessantes que custam praticamente nada. Primeiros e segundos encontros não são problema. Qualquer mulher acharia encantador ser levada para ver o por do sol no Arpoador, por exemplo. Eu e você sabemos que 95% (estou chutando) dos encontros não passam do primeiro mesmo, não é?
E, se passar do segundo encontro... bem, namorar é muito mais barato que não namorar.
Namorados dormem um na casa do outro. Não precisam, necessariamente, ir a um motel. Namorados podem assistir vídeos, em casa, comendo pipoca de microondas... não precisam ir sempre ao cinema.
Namorados podem dançar juntinhos na varanda... não precisam, necessariamente, fazer isso numa danceteria.
Namorados podem cozinhar juntos conversando na cozinha... não precisam ir sempre a restaurantes.
Namorados podem se deitar na grama do aterro do flamengo e ficar em silêncio vendo as nuvens.
Namorados podem ficar juntos dentro da piscina do prédio abraçados por horas, sentindo a tarde e rindo por bobagens.
Namorados podem... nossa... podem tanta coisa que não custa quase nada!
Enfim, eu não sou muito parâmetro para traçar perfis de relações. Sim, sim, claro que faz diferença se o cara não ganha absolutamente nenhum dinheiro e não se importa com isso... vive desempregado e enche os seus dias assistindo Seção da Tarde.
Só que a probabilidade dele ser um homem assim, se eu estou saindo com ele, é quase nenhuma! Sim, porque, se me interessei, certamente, vi nos olhos um algo de determinado, carinhoso e bem humorado... há poucas chances de ser uma pessoa acomodada.
Então, que diferença faz se eu ganhar mais do que ele?!?
Vamos combinar que eu não estou pretendendo me casar tão cedo, certo? Já dei essa satisfação à sociedade. Por mim, namoro para sempre o mesmo cara... Então, tenho outras coisas para pensar, quando estou com um homem, do que se ele vai ter como pagar a escola dos nossos 3 filhos... risos
Enfim, o que eu espero na vida nem sempre é o que as pessoas esperam. Também é assim com o que espero das relações.
Por hora, para esta crônica não ficar maior do que já está, vou resumir em uma frase: "quero alguém que me aceite e me transborde".
E isso passa muito, mas muuuuuito(!) longe de grana!
Outubro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Pela manhã
Entre lençóis e travesseiros
parando a manhã em arrepio
quando o dia ainda nem começou
No meio da tarde
Entre uma reunião e um projeto
abrindo um hiato de carinho
na correria do dia
Não importa
Sempre um prazer
estar com você
Sem quando
sem onde
Só prazer
Só querer
Só bem-querer
Outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
A gente se reconheceu.
Mesma linguagem,
mesmos costumes,
mesmas vontades.
Um sarau de dois.
Antes que eu percebesse, me leu inteira.
Antes que eu pedisse, me mostrou seus eus.
Antes que eu esperasse, repatriou-se em mim.
Chegou como quem volta.
Então, te recebo como quem espera.
Bem vindo de volta, poeta.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
E quando o amor floresce, mas não enraíza?
Paixão Flor de Liz alada
alçou vôo de mim
tal borboleta
recém-saída do casulo
E se, desde menina, eu sei
que não se toca
em asas de borboleta,
acha mesmo, colibri,
que te prenderia à flor?
Então, voa,
meu amor,
mas não me olhes
com esses olhos
de até quando
Precisa mesmo
saber até quando?
Se já sabemos tanto
os por quês?
É porque ainda estou com o teu gosto em mim
E porque são tantas e tão fortes as interseções
E porque vamos do lírico
ao com-ple-ta-men-te não lírico
em segundos
E porque temos a mesma linguagem
E toda essa vontade
E porque as coisas que não vão até o final não terminam
Por tudo isso
e tão mais
Sigamos até o final
Outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
Uau!
Estou aqui sem saber o que dizer
É simplesmente lindo
E completamente inusitado
E absurdamente forte
E absolutamente encantador
Pronto... acho que já disse!
