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terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Teu corpo conhece o meu corpo
No teu beijo eu me perco
No teu toque eu me encontro
Teu cheiro funde com o meu cheiro
Teu gosto mistura com o meu gosto
Você sente em mim
E me devolve
Eu sinto em você
E te devolvo
E nos movemos assim
Gosto, cheiro, toque
E nos fundimos assim
Toque, cheiro, gosto
Gozo
Dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Hoje acordei com um sentimento estranho
Um não saber
Tenho levado a minha vida seguindo o meu instinto e a minha vontade
E cuidando das minhas pessoas
Desde muito cedo
Ri todo o meu riso
E chorei todo o meu choro
Soltei meu pensamento
E tranquei nos meus silêncios
Deixei vir cada onda da minha vontade
E respeitei cada não querer
E tudo sempre foi muito claro
Vontade
Ou não querer
Não saber?
Muito novo isso
Mas tudo bem
Também me permito não saber.
Dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Se tiver que chover,
que seja temporal!
que gruda olho no céu.
Temporal com vento
que gruda vestido no corpo.
Corpo molhado,
debaixo de chuva,
água escorrendo.
Vento gelando
de fora para dentro.
E teu beijo esquentando
de dentro para fora.
www.poetaflaviacortes.com.br
Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
domingo, 6 de dezembro de 2009
Neste sábado, estive num lugar chamado Kreatori – Coletivo de Arte para dizer poemas como convidada da Leila Oli. Tarefa de responsabilidade esta, já que Leila só diz textos da Adélia Prado e o faz lindamente.
Ignorei o frio no estômago, me fiz acompanhar pela minha amiga Patrícia, coloquei uns poemas na bolsa... que eu gosto de dizer de cor, mas é bom ter uma “cola” em caso de “branco”... e rumei para Laranjeiras.
A Kreatori é uma casa mágica. Fica numa rua com nome de País das Maravilhas e isso não deve ser coincidência porque você entra pelo portão de ferro e cai direto num mundo encantado.
Logo na entrada, o Fabiano e o Thiago te reencontram. Sim, a palavra é essa mesma... eles te recebem como quem não te vê há um tempo, mas estava só te esperando.
Levei dois segundos para entender porque colocaram “coletivo de arte” no nome da casa. Tem de tudo exposto... artesanato, pintura, fotografia, roupas, objetos de decoração... tudo isso espalhado em cômodos amplos de uma casa antiga e a preços incríveis. E tem música enchendo o ar, vídeos projetados numa das salas, pessoas interessantes conversando e passeando entre os cômodos...
Nos fundos da casa, um quintal recheado de detalhes saborosos na decoração. Enchem os olhos da gente as novidades. São conchas de cozinha que viraram vasinhos de plantas pendurados na parede, gaiolas de pássaros abertas... e os pássaros?... ah, esses ficam ali pelo quintal mesmo voando... tem lindas cadeiras de madeira e puffs de palha espalhados pelo espaço... um lugar para se ficar.
E foi o que fiz. Me deixei ficar por ali... ouvindo e dizendo poemas... conversando com uma gente inteligente, gentil e divertida...
Saborosa e encantada noite de sábado em Kreatori... um lugar com nome de país, terra de magia e terreno de arte.
Rio de Janeiro, dezembro de 2009
Neste sábado, eu, Roberta e Viviane nos vestimos de anúncio da C&A (vestidinhos estampados e sandalinhas de verão... risos) e tomamos o rumo de Santa Teresa.
A missão era apresentar à Viviane, de Pelotas, mais um restaurante do Rio que tenha uma comida delicioooooosa. Da última vez que a Vivi veio ao Rio, passamos uma tarde no Pax do Botafogo Praia Shopping. Neste sábado, o destino era o Bar do Arnaudo... onde, segundo a Roberta, servem a melhor carne de sol desta vida... bem... vou morrer gorda e pobre passeando com a Roberta... mas acredite... ela sabe das coisas.. e a comida estava ma-ra-vi-lho-sa.
