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terça-feira, 30 de junho de 2009


Eu tenho que parar com isso. Ando muito condescendente comigo mesma.
Tenho feito todas as minhas vontades... não faço nada que não queira...
Se continuar assim, vou acabar me estragando.

Junho de 2009

domingo, 28 de junho de 2009



Quem percorre meus caminhos sabe... estou muito mais para Estrada de Santos do que para Perimetral.
Junho de 2009

E se


Eu não tenho travas.
Eu não tenho tempos... eu não tenho como... quando ... onde... ou mesmo por que.
Eu não tenho pudores...eu não tenho receios.
Sem pudores e sem receios, vivo.
Nasci sem o “se”.

Madrugada, em junho de 2009.

sexta-feira, 26 de junho de 2009


Quanto ao lado B... ele existe... só isso. Para o bem e para o mal. Às vezes, me mete em confusão, às vezes em coisas boas... é a vida. Mas é só um dos muitos lados que tenho. Criança, mulher, inocente, devassa, objetiva, enrolada, romântica, sexual, carinhosa... sou tudo isso... sem hora, sem aviso, sem pudor.

Junho de 2009
Trecho de e-mail a um amigo (Devaneios pela Palavra)

quinta-feira, 25 de junho de 2009


Agora estou aqui, nesta segunda-feira, mais cansada que na sexta... mas levo comigo um olhar "demais"'.

Explico: já viu os olhos das pessoas quando fazem alguma coisa demais?

Pode reparar. É um olhar levemente embaçado, um pouco disperso, acompanhado de um meio sorriso. É um olhar pós-suspiro.

Para levar esse olhar no rosto, a pessoa tem que ter comido doce demais, ou rido demais, ou dançado demais, ou amado demais, ou se divertido demais... Pode ser por qualquer coisa, mas tem que ter sido demais.

Pois é, eu estou indo para a semana assim.

Maio de 2009
Trecho de um e-mail enviado a um amigo (Devaneios pela Palavra)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Minhas estórias não serão mais as mesmas.
(Devaneios pela Palavra)

Descobri hoje, chocada, que as estórias da minha infância precisam ser reescritas. Precisam perder o som arredondado, o algo de suspiro, a insinuação de sorriso. Sob pena de não mais existirem.

Hoje descobri. Nunca existiu “estória”. Foi apenas uma palavra proposta. Não contaram quem propôs. Recomenda-se o uso da palavra “história”. Não disseram quem recomenda, mas parecia sério.

Obediente e aplicada, ainda que desolada, reli alguns textos e removi a palavra, colocando no lugar a organizada, geométrica e objetiva “história”.

Num passe de mágica, um parágrafo doce perdeu metade do encanto.

O avô quase parou de sorrir, a Sininho recusou-se a voar, Wendy tapou os olhos dos meninos para que não vissem, a Emília disse uma asneira... foi um rebuliço no conto.

Desfiz as alterações, escondida, torcendo para que ninguém perceba.

E estou aqui, em luto, velando a minha palavra. Neguei, enfureci, deprimi. Ainda não aceitei a perda.

Por favor, tenham paciência. Assim que eu puder eu guardo as minhas estórias dentro de mim e as removo do papel. Hoje, não dá.

Junho de 2009

domingo, 21 de junho de 2009

A normalidade é chata.
TEXTO 2 - Do que gosta uma mulher?

Então, muito cedo, a menina fez as pazes com a mulher.

Nesse dia, a menina lembrou à mulher como fazia para soltar o pensamento no vento, em um único salto, sem medo da queda.

E a mulher contou à menina que ela não precisava brincar com bonecas... tinha resolvido apenas amar as crianças.

Aí, a menina lembrou à mulher como fazia para rodar o corpo ao contrário, sempre que o mundo parecesse girar rápido demais.

E a mulher contou à menina que ela podia sair em expedições, não precisava brincar de casinha... tinha resolvido ter apenas um lar... e vivia perfeitamente bem com comida congelada.