Setembro de 2010
O verso nasceu imediatamente após ler um texto da minha amiga Mirea chamado "De quando vou-me... ( http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/2534888 )
Eu acompanho a Rosa (Mirea) por aqui desde que entrei no Recanto. O verso dela é daqueles que a gente lê e não cansa de reler... e que fica dizendo em voz... de tão tão tão tão lindo.
Inspirou-me versos, querida. Beijos, Flávia
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Demais... ou só muito?
Hoje tranqüilizei um amigo que acha que ando trabalhando demais.
Verdade que as últimas três semanas foram muito atribuladas mesmo. E olha que para eu achar que está muito atribulado... uau!
É que já trabalho umas 10 horas por dia normalmente. Então, pode imaginar como foram essas semanas.
Achei carinhosa a preocupação. Sempre me emocionam amigos que cuidam.
Escrevi dizendo que vou ficar bem. Isso tudo é só um projeto, com data para acabar. Portanto, logo, logo, a vida volta ao normal.
Ok... confesso! O meu “normal”, no trabalho, também é acelerado. Só que isso não é culpa do trabalho. É culpa minha mesmo. É que eu não sei fazer nada moderadamente. É tudo muito. Por benção ou sina, eu não sei, mas sempre muito.
O trabalho me desafia e me instiga. E, se tudo o que me impacta, eu acabo fazendo muito, não ia ser diferente com trabalho... não mesmo!
A preocupação do meu amigo era que eu não deixasse, por conta disso, de viver.
E, em retribuição ao carinho e zelo, contei a ele. E conto para você!
Eu posso trabalhar 10, 12 horas por dia, 6 dias por semana, mas nem por isso deixo de fazer "muito" todo o resto também...
...vez em quando varo noite lendo um livro de cabo a rabo.
...volta e meia viro madrugada dizendo poemas até o sol clarear a beirada da noite.
...a qualquer hora que um amigo me diga "vamos não-sei-aonde-fazer-não-sei-o-quê", eu vou!
...manhã ou outra, me deixo ouvindo música... até que a música não me encha só ouvidos... me percorra corpo todo e me leve com ela pela casa.
... se não me apaixono por nenhum rapaz... que rapaz apaixonante é coisa escassa em tempos virtuais, onde as pessoas querem “tc com vc”... ah, então meu verso apaixona sozinho mesmo, que é para eu não deixar nunca de lembrar do encanto que se leva no olhar.
... a qualquer minuto, meu pensamento pára o mundo para eu olhar nuvem, transbordar olho no azul, contemplar passarinho, assistir risada de criança... e me dá de presente um átimo de encanto no meio da correria.
Verdade que, nessas últimas três semanas, não deu prá fazer nada disso. Com as 15 horas de trabalho, todo dia, que o tal projeto consumiu, o sono venceu a magia.
Só que isso é só um projeto. E já vai passar. E eu, com só 10 horas de trabalho...? Ah, esse tantinho eu tiro de letra!
Com esse tantinho
a poeta
invade
a gestora
a qualquer hora
a qualquer tempo
me dando
o tanto de lúdico
que eu preciso
prá me manter
lúcida.
Setembro de 2010
domingo, 26 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Eu queria escrever um poema
de despedida.
Mas não sou boa nisso
Não, não...
Em poemas, até sou.
Sou é péssima
Em despedidas.
É que eu dou tchau
Viro as costas
E sigo a vida
Mas
para sempre
levo a pessoa comigo
Por dentro.
Você não tem noção
da quantidade de gente
que eu trago aqui comigo
Então, querido,
acha um cantinho
e se acomoda.
Aprecia a viagem.
Setembro de 2010
Quanto ao amor... ah, o amor... se a gente não se preocupa com o tamanho, a duração, a perenidade, a finalidade, o destino... e vive só o desatino, o instante, o átimo, o suspiro, o arrepio, a poesia, o riso, o cheiro, o gosto, o vôo... é menos amor por conta disso?
Devaneio pela Palavra
Setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Ah, minha amiga
que prazer te ver
fazer o que maisgosta
Dá gosto!
Nem sei se gosto mais
Das idéias deliciosas
Dos aromas de dar suspiro
Dos sabores que águam a boca
Ou de te ver
abrir esse seu sorriso
E brilhar esse teu olho
Quando inventa
Concebe
Escolhe
Cria
Cozinha
Decora
Serve
E
Simplesmente
Encanta!