Muita carne de sol, queijo coalho, cerveja e risada depois... tentamos uma caminhada até a casa de uma tal de Dona Alda... umas ladeiras acima... com direito a bate-papo com uma baiana e fotos tiradas no meio da rua.
Digo "tentamos" porque é claro que, depois de carne de sol e cerveja à vontade, eu não ia aguentar subir ladeira andando no sol.. e peguei um taxi.
Pois bem, chegamos na casa da Dona Alda, onde a dona da casa coloca uma plaquinha na porta avisando que vende doces. Tomamos café numa sala com cara de casa de vó, comendo doces portugueses de suspirar de olhos fechados e, de quebra, ainda descobrimos que a tal da Dona Alda também é de Pelotas - para glória da Viviane, que veio pelo caminho resmungando do absurdo de ir fazer turismo em doceiras cariocas, sendo ela de Pelotas, a Terra do Doce.
Pois bem... depois de café, bobagens e muitos Pastéis de Santa Clara e Toucinhos do Céu ... só nos restou mesmo ir para casa... porque o corpo pedia cama e ar condicionado.
Bem, foi isso... um sábado delicioso... uma mistura de parque de diversões com tour gastronômico... na companhia sempre divertida das minhas amigas Beta e Vivi.
Rio de Janeiro, novembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Diversa a forma.
Avessa à fôrma.
Que dual, plural!
E se o pensamento voa
e o meu sentimento pulsa,
minha palavra
escorre.
Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
domingo, 29 de novembro de 2009
Sem acordos e sem regras,
tua vontade ecoa em mim.
Inspiro teu desejo
e expiro minha vontade.
Meu corpo se move no teu ritmo.
Vibra na força do teu acorde.
Teu corpo de encaixa em mim
Precede a minha palavra.
Sem ensaios, eu te reflito.
Em silêncio, você me espelha.
No meu olho, eu te mostro.
No teu olho, eu me vejo.
A gente se reconhece.
E sei que te quero.
Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
De um jeito que só tardes de quarta-feira sabem correr,
quando a tua lembrança parou o tempo.
Uma lembrança para o tempo escorrer.
De um jeito que só tardes de domingo sabem escorrer.
www.poetaflaviacortes.com.br
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.
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domingo, 1 de novembro de 2009
domingo, 25 de outubro de 2009
Um dia aprende a segurar o olhar.
Será que um dia isso se aprende?
Outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Porque se a minha vontade encontra a sua vontade... a vontade volta. E se repete. E me pede prá te ver. Mas, se não for no mesmo tempo... se não for da mesma forma... se não for no mesmo tanto... mesmo que eu não saiba, mesmo que eu não veja, a minha vontade sabe. Porque a vontade da gente vê a vontade do outro... antes mesmo da gente ver.
Devaneios pela Palavra
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Poema para Paloma
As mães são sábias... pressentem os destinos dos filhos...
E em atitude de amor e instinto
Presenteiam a estes com nomes... como se desejos maternos fossem.
Imaginaria essa mãe, no primeiro grito da menina, o quão visceral seriam todos os outros?
Já sentia essa mãe, quando a menina sugou no seu peito o primeiro leite, a força e a intensidade com que sorveria cada minuto da vida?
E a menina ganhou um nome branco... nome de ser que voa.
Abre suas asas, Paloma... voa.
Setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Quando não der para ser feliz em todo o tempo,
seja feliz por uma tarde,
feliz pela manhã.
E, se não der para ser feliz por tanto tempo,
seja feliz por uma hora,
feliz por um momento,
feliz por um minuto,
feliz num pensamento.
E se não der para ser feliz
nesse minuto,
seja feliz por um segundo.
Que uma hora,
o segundo vira minuto,
e o minuto vira hora,
até a hora virar manhã.
e a manhã encontrar a tarde.
E tudo ficar bem.
De novo.
Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
domingo, 6 de setembro de 2009
raramente se reencontram
falando em “quanto tempo”?
Se disserem algo,
dirão apenas "que saudade”.
não é o mesmo que acontece
para as outras pessoas.