A menina deixou-se levar pela mão... e aprendeu o que todas as mulheres gostam.

A mulher deixou-se levar pela mão...e lembrou do que todas as meninas gostam... e também das coisas que apenas a sua menina parecia gostar.

Nos anos seguintes, as duas aprenderam juntas, riram juntas e também choraram juntas.

E ela percorreu cidades... e descobriu esconderijos... e escolheu as passagens... e invadiu fortalezas... e derrubou os seus muros.

Hoje, as folhas das árvores não são mais peixes... mas as nuvens continuam dançando quando ela canta... e as pessoas trazem estórias interessantíssimas.

Não é mais o urso que dorme com ela. A Emília ganhou muitos nomes e rostos e elas saem juntas para dançar. O caderno não precisa mais salvá-la, mas está sempre por perto.

Ah... e ela também gosta de fazer as coisas que todas as outras mulheres gostam.


Junho de 2009

Esse é o segundo de dois textos. Faz parte desse grupo de contos também o texto "Do que gosta uma menina?"

quarta-feira, 17 de junho de 2009


A normalidade é chata.
TEXTO 1 - Do que gosta uma menina?


Desde muito cedo, as lembranças se misturaram às palavras.

Não tinha mais do que três anos e a avó a levava pela mão até o jornaleiro. Iam comprar um livro de colorir. A menina saltava os paralelepípedos, de dois em dois, e o sol transbordava raios dourados por entre as folhas das amendoeiras. Sabia que a cada desenho pintado, o avô contaria uma estória. Achava bom colorir os desenhos, mas não era por eles a excitação. O que a encantava mesmo eram as estórias do avô.

Devia ter uns quatro anos e o corpo pequeno de menina estava deitado no sofá verde da sala. Não queria terminar o leite. Preferia brincar. Lembra de ter dito ao avô que estava com dor de barriga. Lembra também do sorriso dele quando perguntou se queria ouvir uma estória enquanto terminava a mamadeira. Ela quis.

A menina estava no banco de trás do carro falando sozinha. A mãe percebeu que não eram as estórias de costume. Levou apenas um momento para notar que lia em voz alta os letreiros das lojas. Tinha cinco anos e os pais descobriram que ela aprendera a ler.

Aos oito anos passou um mês dentro do quarto depois do seu aniversário. O pai a presenteou com a coleção completa de Monteiro Lobato e ela simplesmente não conseguia se separar da Emília que, diga-se de passagem, era imensamente mais interessante que a Narizinho.

No mesmo ano, uma pneumonia deixou a menina uma semana no hospital. Não queria ficar quieta no quarto e os pais negociaram com ela: um livro para cada injeção. Saiu de lá com 40 livros novos e não se lembra até hoje das injeções. Mas recorda-se com clareza de ter voado pela primeira vez com a Sininho naquela semana. A chata da Wendy preferiu ficar cuidando dos meninos.

Gostava de brincar de bonecas com a irmã, mas as suas sempre foram mais despenteadas e sujas... o que ela podia fazer se as bonecas gostavam de brincar na rua?

Sempre achou mais interessante sair em aventuras com o irmão. Percorriam países inteiros pedalando pelo quarteirão, descobriam esconderijos de espiões nos prédios vizinhos, encontravam passagens secretas em obras inacabadas, escalavam muros de castelos na vizinhança, invadiam fortalezas escondendo-se dos guardas na fábrica do fim da rua...

E as folhas das árvores eram peixes... e os bonecos de nuvens dançavam quando ela cantava para eles... e os passarinhos traziam estórias interessantíssimas de sua viagens...

Tinha 10 anos quando os pais deram a ela um caderno para escrever o que quisesse.

Da infância, lembra-se bem de três presentes: um urso que dormia com ela, os livros que trouxeram a Emília e aquele caderno. Ela não sabia ainda, mas nem o urso nem a Emília iam poder ajudá-la nos anos seguintes... seria o caderno a salvá-la.

