Não cabe
Não cabe
na palavra "saudade"
toda a falta
de vocês.
Como pode um vazio
encher tanto assim o peito?
(Primeiro Natal sem minha Mãezinha. Que Deus me dê força.)
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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
domingo, 21 de dezembro de 2014
Caligrafia
Num quarto, a criança dorme.
No outro, o homem dorme.
Na pia, dorme a louça.
E dorme, no tanque, a roupa.
Na sala, a poeta acordada
percorre versos de outra poeta.
A manhã passeia encantada
em seis
talvez oito
poemas.
A infância em flanela azul e chupeta
chega sonolenta e se aninha
no colo abaixo do livro.
Tem poema mais doce
que criança adormecida em colo junto ao livro?
"Mamãe, meu mamazinho..."
O dia acorda.
Mas não antes que o poema.
(Flávia Côrtes - dezembro de 2014)
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Na madrugada tênue,
pequenos passos
leves e silentes
despertam olhos maternos
como não conseguem
despertadores nem alvoradas.
Que mistério é esse que une
teu despertar ao meu?
Na penumbra do quarto
olhos pacientes
agora despertos
esperam um sono
que não é meu.
A respiração
da criança aninhada
ainda é leve e conta
que ainda é cedo.
Um suspiro profundo
mostra o mergulho
no sono mais denso.
Meus olhos enfim pesam.
Que mistério é esse que une
meu sono ao teu?
(Flávia Côrtes - Dezembro de 2014)
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Nem prematura, nem temporã.
Você veio na hora exata
no tempo certo
de um jeito inesperado
e perfeito.
No dia em que você veio para mim
não me cresceram ventre e seios
não se contraíram entranhas
não desaguaram partos.
Meu corpo não se preparou.
Talvez porque sempre estive
pronta para você.
Também não fui eu
quem te escolheu.
Eu só soube.
Desde o dia
em que você me reconheceu
eu soube.
Desde sempre e para sempre.
Um amor maior que o céu.
(Flávia Côrtes - Novembro de 2014)
Para Sophia.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
Lego
O mundo deu uma volta
e realinhou sozinho.
A vida segue
o rumo imprevisto.
Mas sempre segue adiante.
Como deve ser.
Não me contaram antes
que quando se desmonta
assim inteira
alguma peças podem
simplesmente
não caber de volta
exatamente
no mesmo lugar.
Eu podia preocupar.
Espremer alguns espaços.
Entulhar outros.
Eu podia desarvorar.
Escolher algumas peças.
Descartar outras.
Mas me vejo em paz
descobrindo
os novos encaixes.
Uma hora dessas
tudo se realinha.
E se sobrarem
algumas peças?
Bem, a gente sempre pode
inventar algo além.
Quem sabe um avião.
(Flávia Côrtes - outubro de 2014)
O mundo deu uma volta
e realinhou sozinho.
A vida segue
o rumo imprevisto.
Mas sempre segue adiante.
Como deve ser.
Não me contaram antes
que quando se desmonta
assim inteira
alguma peças podem
simplesmente
não caber de volta
exatamente
no mesmo lugar.
Eu podia preocupar.
Espremer alguns espaços.
Entulhar outros.
Eu podia desarvorar.
Escolher algumas peças.
Descartar outras.
Mas me vejo em paz
descobrindo
os novos encaixes.
Uma hora dessas
tudo se realinha.
E se sobrarem
algumas peças?
Bem, a gente sempre pode
inventar algo além.
Quem sabe um avião.
(Flávia Côrtes - outubro de 2014)
domingo, 28 de setembro de 2014
sábado, 30 de agosto de 2014
Arrebentação
Esta tem sido
uma época de tsunamis.
E eu tenho estado submersa
boa parte do tempo.
Um dia
a calmaria te surpreende
e você se vê longe da areia
e em plena arrebentação.
Minúsculo diante
de uma enorme parede d'água
pensa nas possibilidades.
Descobri
nas praias da minha infância
que não adianta
correr de ondas gigantes.
Elas sempre te alcançam.
E você não vai querer
ser derrubado pelas costas,
sem fôlego e em fuga.
Saber nadar já não resolve.
Só há agora
fôlego e vontade.
Nesse dia, a gente descobre:
qualquer onda se reduz
à sua própria altura
quando você a encara de frente
e mergulha por dentro.
Não importa
o tamanho da onda.
Ela passa.
Acredite,
às vezes, precisamos
de correntezas mais profundas
para seguir mais longe.
(Flávia Côrtes - Agosto de 2014)
Esta tem sido
uma época de tsunamis.
E eu tenho estado submersa
boa parte do tempo.
Um dia
a calmaria te surpreende
e você se vê longe da areia
e em plena arrebentação.
Minúsculo diante
de uma enorme parede d'água
pensa nas possibilidades.