Homenagem à minha amiga Roberta que cozinha divinamente.
Roberta é uma daquelas amigas que cuidam, dão foco, te amam e te aceitam.
http://fonsecadiners.blogspot.com/
Esboço de mulher despertando
Deitada meio de lado... pernas entrelaçadas em travesseiros escapam para fora do edredom que, nesta manhã, cobrem apenas coxas e ventre... O seio esquerdo ainda dorme, aninhado num travesseiro... o direito se mostra para a manhã em arrepio... e foi o bico rosado suspenso no ar que acordou a poeta... pensamento solto... mas não em versos!
Agosto de 2010
Tão bom isso que está acontecendo
Estar com você
Conversar com você
Transar com você
Rir com você
Ficar abraçada com você
Fazer amor com você
Bom demais isso tudo
Esse deixar acontecer
Esse não combinar
Esse não planejar
Tá tão gostoso assim
Eu já resolvo tanta coisa na vida
Não quero resolver a gente
Não quero que a gente siga por resolução
Prefiro que a gente siga por sentir
sentir vontade
sentir saudade
Quero que a gente siga por querer
querer estar junto
querer o outro
querer beijo
querer dizer
querer estar
Não por resolver...
Parece estranho?
Não sei se é estranho
Só sei que te quero
Setembro de 2010
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
Sobre Cubos de Gelo e Borboletas
Sinceridade mesmo?
Hoje eu acordei
precisando
de verdade
de você
entre as minhas pernas
Sim, sim...
Claro que eu queria
O abraço
O cheiro
O gosto
O beijo
O riso
A poesia
Mas, querido, acredite
tem dias
que uma mulher
também precisa
simplesmente
de um orgasmo múltiplo
com o seu homem
Mas fica tranqüilo
Está tudo bem
Uma tarde de sono
Um bolo de chocolate
Meia hora dando risada com um amigo no telefone
E está tudo bem
Então, eu te conto
Ainda não tem
cubos de gelo
dando voltas
dentro do estômago
Mas tampouco borboletas
E, sabe, sinto falta das borboletas.
Setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Laboratório de Mim Mesma
Por que me pergunta
o que sou
e como sou?
Acha mesmo
que sei?
Está bem
Claro que sei
Sei do ontem
Das quimeras
e das feras
Sei das batalhas
das muralhas
e das quedas
Sei dos vôos
dos risos
e dos amigos
Eu sei das flores
E sei dos amores
E eu sei do hoje
Do que gosto
E não gosto
Do que quero
E não quero
Eu sei céu
Sei poema
Sei lua
E sei teu beijo
Mas, olha
Não me decora
Não se fie
no que sou hoje
para aprender
de mim
Porque eu
faço laboratório
de mim mesma
me experimento
me provo
me testo
me descubro
E reinvento!
Setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Flagra
Não escrevo
para que saibam
Se fato
misturado
em verso
Se verso
adivinhado
em vontade
se conto
e quando conto
não conto
escondo
disfarço
entre palavras
entre linhas
transito nua
metáforas
em nevoeiro
mas, sabe,
já quase
acostumada
a te encontrar assim
me olhando
meio como quem chega sem ser ouvido
me encontra saída do banho
ainda secando o cabelo
com a toalha
e eu
finjo
que não te vejo
mas o corpo
confessa
em respiração e arrepio
e você
finge
que não sabe
mas sabe
que gosto
quando
me lê
Setembro de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Sobre borboletas e janelas
E a poeta entregou o lápis ao artista
E deixou que ele desenhasse o dia
E ele coloriu a tarde com riso e ritmo
Então, o artista deu a mão à poeta
E caminhou com ela pelo centro de sua história
Esboçou na noite os ecos que desenharam o homem
Mostrou a ela as suas sombras
Contou a ela de suas janelas
Então, a poeta deu a mão ao artista
E disse a ele mais do que versos
Sussurrou na noite os ecos que compuseram a mulher
Mostrou a ele as suas sombras
Contou a ele de suas batalhas
E o artista levou a poeta por um via de luz
Para dentro de sua vida
E desenhou borboletas dentro dela
Agosto de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
Eu não sonhei com você hoje
Eu não sonhei com você hoje...