Era uma menina feliz. Nunca percebeu que gostava de fazer coisas que a maioria das outras crianças não gostava.

Junho de 2009
Esse é o primeiro de dois textos. Faz parte desse grupo de contos também o texto "Do que gosta uma mulher?"

domingo, 14 de junho de 2009


Será que foi bom?
O meu fim de semana foi bom.
Você não acha "bom" uma palavra ruim? Nunca vi ninguém descrever algo que tenha realmente valido a pena como "bom".
O "bom" é morno. Só tem expressão quando acompanhado. Ou não convence ninguém.
Para que haja suspiro, o beijo tem que ter sido “bom demais”;
Para que haja mérito, o resultado tem que ter sido “muito bom”;
Deitada no seu abraço, só dá para dizer… “hummm… bom…”
Até o doce… é “bombom”.
Refaço a frase: O meu fim de semana foi delicioso.

Este nasceu no meio de um e-mail enviado a um amigo (Devaneios pela Palavra)
Maio de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Meia vida em quatro atos - QUARTO ATO – A era de Aquário

Por esta, vocês vão ter que esperar.
É preciso viver, é preciso aprender, é preciso acordar.
A festa ainda vai começar...


Conjunto de Contos e textos (2009)
Meia vida em quatro atos - TERCEIRO ATO – Senhoras e Senhores, respeitável público, com vocês, a mulher

Texto 01 – Abram as cortinas

Ela não entrou na juventude, estreou. Subiu no palco, diretora de si mesma. Em um só ato, protagonizou paixão, maquiou dor, iluminou versos. Coreografou as próprias vitórias. Orquestrou as próprias conquistas. Dirigiu seus desatinos.
Na coxia, ri a menina
Da pretensão da mulher
E aplaude.

Texto 02 – Verdes anos

Sem pedir licença, veio a luta.
Moça, nem percebeu.
Diana, afagou os leões.
E não houve pipoca no jantar, luz cortada ou ordem de despejo que tirasse o riso ou interrompesse o verso.
Sabia: no final tudo dá certo. Se não deu certo ainda, é porque ainda não acabou.

Texto 03 – O trabalho e o sonho

Trabalhar mesmo, começou cedo, ou não pagava conta.
No início, por dinheiro. Depois, por desafio. Um dia, para não perder-se. Por fim, por encontrar-se. Enfim, por sonho.


Texto 04 – Que idade você tem?

Já me disseram muitas vezes que eu não aparento a idade que tenho. Normalmente, respondo só com um sorriso.

Mas, às vezes, o interlocutor insiste e o jeito é dar crédito à genética, que me deu uma pele boa, ao riso que me acompanha ou ao pouco sol que tomei nessa vida.

É a face mais fácil da resposta e eu a uso sem pudor, por preguiça de explicar. A verdade inteira fica guardada com as mesmas convicções que me fazem não desistir de escolher sorvetes pela cor, de gostar de ler poesia em voz alta e só escrever quando as palavras começam a rodar em volta de mim.

Tem dia que acordo neném e nem ligo... me enrolo em feto e deixo a manhã me ninar. Tem hora que me permito velha e vejo cética.... Aí, antes que doa, rodo o olho no azul e deixo a luz entrar pela retina, direto, até a alma. Suspiro e solto a menina. Criança, sorrio confiante e crio. Em um minuto, mulher, resolvo, faço, organizo, desorganizo, desfaço, sinto... Dispersa, intercalo a menina com a mulher, sem precisar, sem querer, sem poder... sem saber ou simplesmente por ser.

Eu é que tenho a idade, não é a idade que me tem.
Conjunto de Contos e textos (2009)
Meia vida em quatro atos - SEGUNDO ATO - da era do chumbo à era do bronze

A adolescência encontrou a menina soterrada em si mesma.

Do lado de fora, a vida seguia com vagar, como devem seguir estes anos. Uma sucessão de dias leves e descompromissados, uma seqüencia de ”escola, cinema, inglês, clube, televisão...”