E os anos magicamente se fundem em um único abraço.
faz mais feliz
do que muitas horas sorrindo
do que um dia de condolências
do que uma hora de palavras
Para isso, um olhar e um segundo bastariam.
Eu tenho algumas tribos. Alguns amigos de infância e da adolescência. Irmãos que viraram melhores amigos. Amigos que são uma família. Amigos que eram amigos de amigos... e que agora são meus. Alguns amigos da faculdade. Algumas poucas pessoas do trabalho. O pessoal da Poesia. E amizades que não fazem parte de grupo algum, gente que eu fui conhecendo pela vida.
São as minhas pessoas. É uma gente bem humorada, apaixonada, intensa e carinhosa. E com gostos, histórias de vida e disponibilidades as mais variadas.
Eu tenho amigos que conheço da vida toda. E a vida tem sido melhor por conta deles.
Tenho amigos que sabem rir. Já riram comigo, riram para mim, riram de mim e riram de si mesmos. São pessoas com quem eu quero rir todo o meu riso.
Tenho amigos que sabem brigar. Já brigaram por mim, brigaram comigo, brigaram com os meus demônios. São pessoas por quem e com quem eu enfrento qualquer dragão.
Tenho amigos que sabem o que fazer com silêncios. Já me respeitaram e já me invadiram. Mas sempre estiveram ali.
E tenho amigos que conheço há tão pouquinho tempo. E já sei que a vida vai ser melhor por conta deles. São amizades à primeira vista. Amigos com quem eu tenho tanto o que rir junto e chorar junto... Por eles o sentimento não é menor. Só mais novinho. Precisa de tempo.
Amizades são como amores, vão amadurecendo, enraizando, florescendo, a cada dia. E eu cultivo as minhas.
Agosto 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Mágica e estranha a sina do poeta.
Ver o mundo virar palavra.
Deixar o olho fotografar a vida.
Digerir todo dia a si mesmo.
Sentir o ar se encher do sentimento mudo.
E esperar.
Esperar para ver se o verso veste palavra.
Esperar até as palavras rodearem devagarinho.
Até o texto vir inteiro e forte.
Até as palavras se esparramarem, cristalizadas, no papel.
E, enfim, ser igual a toda gente.
Agosto de 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
e cá estou eu a te contar de sonhos, suspiros e vontades.
Era época de te perguntar o que você faz, onde estudou, o que planeja
e cá estou eu te perguntando o que te encanta, instiga e desafia.
Era época de eu te falar do trabalho, da família, dos amigos
e eu me encontro te falando do que contenho e excedo.
Era tempo de eu querer saber onde mora, se tem um hobbie
e eu me encontro querendo saber o que tem esperado, suspirado, transpirado.
Era tempo de contar o que fiz ontem
e cá estou eu te contando do meu lugar do sonho e de como escolho livros.
Era tempo de saber o que vai fazer hoje
e eu me encontro querendo saber o que te faz feliz.
O tempo era de ser educada e simpática
e eu me vejo contando hábitos estranhos ao mundo,
te falo sobre poemas ditos na varanda,
mostro as metáforas que pulsam nas minhas palavras.
Mas o tempo
fundiu minuto em hora
no momento em que o espelho refletiu.
E a época
abriu o espaço
no instante em que nos reconhecemos.Agosto de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
O lugar do sonho é aquele que fica impresso na retina no momento exato em que você olhou para ele. Basta um olhar e a imagem fica guardada na alma. E brinca de vez em quando com a sua vontade.
O legal é que o lugar do sonho pode mudar. Porque se você é dessas pessoas que, como eu, têm mania de trazer sonhos para a realidade, uma hora dessas o lugar vai sair do sonho para entrar na lembrança... com todas as suas cores, sabores, sons, cheiros e toques. Vai deixar de te arrancar suspiros para te trazer sorrisos.
A primeira vez que isso me aconteceu eu fiquei quase triste. Senti falta de sonhar acordada com o lugar. Mas isso durou pouco... só até ver pela primeira vez o meu lugar do sonho. Um lugar que parece um pedaço do céu grudado no chão e que tem um nome que lembra manhãs de domingo.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Trabalho, família, momentos... nada disso nunca foi motivo para não viver, não fazer... sem saber, sem poder... O único motivo é não querer. Fácil e simples. Não precisa explicar. Não precisa entender. Não precisava nem dizer.