Tua voz ecoou em mim
até o sono vencer
e me adormecer
o sorriso
Tua lembrança
me encheu
o pensamento
antes mesmo dos olhos
encontrarem o dia
Me conta, vai...
Se, ontem, a falta da tua voz
me fez pensar em você
dia inteiro...
O que vai ser do hoje
onde a vontade
do teu abraço
e do teu beijo
foi me buscar no sono?
E olha que eu nem sonhei com você hoje...
Agosto de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Somos em Lá
Lá onde o encanto é maior
Ele olhava a mulher, quando viu a poesia.
Naquela noite, ela só viu o poeta.
Lá onde o medo é menor
Ele mostrou os olhos.
Naquela noite, ela viu o homem.
E os dois não estranharam o inesperado.
E em nota única, se fizeram saudosos.
Saudosos do abraço ainda não dado
Saudosos do toque ainda não sentido
Saudosos do cheiro ainda não conhecido
Saudosos do gosto ainda não provado
Saudosos do ainda
Saudosos do nunca
Saudosos do sempre
E eles se reencontraram
E, naquela noite, um viu no outro
Apenas o que o outro era
E tudo o que era o outro
Despidos do estar
Vestidos do ser
Inesperado querer
Lá onde o medo é menor
Lá onde o encanto é maior
Agosto de 2010
Encantados
Antes de apaixonar, há o encantar.
Tão melhor se encantar do que se apaixonar...
Encantada, a respiração dela acelera sob o olhar dele.
Encantado, o pensamento dele busca a imagem dela pelo dia.
Encantados, se seduzem
Encantados, se conquistam
O encanto paralisa o tempo
faz escorrer os minutos
enquanto um olha
hipnotizado
a respiração do outro
O caso é que basta apaixonar para complicar tudo.
É só apaixonar e as pessoas querem resolver o que fazer com aquele sentimento.
Encantados, eles sentem.
Apaixonados, planejam.
É o princípio do fim.
Agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
terça-feira, 10 de agosto de 2010
E você, vai fazer o que daqui a 5 anos?
No mês passado, eu almocei com duas amigas numa tarde de domingo - sim, porque aos domingos, são autorizados almoços em fins de tarde.
A conversa seguia descompromissada e divertida. Assuntos leves. Bobagens entre risadas, como cabe a uma tarde de domingo.
De alguma forma, o assunto foi parar na forma como eu me vejo daqui a 5 anos.
A pergunta que combinava muito mais com um processo seletivo do que com um almoço entre amigas motivou uma gargalhada seguida por um divertido “Por quê?”
Pronto. Foi o suficiente para que se iniciasse uma seqüência de relatos preocupados com o meu estilo de vida.
E, a mim, só restou abrir mente e coração e escutar. Sentadinha, ali na minha berlinda, ouvi, com carinho e surpresa, preocupações que iam desde a minha alimentação inadequada até os meus projetos de vida.
Explico.
Carinho por ter amigas preocupadas com a minha saúde. De fato, minha completa inaptidão como dona de casa me fez descobrir que vivo perfeitamente bem com sopas congeladas e sanduíches de alface. E confesso... não faço um check up há uns 10 anos.
Surpresa por descobrir que minhas amigas se preocupavam de eu viver a vida sem me preocupar com o dia de depois de amanhã. Na verdade, não acham saudável que eu não demonstre ter um objetivo maior na vida. Por “maior”, na concepção delas, leia-se uma meta de crescimento financeiro e profissional a curto prazo.
Depois que ouvi tudo, guardei o que disseram dentro de mim para digerir em alguns dias e virei a pergunta, querendo saber o que elas estariam fazendo daqui a 5 anos, quando estivessem chegando perto dos 40.
O assunto seguiu com relatos de casamentos, filhos e promoções até que o namorado de uma delas chegou.
Pois bem, passou um mês desde aquele dia. E eu tenho revisto o que ouvi naquela tarde. Tenho pensado na minha vida. Pensado no que eu vivo hoje. Se eu quero mudar algo. O que eu quero estar fazendo daqui a 5 anos.