Descobri
nas praias da minha infância
que não adianta
correr de ondas gigantes.
Elas sempre te alcançam.
E você não vai querer
ser derrubado pelas costas,
sem fôlego e em fuga.
Saber nadar já não resolve.
Só há agora
fôlego e vontade.
Nesse dia, a gente descobre:
qualquer onda se reduz
à sua própria altura
quando você a encara de frente
e mergulha por dentro.
Não importa
o tamanho da onda.
Ela passa.
Acredite,
às vezes, precisamos
de correntezas mais profundas
para seguir mais longe.
(Flávia Côrtes - Agosto de 2014)
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Escola
Eu precisava muito da minha mãe por aqui nesse tempo. Quase todo dia eu a queria por perto. Não apenas por saudade, mas para me ajudar com isso tudo que eu não conheço... para me ensinar isso tudo que eu nunca achei que faria.
É tudo muito louco porque eu perdi mamãe quase agora e a vida de imediato me colocou essa menininha encantadora por perto dando risadas cristalinas pelo dia e fazendo cachos no meu cabelo quando eu a coloco para dormir.
É tudo muito novo e muito terno. Mas estamos as duas em adaptação de vida. E isso não é fácil para nenhuma de nós.
Ela sente falta da mãe dela.
E eu da minha.
Ela me rejeita quando sente saudades da mãe.
Eu me sinto inapta para a função na metade do tempo.
Mas tem algo mágico acontecendo.
As lembranças do que eu vivi com a minha mãe quando criança me invadem o tempo todo. E as cenas de hoje se misturam com aquelas da minha infância.
As risadas quando eu fiz o Box de piscina naquela tarde em que ela estava gripadinha e não podia descer... e ali estão de novo as risadas com os meus irmãos nos banhos de mangueira no quintal da casa dos meus pais.
As gelatinas em potes pequenos que escolhi especialmente para ela... e eu revejo as mãos da minha mãe cortando pedaços de maçã para decorar os potinhos quando preparava ela a sobremesa.
As histórias na cama na hora de dormir... as conversas à mesa do jantar... eu me vejo repetindo com ela e por ela as coisas que a minha mãe fazia comigo e por mim na minha infância.
É assim que, por um momento, tem uma conecção não é de duas, mas de três.
Pois é. Eu precisava muito da minha mãe por aqui agora.
E, de alguma forma, ela está dando um jeito de estar.
(Flávia Côrtes - agosto de 2014)
Eu precisava muito da minha mãe por aqui nesse tempo. Quase todo dia eu a queria por perto. Não apenas por saudade, mas para me ajudar com isso tudo que eu não conheço... para me ensinar isso tudo que eu nunca achei que faria.
É tudo muito louco porque eu perdi mamãe quase agora e a vida de imediato me colocou essa menininha encantadora por perto dando risadas cristalinas pelo dia e fazendo cachos no meu cabelo quando eu a coloco para dormir.
É tudo muito novo e muito terno. Mas estamos as duas em adaptação de vida. E isso não é fácil para nenhuma de nós.
Ela sente falta da mãe dela.
E eu da minha.
Ela me rejeita quando sente saudades da mãe.
Eu me sinto inapta para a função na metade do tempo.
Mas tem algo mágico acontecendo.
As lembranças do que eu vivi com a minha mãe quando criança me invadem o tempo todo. E as cenas de hoje se misturam com aquelas da minha infância.
As risadas quando eu fiz o Box de piscina naquela tarde em que ela estava gripadinha e não podia descer... e ali estão de novo as risadas com os meus irmãos nos banhos de mangueira no quintal da casa dos meus pais.
As gelatinas em potes pequenos que escolhi especialmente para ela... e eu revejo as mãos da minha mãe cortando pedaços de maçã para decorar os potinhos quando preparava ela a sobremesa.
As histórias na cama na hora de dormir... as conversas à mesa do jantar... eu me vejo repetindo com ela e por ela as coisas que a minha mãe fazia comigo e por mim na minha infância.
É assim que, por um momento, tem uma conecção não é de duas, mas de três.
Pois é. Eu precisava muito da minha mãe por aqui agora.
E, de alguma forma, ela está dando um jeito de estar.
(Flávia Côrtes - agosto de 2014)
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Diálogo
As duas olhavam fotografias na cama antes de dormir.
"Você está cantando?" Perguntou a menina apontando a imagem.
"Não, querida, estou dizendo um poema."
"O que é um poema?"
A poeta olhou os olhos curiosos e buscou dentro dela algo que explicasse aos quatro anos o que era um poema.
"Um poema, meu amor, é como se fosse uma música que a gente não canta, mas conta a história... deixa eu pensar um para te dizer e você entender...
(Cecília Meireles ajudaria a explicar...)
"Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina..."
A pequena abriu um sorriso.