Então, relaxa. Sedutor é o reflexo. Encantador é o eco. Se você não quer... como posso eu, então, querer?
Agosto de 2009
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Eu sabia, desde a hora que acordei, que não viriam... mas esperei assim mesmo. Assim como quem espera ligação de namorado novo. A gente sabe que não vai acontecer, mas espera. E a espera também é boa.
Deu vontade de dar uma ligadinha para as minhas palavras. Eu não sou muito boa nessa coisa de esperar. Mas aí, lembrei que tinha que ir ao mercado e saí para o meu domingo. Estranho e mudo domingo.
Agosto de 2009
domingo, 2 de agosto de 2009
Abri a porta para você. Verdade que eu só queria te ver um pouco. Mas você chegou aqui e me olhou desse jeito que só você olha. E me tocou desse jeito que ninguém mais toca. Teu toque derreteu o tempo e fez da hora a certa.
Eu te vi ir antes mesmo de você sair. Tudo bem. Eu que te deixei entrar. Então eu deixo você ir. Me faz um favor, vai. Encosta a porta para mim quando você sair.
Julho de 2009
sábado, 1 de agosto de 2009
Arrasta para o centro da sala a sua cama. Troca as cortinas. Esvazia as gavetas. Tira do armário os lençóis novos. Joga fora os sapatos velhos. Compra uma cafeteira nova. Coloca um vaso de flores no banheiro. E pendura quadros novos nas paredes.
Se não funcionar...
Arrasta para o centro da cama as suas gavetas. Tira as cortinas. Joga fora os lençóis. Esvazia a cafeteira. Coloca na geladeira os sapatos velhos. E tira do armário as flores.
Julho de 2009
Brincando de Réplicas com a minha amiga Alice
Confiram o poema que gerou este:
http://loucurasfemininasdealice.blogspot.com/2009/07/alguma-coisa-esta-fora-da-ordem-na.html
Viro, eu também, o espelho através do vidro.
Que gosto é esse pelo abismo? Que atração é essa pela queda? Olhamos pela encosta, qual asnos, hipnotizados. A certeza do impacto não reduz, em nada, a sedução do vôo.
Nossa fragilidade nos fortalece. Nossa incoerência nos seduz. Relevamos a nós mesmos, mas também ao outro. Revelamos a nós mesmos, mas raramente ao outro. Perdemos a nós mesmos e também ao outro. Mas seguimos.
Julho de 2009
Este escrevi para um amigo que tem o desconcertante hábito de me virar espelhos de repente. Alguns, inclusive, em que eu ainda não tinha olhado.
Gosto quando você me conta das suas histórias e das suas vitórias.
Te falo das batalhas que briguei por dentro.
Te conto dos medos que venci sozinha.
Entendo quando você me conta dos seus receios e dos seus defeitos.
A gente se reconhece.
Te deixo me beijar por dentro e aprender meus beijos.
Aprendo o teu abraço.
Gosto quando você me olha, me vê e me traduz.
Gosto de olhar para você, bonito e nu,
contando para mim das coisas que você ama.
A gente se seduz.
Gosto de saber que posso me amparar em você,
mas que você sabe que isso vai ser muito raro.
E que não se incomoda com isso.
É bom me encontrar em você.
E é muito bom saber
que você sabe
que, se precisar, eu me perco de você.
Só não sei me perder de mim.
Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
domingo, 26 de julho de 2009
Acordei de manhã com vontade de letra. É uma mistura isso. É uma fome de poesia que vem junto com sede de música.
Liguei a música e fui passear nos versos da Adélia... inútil isso... não dá para sentir poesia ao mesmo tempo que se ouve música... embaralham as palavras umas com as outras... não combinam os sons...
Então, fiquei com as melodias gracinhas da Zélia, que vêm com letras que dão vontade de correr para a varanda e músicas que fazem o corpo se movimentar sozinho, suavemente, enquanto a mente esvazia da letra e se enche do som.