Do lado de dentro, de volta à terra, como quem volta ao útero. Despojou-se de qualquer outro elemento, em tentativa inútil de retroceder no tempo. Como se isso fosse suficiente para desfazer o mal, reverter a mágoa, desfazer o que não era nominável.

Só não perdeu-se de si por teimosia.

Segurou as lágrimas até desaprender a chorar. Encarou o espelho até não se importar com o olhar. Forçou o sorriso até ter vontade de sorrir. E negou o que doía, até que ela mesma não sabia mais da dor. E entendeu que isso era bom.

Seqüelas? Praticamente nenhuma. Uma ferida fechada, normalmente indolor. Em alguns dias, levemente sensível. Em raríssimas ocasiões, um leve latejar.

Por fim, foi salva da asfixia pela palavra. Pela palavra digeriu a si mesma. E também por ela conectou-se ao mundo novamente. Ao seu mundo e àquele que passou a se descortinar em frente aos seus olhos.

E a vida voltou ao seu curso. Novamente intensa, mais uma vez divertida, de novo encantada... pela sua própria vontade. Mas ainda assim encantada. E ela entendeu que isso era bom.

E assim foi até os loucos anos, que chegaram para ela um pouquinho antes dos vinte. Mas isso já é outra estória.
Conjunto de Contos e textos (2009)
Meia vida em quatro atos - PRIMEIRO ATO - Ninguém é uma ilha.
(Auto- retrato da infância. E primeiro texto escrito sem destinatário)


Não se sabe se Deus foi carinhoso ou sacana quando plantou aquela menina da primeira semana de setembro naquela família. Um pedacinho de terra em meio a ar, fogo e água.

A menina cresceu agarrada à própria terra, para não se perder... encantada demais com o que via a sua volta.

Era impossível não encantar-se com a intensidade do pai, protetor eterno da família, sedutor e vibrante em seu próprio brilho, espalhando força e calor pelos cantos da casa. Bravo às vezes, carinhoso sempre... para ela raramente um rugido.

Assim como foi inevitável deixar-se levar pelas palavras quase ininterruptas da mãe, também mulher, como ela, mas com dupla face e humor, alma gêmea bivitelina de si mesma. Conselheira constante, com opiniões as mais inusitadas, soprou na própria filha mais que vida. Soprou sonho, soprou compaixão. E mostrou, desde cedo, à teimosa filha da terra, a beleza de se permitir mudar de idéia.

Os irmãos, um do ar e outro da água, rodearam a pequena ilha, soprando carinho, ondulando em volta dela proteção.

Passou a infância correndo e brincando com eles.

Juntos caíram, juntos se levantaram, juntos riram e choraram, brigaram e fizeram as pazes em dois minutos, centenas de vezes, como cabe a irmãos. Se protegeram de outros, zangados, preferindo levar a porrada eles mesmos... porque só irmãos podem se bater. E se empurraram, uns aos outros, rindo, em direção a outros, sabendo o quanto seria bom. E deitaram-se de mãos dadas no escuro... e contaram os sonhos assim que acordaram... e falaram uns aos outros de seus medos, seus pudores, seus anseios... falaram dos dias ruins quando aconteceram, falaram das vitórias nos dias em que as viveram, contaram seus desejos pouco antes de decidir se iriam mesmo se entregar a estes... e, logo depois, quer em jubilo, quer em arrependimento... deliciaram-se em saber-se entendidos pelo olhar, sem precisar explicar-se... e também explicaram-se uns aos outros, sem necessidade, só pelo gosto de ser ouvido por quem te aceita, mesmo que não te entenda.

E, de alguma forma, a menina deu terra aos dois... como de alguma forma, seu irmão deu a ela ar e sua irmã a irrigou de forma abundante.

Havia também um terceiro, que mesmo não tendo vindo da mesma fresta, compartilhava com eles a irmandade. Este levantou seu último vôo, levado de volta ao ar cedo demais, mas não sem antes soprar-se para dentro da menina que, hoje mulher, só precisa levantar o rosto no vento para lembrar-se dele.