"Eu quero ser bailarina!
Eu sou um poema?"
A poeta olhou os olhos e o sorriso da menina. E dentro dela transbordou um amor diferente de todos os amores que já tinha sentido na vida.
O sorriso da menina refletiu no dela quando disse.
"Sim, meu amor, você é um poema."
(Flávia Côrtes - agosto de 2014)
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
domingo, 27 de julho de 2014
Círculos
A criança embalada
tece dedos
nos cachos adultos
e nem a noite menina
sabe bem
quem nina quem.
A menina aponta o céu
para mostrar
o quanto a ama.
Na outra ponta
a lembrança
da mãe
da promessa
do amor
maior que o céu.
A vida
dá outra volta.
E junta
o fim
ao começo.
Recomeço.
(Flávia Côrtes - Julho de 2014)
domingo, 6 de julho de 2014
Anjos
Uma vez, em um momento de dor,
uma amiga especialmente terna,
presenteou-me delicados
sinos de vento lilases.
Os sinos tinham
pequenas luas presas
com fios transparentes
e quando a brisa brincava
com os fios
e as luas tocavam os sinos
um som cristalino e suave
enchia o ar
e o coração da gente.
Quando eu era bem menina
me disseram
que, quando sinos tocam ao vento,
é porque anjos meninos brincam
e sorriem.
Nas manhãs de domingo agora
eu preparo o café
ouvindo o tilintar de sinos
que me contam o riso dos anjos.
E eu me lembro
do sorriso de uma amiga-anjo
que me trouxe sinos lilases
em uma noite
onde havia só silêncio.
E sorrio.
(Flávia Côrtes - Julho de 2014)
Para Ana Paula Soeiro - que espalha magia no mundo simplesmente por existir.
Queridos amigos e familiares,
Como todos sabem, minha mãezinha deixou esta vida no dia 24/06/2014, aos 72 anos, depois de uma árdua batalha de 24 dias pela vida.
Meus irmãos e eu optamos por NÃO excluir a sua conta do facebook. Bloquearemos o mural e manteremos suas publicações e fotos exatamente como ela as deixou.
Esta decisão tem motivos fortes, que declaro abaixo.
Após a morte de meu pai, em janeiro de 2012, eu presenteei um IPAD a mamãe. Tirei férias e ensinei-a a manusear o Facebook. Expliquei como "ver as notícias" no Feed (que ela chamava de Fred) e como fazer comentários nas postagens que gostasse.
No mesmo ano, trouxe-a para o ambiente da Poesia e levei-a a Saraus. Foi difícil, no início, convencê-la a sair de casa. Mas uma pequena "chantagem", apelando ao orgulho de mãe e dizendo como era importante para mim que ela assistisse a uma apresentação minha, a convenceu a ir ao primeiro sarau.
O que aconteceu em seguida foi algo mágico, embora não surpreendente, sendo mamãe a pessoa encantadora que sempre foi.
Minha mãe começou a fazer amigos. E não apenas amigos entre os meus amigos. Ela começou a resgatar amigos de infância e familiares através do Facebook. E isso aos 71 anos.
Uma vez, ela comentou comigo:
"Filha, eu sei que são seus amigos... e que seriam de qualquer forma gentis comigo. Mas sabe que eu acho que eles gostam verdadeiramente de mim? Quando seu pai morreu, eu achei que estava tudo acabado para mim... e agora eu descubro que posso fazer amigos."
Pois bem, nos últimos dois anos, mamãe conviveu cotidianamente através do Facebook com amigos e familiares. Ela comentou postagens, conversou com as pessoas inbox... e foi lindo para nós que somos seus filhos vê-la se reinventar quando a depressão seria o caminho óbvio após a morte de seu grande amor.
Apenas isso já seria algo maravilhoso.
Porém, eu ainda descobri que ela escrevia na adolescência e até o casamento. Escrevia poemas. E parou de escrever quando casou-se e teve todos os filhos.
E, com o Facebook, eu também presenciei minha mãe voltar a escrever.
Ela dedicava um carinho enorme na redação de seus "Comentários".
Mamãe redigia os "Comentários" num caderninho antes de digitar e, todos os dias, lia para mim o que escreveu. Fazia isso exatamente com o mesmo gosto que eu tenho quando escrevo um poema e o digo em voz alta quando fica pronto.
Ela dizia... "Filha, eu não sou poeta, mas sou Comentarista".
Pois bem, eu sou poeta e posso afirmar que, quando eu me for desta vida, não vou querer que alguém delete os meus poemas.
Desta forma, também não deletarei o perfil de minha mãe e nenhum de seus Comentários.
Que fiquem publicados no Facebook os Comentários de Helena Côrtes Xavier, a mais linda Comentarista que eu tive a honra e prazer de conhecer.
Conheço-a bem e sei que é assim que ela gostaria que fosse. Portanto, que assim seja.