Julho de 2009
(manhã chuvosa de domingo... lendo, dizendo, ouvindo e sentindo "Pelo Sabor do Gesto")
Para quem também quiser:
http://www.radio.uol.com.br/#/busca/album/Pelo Sabor do Gesto Sabor do Gesto
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Só não espero a tua vontade.
Não espero eco.
Mais que mostro, conto.
Não calo o que abala.
Não escondo sorrisos.
Não abafo suspiros.
Se te quero, eu digo.
Se sinto, eu falo. Se me quer,
muito pouco me abala.
Derreto no teu beijo, me desfaço no teu toque.
Mas se não me seduz, não me cativa.
Se não me desafia, não te guardo.
Se não me instiga, não me tem.
Eu quero que você vença.
Mas não vou te deixar ganhar.
Então,
duvido.
Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
Julho de 2009 – minutos antes do som do despertador me arrancar da cama
sexta-feira, 17 de julho de 2009
É que tem a questão da intensidade. E tem a coisa da vontade.
Não sei viver as coisas de outra forma que não seja muito. Faço intensamente. Vivo inteiramente. Sofro profundamente. Meu riso não é metade. Meu choro não é contido. Se me fecho, eu tranco. Se me abro, eu mostro. Eu me permito. Me perco na minha vontade e nela também me encontro. Meu gozo é onda.
Tem sempre um sorriso chegando ou saindo. Ou, então, grudado nos olhos. Mas vivo as minhas tristezas. Plenamente. E, às vezes no mesmo dia, as guardo.
Eu choro a minha lágrima para fora. Se você nunca viu é porque preciso de privacidade para chorar. Preciso de liberdade para me derramar. Irrita-me um pouco esse ímpeto que as pessoas têm de secar a lágrima e interromper o pranto. Se um dia eu chorar na sua frente, não me consola, vai. Ou chora comigo ou, então, me abraça. Mas me deixa chorar.
Eu acho sempre com muita propriedade. Coerente, articulada, decidida, equilibrada. Não fosse a vontade... nem sempre o que eu quero é igual ao que eu acho.
Decido que espero você me ligar. E espero. Até a vontade de ouvir a sua voz me fazer quebrar o protocolo. E quebro. Acho melhor não te contar de mim. E não conto. Até você me olhar por dentro, desse jeito que você faz, e me dar essa vontade de te dizer. E digo. Resolvo que não faço. E não faço. Até a vontade me encontrar de novo. E faço. Sei que é melhor não te deixar ir além. E não deixo. Até a vontade chegar de mansinho. E peço.
A dupla face não é máscara. É o meu avesso. Mas sou eu.
Julho de 2009
quarta-feira, 15 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
Meu olho escancara,
sem qualquer reserva,
o que sou.
Mergulha, então, nas minhas janelas.
Revira, sem pudor, as minhas gavetas.
Sou inteira e nua.
Aberta e exposta.
Mas olha de novo amanhã,
e depois de amanhã,
e também depois...
Entende o meu avesso.
Confira o poema que gerou este em:
http://loucurasfemininasdealice.blogspot.com/2009/02/eu-sou-uma-farsa-nao-sou-nada-do-que-ve.html
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Chego em casa, por volta das sete da noite e uma amiga liga para saber de mim... se tinha melhorado, onde estava... esses cuidados que os amigos têm uns com os outros quando se sabem doentes.
Tranqüilizada por mim, que ainda não estou bem, mas já me considero boa, vem a pergunta:
“Mas onde você foi, afinal?”
“Ah... dei só uma passadinha numa livraria, que o meu livro acabou ontem... coisa rápida... já estou chegando em casa...”
A gargalhada da minha amiga me interrompe.
Na verdade, continua.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Me conta da tua vida....me fala da tua história... o que faz... onde mora... em que trabalha... me fala dessas coisas que gente precisa saber.
Quem sabe assim eu entendo essa intimidade sem tempo... essa química estabelecida pela palavra.... sem o olhar, sem o sorriso, sem o gosto... sem o cheiro... sem o toque.