E eu acho que já sei - só que, antes, preciso dizer algumas coisas sobre o hoje.
Por uma conjunção rara de fatores, estou em um momento muito bom da vida.
- Minha família não está passando por problema algum.
- Meu trabalho conjuga desafio cotidiano, prazer e boa remuneração.
- O coração está em paz. Aberto, tranqüilo. Se quero um namorado? Claro que quero. Só que isso não se planeja ou procura. Sob risco de ansiedade e carência desnecessárias. Acho que é abrir o coração e “cuidar do jardim para que as borboletas venham até você”. E acho que já tem borboleta à beça em volta. Eu é que eu só namoro quando estou apaixonada. Então, o jeito é esperar.
- Minha vida sexual é compatível com o que pode acontecer para uma mulher solteira, sem namorado e que só se relaciona com homens que a deixem interessada o suficiente para querer mais de uma noite com eles.
- Minha vida social é divertida.
- Meus amigos são presentes.
- Financeiramente, eu tenho problemas administráveis.
- Meus textos estão ganhando novas instâncias... palavra escrita, palavra falada, textos publicados na internet, o Livro amadurecendo... são tantas coisas novas, tantas idéias... e elas vão surgindo naturalmente, sem eu planejar. Não funciona bem comigo planejar palavra. Seria o avesso do meu processo criativo. Mas isso é assunto longo. Dá um livro. Aliás, não só dá como o estou escrevendo.
Então, deixa eu te perguntar:
Estando o hoje tão absoluta e completamente bom, é tão estranho assim que uma pessoa realmente feliz não ocupe seus dias pensando em como mudá-lo?
Se eu não quero mais nada? Ora, claro que quero. Quem é que não quer mais?
Ser mais magra, ganhar mais, se divertir mais, namorar mais...? Quem não quer?
Só que eu não vejo essas coisas como fatores essenciais para a minha felicidade.
Ser mais magra me faria bem. Mas eu não vivo mal porque não o sou.
Ganhar mais seria bom. Mas não é ruim não ganhar tanto assim.
Se divertir mais é sempre bom. Mas não me divirto pouco.
Namorar mais seria ótimo. Só que para namorar, tem que apaixonar. Enquanto não apaixono, vou seguindo com um “quase-namorado” ou outro de vez em quando, fazer o quê.
Pessoalmente, eu acho que as minhas amigas se preocupam comigo por alguns motivos.
Primeiro porque me amam. E eu as adoro por se preocuparem.
Segundo que não entendem direito a forma como eu vivo essas coisas. Elas estão na fase dos 30 anos. Uma fase de querer. Querer casar. Querer ter filho. Querer uma promoção. Querer comprar um apartamento. E causa estranheza que alguém não tenha esse sentimento latejando dentro de si.
Aceitar que outra pessoa sinta, pense ou deseje algo diferente da gente é uma coisa muito difícil. A maioria das pessoas, quando aceita, na verdade, acata. É muito difícil entender que aquilo que faz o outro feliz, não necessariamente precisaria fazer-nos felizes também. Por amizade, pode haver uma atitude de “te amo e te aceito”. E, apenas isso, já é lindo.
Eu já vivi uma fase do “querer” quando tinha trinta e poucos anos. E foi bem gostosa. Interessante. Desafiadora. Nessa fase, eu queria muita coisa que eu não tinha na minha vida. E fiz tudo o que quis.
Isso quer dizer que eu não queira nada agora que tenho 42?
Não é isso. É que o que eu quero... bem... vamos lá:
- Quero acordar no domingo e poder deixar o dia desenhar. Deixar a vida me surpreender. Com amigos, risadas, sabores e cores não planejadas depois de uma semana inteira de rotina, planejamento e controle no trabalho.
- Quero conversar com um amigo por duas horas ao telefone porque estou com saudades.
- Quero parar no meio da rua para ver a lua porque ela está bonita. Ou uma nuvem com mais de um tom de branco. Ou um por do sol porque eu não tinha visto ainda aquele tom de roxo no céu.
- Quero o prazer de dizer um texto em voz alta e ver a emoção refletida nos olhos de quem ouve.