E assim correu a infância, sem qualquer responsabilidade. Nem mesmo as notas na escola, que isso sempre veio também fácil.

Anos mágicos, vagarosos, luminosos... uma década necessária para dar chão ao que veio em seguida... mas isso já é outra estória.

Conjunto de Contos e textos (2009)

terça-feira, 9 de junho de 2009


Expedição até Mim Mesma
Ontem revirei os textos que tenho guardados, expedição surpreendente até mim mesma.

Reli cartas de mim para mim mesma, com 12 anos. Uma menina fazendo as pazes com a mulher. Poemas encantados com a descoberta da palavra, com o olhar de poeta. Textos ingênuos, alguns bons, outros bem ruins, todos muito juvenis, escritos na adolescência. Cartões de amigos que não vejo há anos, promessas de amizade, com a pureza e intensidade dos 15 anos. Declarações de amor do primeiro namorado, do segundo, do terceiro, do derradeiro. Cartas escritas depois do término do meu primeiro amor. Um conto... “memórias póstumas de um quase amor”. Palavras, pensamentos, cartas, cartões, bilhetes, declarações, intenções, reflexões. Registros de minhas felicidades nos dias em que as vivi. Exorcismos de meus demônios quando precisei enfrentá-los.

Revirei os textos pensando em expô-los, mas logo vi que, para isso, não têm serventia. Falta coesão, falta direção, falta até mesmo qualidade na construção das frases.

Li há pouco tempo um texto da Elisa Lucinda que diz que o poema só tem serventia quando espelha o outro. Fora isso, são apenas desabafos, reminiscências desconexas.

E foi isso que vi dentro da caixa. Memórias, momentos, idéias. Escritas por mim mesma, mas ainda no princípio de mim.

Tudo bem, talvez, agora mesmo, estejam a Elisa e a menina rindo juntas... rindo das outras duas, da Lucinda e da mulher.

As duas primeiras sabem que as quatro bem conhecem a verdade. Que palavra é sentimento cristalizado no papel e, portanto, não precisa de serventia.

No entanto, condescendentes e risonhas, deixam que as outras duas organizem seus próprios motivos para não esparramar, em papel público, cristais que não conseguiram ainda digerir. Mais fácil deixar que as duas falem do que é comum aos outros, do que o outro espelha, do que já foi digerido, do que cabe em versos, se enquadra na narrativa, tem principio, meio e fim. O restante, indigestão de si mesmas, deixam que guardem na caixa.

(Abril de 2009)
Esse texto que também faz parte do Prólogo de um grupo de contos que chamei de "Meia Vida em Quatro Atos" que prometi mostrar um dia para vocês

domingo, 7 de junho de 2009

Nomes também são palavras.

Não acho ridículo o apelido. Eu gosto de apelidos, quando usados por parentes. Ou então quando opção da pessoa - solução mágica para mudar a sina de um nome! Minhas avós fizeram isso.

Naquela época de nomes graves e sérios, num passe de mágica Geraldina virou a musical e charmosa Didina e Yolanda se suavizou em Landa. Muitas vezes eu as vi se apresentarem a amigos meus e de meus irmãos, usando os nomes que escolheram. "Essa é a minha avó. Vovó, este é Fulano"... e o sorriso se abria e vinha a resposta: "Prazer, Didina", "Prazer, Landa". E, se alguém insistia, corrigiam o pobre coitado. "Prefiro que me chame de Didina", ouvi inúmeras vezes minha avó dizer.

Não vou te contar hoje sobre as minhas avós. São referências importantes para mim, mas um dia você me pergunta delas pessoalmente, se lembrar disso. Eu gosto de contar estas histórias olhando os olhos da pessoa enquanto falo. E, para entender direito como eram, acho que a pessoa precisa ver os meus olhos quando falo delas... porque quando faço isso é como se as visse novamente, tão igualmente lindas e tão completamente diferentes.