Me conta do teu dia... me fala do que comeu... me diz o que sonhou.
Quem sabe assim eu entendo essa certeza... certeza do beijo dando em suspiro... certeza do toque dando em arrepio... certeza do gosto... certeza do gozo.
Me diz o que você acha... me fala o que você pensa... me conta das coisas que a gente precisa saber.
Quem sabe assim eu entendo.
Julho de 2009
domingo, 5 de julho de 2009
Manhãs... (devaneios pela palavra)
Texto 01
Acho fascinantes manhãs de domingo. É como abrir presentes... tiro o laço do dia e abro a manhã devagarinho.
Texto 02
Inquieta manhã. Acordei com o dia sussurrando possibilidades no meu ouvido... me dando vontades. Tentei não dar muita bola, fingi que dormia, mas não teve jeito. Riu no meu ouvido, brincou com os meus desejos, falou do que podíamos fazer juntos... me conhece bem o dia.
Manhã de domingo – Julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Abraço em Texto para uma Amiga
Levanta os olhos, minha amiga.
Deixa a vida entrar de novo na sua vida.
Deixa o sol iluminar o seu rosto
e o vento levar o seu corpo.
Que, sem isso, também não tem graça.
Deixa o riso invadir o seu dia
e a música guiar os seus passos.
Deixa um amigo te abraçar.
Que, sem isso, também não tem como.
Deixa a coisa acontecer,
deixa o rio correr,
deixa a vida seguir.
Se hoje é o último dia do fim,
amanhã é o começo.
O por do sol também é um final.
O fim não precisa ser feio.
Flávia Côrtes - Julho de 2009
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quarta-feira, 1 de julho de 2009
Cochilo
Acordou com um cansaço essencial. Cansaço do corpo.
A rotina a arrastou para o dia. O corpo, relutante, seguiu a agenda. A voz rouca, os músculos doloridos, a mente embaçada... mas seguiu.
Meio do dia, almoço em casa, ela se rende ao corpo.
Suspira abraçada ao travesseiro.
O lençol faz um carinho de leve na pele,
o edredom a abraça,
os olhos pesam
e ela se entrega a escuridão.
Daqui a pouco, segue para a semana alucinada no trabalho.
Daqui a pouco a mente volta a girar.
Daqui a pouco, a alma volta a voar.
Mas só daqui a pouco.
(Flávia Côrtes - Julho de 2009)
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terça-feira, 30 de junho de 2009
domingo, 28 de junho de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Quanto ao lado B... ele existe... só isso. Para o bem e para o mal. Às vezes, me mete em confusão, às vezes em coisas boas... é a vida. Mas é só um dos muitos lados que tenho. Criança, mulher, inocente, devassa, objetiva, enrolada, romântica, sexual, carinhosa... sou tudo isso... sem hora, sem aviso, sem pudor.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Explico: já viu os olhos das pessoas quando fazem alguma coisa demais?
Pode reparar. É um olhar levemente embaçado, um pouco disperso, acompanhado de um meio sorriso. É um olhar pós-suspiro.
Para levar esse olhar no rosto, a pessoa tem que ter comido doce demais, ou rido demais, ou dançado demais, ou amado demais, ou se divertido demais... Pode ser por qualquer coisa, mas tem que ter sido demais.
Pois é, eu estou indo para a semana assim.
Maio de 2009
Trecho de um e-mail enviado a um amigo (Devaneios pela Palavra)
terça-feira, 23 de junho de 2009
(Devaneios pela Palavra)
Descobri hoje, chocada, que as estórias da minha infância precisam ser reescritas. Precisam perder o som arredondado, o algo de suspiro, a insinuação de sorriso. Sob pena de não mais existirem.
Hoje descobri. Nunca existiu “estória”. Foi apenas uma palavra proposta. Não contaram quem propôs. Recomenda-se o uso da palavra “história”. Não disseram quem recomenda, mas parecia sério.
Obediente e aplicada, ainda que desolada, reli alguns textos e removi a palavra, colocando no lugar a organizada, geométrica e objetiva “história”.