- Quero comer manga no café da manhã sentada na varanda... ao invés de iogurte em pé na cozinha.
- Quero dormir com ar condicionado ligado até no inverno, só para sentir a textura do edredom na pele.
- Quero escolher livros por horas numa livraria.
- Quero dar risada por nada com amigos. Jogar conversa fora. E conversa dentro.
- Quero estar com a minha família.
- Quero dançar de olhos fechados só para sentir a luz na pálpebra enquanto o som me transpassa.
- Quero andar de balão um dia.
- Quero ver o mar por dentro dia desses.
- Quero me dar manhãs... que é como eu chamo colocar o despertador para as sete só para dar tempo de ler e escrever um pouco antes de ir para o trabalho.
- Quero que um temporal me pegue de surpresa um dia, quando eu não estiver sozinha, só para sentir como é dar beijo na boca debaixo de chuva forte.
- Quero deitar num gramado em uma cidade onde o céu seja mais estrelado, que isso só tem em cidade pequena, e soltar o olho no azul e o pensamento na noite, ouvindo música. Deitar no chão para olhar céu é uma coisa muito gostosa. Se nunca fez, recomendo.
- Quero ler os livros que estão aqui em casa espalhados esperando a vez.
- Quero almoçar com amigas que me amam e se preocupam comigo.
- Quero conhecer mais sobre Ferreira Goulart, que ouvi um texto dele mais que delicioso e interessante. Um texto espelho. E ainda não deu tempo de ler a pesquisa que eu comecei sobre ele na internet.
- Quero ir ao Real Gabinete Português de Leitura, que dizem que é lindo lá.
- Quero descobrir mais sobre Oswald de Andrade, Manuel da Nóbrega e Dan Brown. Porque um amigo me falou da obra deles.
- Quero sair para dançar este ano ainda, que o orçamento não deu e eu adoro.
Caramba, eu quero muita coisa. Se sair contando tudo aqui eu vou cansar vocês – se é que já não cansei.
Mas é isso. Minhas vontades, hoje, não estão relacionadas a mudar a minha vida. Na verdade, eu estou muito feliz com a minha vida. Não vejo motivo para querer mudá-la. Pelo menos enquanto estiver feliz com ela.
E eu mudaria, se não estivesse mais feliz?
Com toda facilidade. Mudar de casa, de cidade, de emprego, de relacionamento, de opinião... são coisas que acontecem. Já fiz tudo isso algumas vezes na vida. E faria de novo. Ou por necessidade ou por vontade.
Eu já havia dito isso tudo que contei para vocês a estas duas amigas. Mas acho que o seu amor por mim faz com que se incomodem com o não entendimento das minhas prioridades – tão diferentes das delas.
Se elas lerem esse texto dirão. "Ah, mas você não se cuida. Não cuida da sua saúde. Ninguém pode viver bem à base de canja congelada e sanduíche de alface."
É verdade, eu não me cuido. Me alimento mal, não vou ao médico há séculos e recomeço a academia segunda-feira sim, segunda-feira, não.
Mas, sinceramente, credito isso aos mesmos motivos que me fazem não arrumar a cama de manhã e esquecer louça dentro da pia. Falta-me disciplina para fazer coisas que eu não gosto. Simples assim.
Tá, eu sei. É necessário. Está bem, vou recomeçar a academia de novo amanhã. E nem é segunda-feira... E vou tomar mais água.
Ah, também já fui ao cardiologista no inicio deste mês para fazer um check up.
Melhor mesmo não arriscar um infarto antes de conseguir ir aos Lençóis Maranhenses, andar de balão ou ver o mar por dentro.
Seria um desperdício.
Maio de 2010.
sábado, 24 de julho de 2010
Enluarada
lua cheia
beijos orvalhados
espalhados em pele
branca
me deixa assim
enluarada
sopro leve no pescoço
para provocar ventania
prenúncio de chuva
vendaval
tempestade ecoa
resoa
e o que
começa em um
percorre o outro
vai em vontade
volta em suspiro
vai em arrepio
volta em desejo
olho no olho
pele sobre pele
palavra sobre palavra
lua cheia
e eu assim
enluarada
Julho de 2010