A mim, quase todos chamam de Flávia mesmo. Apenas meus pais e irmãos me chamam de Flavinha, alguns amigos também... mas a maioria das pessoas me chama de Flávia e eu gosto. Acho o som mais parecido comigo do que o do diminutivo. Eu me acho muito intensa para ser chamada por um diminutivo, mas não me importo que usem, sei que é por carinho.

A propósito, não sei se percebeu, mas me encantam páginas em branco.

Abril de 2009

Trecho de e-mail enviado a um amigo, que acha um tanto ridículo ser chamado pelo apelido.
O texto também é um dos prólogos de um grupo de contos chamados "Meia vida em Quatro Atos" .


Estou enamorada Elisa Lucinda. A Clarice está até enciumada.
Explico. Sou uma apaixonada pela palavra, mas de uma paixão infiel, voraz, curiosa, indo de autor em autor, "inconstante e borboleta". Nesses anos todos, apenas a Clarice teve alguma constância da minha atenção.

É engraçado isso. Eu gosto de ler, leio de tudo. Encanta-me toda palavra. A palavra é algo mágico, sedutor, mais que descrever, a palavra representa, mostra, define. E o faz com força, de forma explicita, sem meios termos, sem entrelinhas. Não consegui, até hoje, encontrar nada mais corajoso e absoluto do que a força da palavra. Se, no começo, era o verbo... é confortador saber que, no final, há o silêncio. Confortável, sereno, encantado, triste, melancólico, feliz, cansado, surpreso. Não importa. O silêncio, quando segue a palavra, é como um abraço depois do gozo.

Mesmo nos áridos anos em que não pude ler livros ou poemas, sempre me presenteei um momento com uma palavra. Fosse um artigo, um outdoor, um pensamento, uma frase de pára-choque de caminhão... sempre parei para olhar com calma, absorver a essência, com o mesmo vagar que se tem quando se quebra uma dieta, saboreando um doce devagarinho já que não se pode fazê-lo sempre.

E, nesta tarde de domingo, me encontrei em muitos versos da Elisa Lucinda. Senti com ela os mesmos sentimentos que me trazem os versos da Clarice. A admiração pela beleza da construção dos versos não é nada, ainda que, sem dúvida, belos, os versos. O que surpreende e fascina é esse sentimento desconcertante de olhar no espelho...

(maio de 2009, depois de ler O poema do Semelhante)
http://www.escolalucinda.com.br/bau/osemelhante.htm
Te amo agora!
Levou 20 anos para perceber. Se soubesse, tinha dito mais vezes...
Ao primeiro namorado disse “eu também” com tanta doçura que nenhum dos dois percebeu o disfarce.
O segundo beijou-a tão depressa, depois de proferir a sentença, que nenhum dos dois sentiu falta da resposta.
O terceiro nunca disse, embora os olhos trouxessem o sentimento escancarado e exposto. Ela retribuiu na mesma linguagem. E, para os dois, isso foi bom.
Com o derradeiro, soube desde o primeiro dia. Ouviu no segundo mês e declarou um pouco depois. Negou várias vezes, depois que a deixou. Por fim, aceitou e guardou o amor, finda a paixão.
Ao próximo, deixará o sentimento explodir em palavra, assim que transbordar do peito!
Levou 20 anos, mas percebeu. “Te amo” quer dizer “te amo agora”!

Junho de 2009
Palavras pinçadas no ar depois de um almoço com uma amiga

Acordou e abriu um olho só. O outro deixou enfiado no travesseiro. Viu que as palavras não encheram o pensamento e ficou ali, olhando a parede e ouvindo o silêncio. Ouviu o ruído do edredom roçando no corpo devagar quando abraçou o travesseiro. Ouviu o suspiro profundo que a preguiça soltou. Ouviu o barulho do mundo entrando devagarinho no quarto. Deixou-se ficar ali, até o outro olho insistir para abrir, até as palavras começarem a rodear, namoradeiras, em volta dela... “acordou e abriu um olho só...”

Junho de 2009, manhã preguiçosa de domingo