Num passe de mágica, um parágrafo doce perdeu metade do encanto.
O avô quase parou de sorrir, a Sininho recusou-se a voar, Wendy tapou os olhos dos meninos para que não vissem, a Emília disse uma asneira... foi um rebuliço no conto.
Desfiz as alterações, escondida, torcendo para que ninguém perceba.
E estou aqui, em luto, velando a minha palavra. Neguei, enfureci, deprimi. Ainda não aceitei a perda.
Por favor, tenham paciência. Assim que eu puder eu guardo as minhas estórias dentro de mim e as removo do papel. Hoje, não dá.
Junho de 2009
domingo, 21 de junho de 2009
Então, muito cedo, a menina fez as pazes com a mulher.
Nesse dia, a menina lembrou à mulher como fazia para soltar o pensamento no vento, em um único salto, sem medo da queda.
E a mulher contou à menina que ela não precisava brincar com bonecas... tinha resolvido apenas amar as crianças.
Aí, a menina lembrou à mulher como fazia para rodar o corpo ao contrário, sempre que o mundo parecesse girar rápido demais.
E a mulher contou à menina que ela podia sair em expedições, não precisava brincar de casinha... tinha resolvido ter apenas um lar... e vivia perfeitamente bem com comida congelada.
A menina deixou-se levar pela mão... e aprendeu o que todas as mulheres gostam.
A mulher deixou-se levar pela mão...e lembrou do que todas as meninas gostam... e também das coisas que apenas a sua menina parecia gostar.
Nos anos seguintes, as duas aprenderam juntas, riram juntas e também choraram juntas.
E ela percorreu cidades... e descobriu esconderijos... e escolheu as passagens... e invadiu fortalezas... e derrubou os seus muros.
Hoje, as folhas das árvores não são mais peixes... mas as nuvens continuam dançando quando ela canta... e as pessoas trazem estórias interessantíssimas.
Não é mais o urso que dorme com ela. A Emília ganhou muitos nomes e rostos e elas saem juntas para dançar. O caderno não precisa mais salvá-la, mas está sempre por perto.
Ah... e ela também gosta de fazer as coisas que todas as outras mulheres gostam.
Junho de 2009
quarta-feira, 17 de junho de 2009
A normalidade é chata.
TEXTO 1 - Do que gosta uma menina?
Não tinha mais do que três anos e a avó a levava pela mão até o jornaleiro. Iam comprar um livro de colorir. A menina saltava os paralelepípedos, de dois em dois, e o sol transbordava raios dourados por entre as folhas das amendoeiras. Sabia que a cada desenho pintado, o avô contaria uma estória. Achava bom colorir os desenhos, mas não era por eles a excitação. O que a encantava mesmo eram as estórias do avô.
Devia ter uns quatro anos e o corpo pequeno de menina estava deitado no sofá verde da sala. Não queria terminar o leite. Preferia brincar. Lembra de ter dito ao avô que estava com dor de barriga. Lembra também do sorriso dele quando perguntou se queria ouvir uma estória enquanto terminava a mamadeira. Ela quis.
A menina estava no banco de trás do carro falando sozinha. A mãe percebeu que não eram as estórias de costume. Levou apenas um momento para notar que lia em voz alta os letreiros das lojas. Tinha cinco anos e os pais descobriram que ela aprendera a ler.
Aos oito anos passou um mês dentro do quarto depois do seu aniversário. O pai a presenteou com a coleção completa de Monteiro Lobato e ela simplesmente não conseguia se separar da Emília que, diga-se de passagem, era imensamente mais interessante que a Narizinho.
No mesmo ano, uma pneumonia deixou a menina uma semana no hospital. Não queria ficar quieta no quarto e os pais negociaram com ela: um livro para cada injeção. Saiu de lá com 40 livros novos e não se lembra até hoje das injeções. Mas recorda-se com clareza de ter voado pela primeira vez com a Sininho naquela semana. A chata da Wendy preferiu ficar cuidando dos meninos.
Gostava de brincar de bonecas com a irmã, mas as suas sempre foram mais despenteadas e sujas... o que ela podia fazer se as bonecas gostavam de brincar na rua?
Sempre achou mais interessante sair em aventuras com o irmão. Percorriam países inteiros pedalando pelo quarteirão, descobriam esconderijos de espiões nos prédios vizinhos, encontravam passagens secretas em obras inacabadas, escalavam muros de castelos na vizinhança, invadiam fortalezas escondendo-se dos guardas na fábrica do fim da rua...
E as folhas das árvores eram peixes... e os bonecos de nuvens dançavam quando ela cantava para eles... e os passarinhos traziam estórias interessantíssimas de sua viagens...
Tinha 10 anos quando os pais deram a ela um caderno para escrever o que quisesse.
Da infância, lembra-se bem de três presentes: um urso que dormia com ela, os livros que trouxeram a Emília e aquele caderno. Ela não sabia ainda, mas nem o urso nem a Emília iam poder ajudá-la nos anos seguintes... seria o caderno a salvá-la.
Era uma menina feliz. Nunca percebeu que gostava de fazer coisas que a maioria das outras crianças não gostava.
Esse é o primeiro de dois textos. Faz parte desse grupo de contos também o texto "Do que gosta uma mulher?"
domingo, 14 de junho de 2009
Será que foi bom?
Você não acha "bom" uma palavra ruim? Nunca vi ninguém descrever algo que tenha realmente valido a pena como "bom".
O "bom" é morno. Só tem expressão quando acompanhado. Ou não convence ninguém.
Para que haja suspiro, o beijo tem que ter sido “bom demais”;
Para que haja mérito, o resultado tem que ter sido “muito bom”;
Deitada no seu abraço, só dá para dizer… “hummm… bom…”
Até o doce… é “bombom”.
Refaço a frase: O meu fim de semana foi delicioso.
Este nasceu no meio de um e-mail enviado a um amigo (Devaneios pela Palavra)
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Texto 01 – Abram as cortinas
Ela não entrou na juventude, estreou. Subiu no palco, diretora de si mesma. Em um só ato, protagonizou paixão, maquiou dor, iluminou versos. Coreografou as próprias vitórias. Orquestrou as próprias conquistas. Dirigiu seus desatinos.
Na coxia, ri a menina
Da pretensão da mulher
E aplaude.
Texto 02 – Verdes anos
Sem pedir licença, veio a luta.
Moça, nem percebeu.
Diana, afagou os leões.
E não houve pipoca no jantar, luz cortada ou ordem de despejo que tirasse o riso ou interrompesse o verso.
Sabia: no final tudo dá certo. Se não deu certo ainda, é porque ainda não acabou.
Texto 03 – O trabalho e o sonho
Trabalhar mesmo, começou cedo, ou não pagava conta.
No início, por dinheiro. Depois, por desafio. Um dia, para não perder-se. Por fim, por encontrar-se. Enfim, por sonho.
Texto 04 – Que idade você tem?
Já me disseram muitas vezes que eu não aparento a idade que tenho. Normalmente, respondo só com um sorriso.
Mas, às vezes, o interlocutor insiste e o jeito é dar crédito à genética, que me deu uma pele boa, ao riso que me acompanha ou ao pouco sol que tomei nessa vida.
É a face mais fácil da resposta e eu a uso sem pudor, por preguiça de explicar. A verdade inteira fica guardada com as mesmas convicções que me fazem não desistir de escolher sorvetes pela cor, de gostar de ler poesia em voz alta e só escrever quando as palavras começam a rodar em volta de mim.
Tem dia que acordo neném e nem ligo... me enrolo em feto e deixo a manhã me ninar. Tem hora que me permito velha e vejo cética.... Aí, antes que doa, rodo o olho no azul e deixo a luz entrar pela retina, direto, até a alma. Suspiro e solto a menina. Criança, sorrio confiante e crio. Em um minuto, mulher, resolvo, faço, organizo, desorganizo, desfaço, sinto... Dispersa, intercalo a menina com a mulher, sem precisar, sem querer, sem poder... sem saber ou simplesmente por ser.
Eu é que tenho a idade, não é a idade que me tem.