Um abraço a todos,
Flávia Côrtes
Como todos sabem, minha mãezinha deixou esta vida no dia 24/06/2014, aos 72 anos, depois de uma árdua batalha de 24 dias pela vida.
Meus irmãos e eu optamos por NÃO excluir a sua conta do facebook. Bloquearemos o mural e manteremos suas publicações e fotos exatamente como ela as deixou.
Esta decisão tem motivos fortes, que declaro abaixo.
Após a morte de meu pai, em janeiro de 2012, eu presenteei um IPAD a mamãe. Tirei férias e ensinei-a a manusear o Facebook. Expliquei como "ver as notícias" no Feed (que ela chamava de Fred) e como fazer comentários nas postagens que gostasse.
No mesmo ano, trouxe-a para o ambiente da Poesia e levei-a a Saraus. Foi difícil, no início, convencê-la a sair de casa. Mas uma pequena "chantagem", apelando ao orgulho de mãe e dizendo como era importante para mim que ela assistisse a uma apresentação minha, a convenceu a ir ao primeiro sarau.
O que aconteceu em seguida foi algo mágico, embora não surpreendente, sendo mamãe a pessoa encantadora que sempre foi.
Minha mãe começou a fazer amigos. E não apenas amigos entre os meus amigos. Ela começou a resgatar amigos de infância e familiares através do Facebook. E isso aos 71 anos.
Uma vez, ela comentou comigo:
"Filha, eu sei que são seus amigos... e que seriam de qualquer forma gentis comigo. Mas sabe que eu acho que eles gostam verdadeiramente de mim? Quando seu pai morreu, eu achei que estava tudo acabado para mim... e agora eu descubro que posso fazer amigos."
Pois bem, nos últimos dois anos, mamãe conviveu cotidianamente através do Facebook com amigos e familiares. Ela comentou postagens, conversou com as pessoas inbox... e foi lindo para nós que somos seus filhos vê-la se reinventar quando a depressão seria o caminho óbvio após a morte de seu grande amor.
Apenas isso já seria algo maravilhoso.
Porém, eu ainda descobri que ela escrevia na adolescência e até o casamento. Escrevia poemas. E parou de escrever quando casou-se e teve todos os filhos.
E, com o Facebook, eu também presenciei minha mãe voltar a escrever.
Ela dedicava um carinho enorme na redação de seus "Comentários".
Mamãe redigia os "Comentários" num caderninho antes de digitar e, todos os dias, lia para mim o que escreveu. Fazia isso exatamente com o mesmo gosto que eu tenho quando escrevo um poema e o digo em voz alta quando fica pronto.
Ela dizia... "Filha, eu não sou poeta, mas sou Comentarista".
Pois bem, eu sou poeta e posso afirmar que, quando eu me for desta vida, não vou querer que alguém delete os meus poemas.
Desta forma, também não deletarei o perfil de minha mãe e nenhum de seus Comentários.
Que fiquem publicados no Facebook os Comentários de Helena Côrtes Xavier, a mais linda Comentarista que eu tive a honra e prazer de conhecer.
Conheço-a bem e sei que é assim que ela gostaria que fosse. Portanto, que assim seja.
Um abraço a todos,
Flávia Côrtes
domingo, 29 de junho de 2014
Passeio
Existem passeios por fora
e há, ainda, aqueles por dentro.
Haverá dias
em que eu vou querer
desenhar o dia,
abrir a manhã,
descobrir as possibilidades
lá fora.
Mas hoje
a manhã quieta
me tomou pela mão
calmamente
assim como uma brisa
quase sopra
num dia quente.
Serena Manhã,
nina o meu dia
que dorme ainda
enquanto o meu verso
espreguiça o pensamento
e voa.
(Flávia Côrtes - junho de 2014)
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Azul
Eu ontem vesti azul por minha mãe.
A túnica azul florida foi presente dela e quando a vesti pensei:
"Já visto preto todo dia. Hoje, por mamãe, serei azul".
Explico.
Eu tinha doze anos e medo de escuro quando meu pai me ensinou a fechar os olhos e pensar no azul para dormir em paz.
Eu já era mulher feita e minha mãe ainda assim me dizia, em alguns dias especiais, que havia encomendado o céu daquele dia para mim.
Ela não falava assim desse jeito.
Ela me mostrava o azul e dizia:
"Olha o que eu encomendei para você hoje".
Eu não vi o céu no dia de ontem.
Dizem que estava especial.
Mas estava escuro demais aqui dentro. E eu não pude ir lá fora em busca do azul.
Não tem problema, mamãe.
Não se preocupe.
Não há mais medo.
O azul
que você e papai
me deram
eu levo agora
por dentro.
Mergulha você no azul, mamãe.
Segue em paz com sua luz.
(Flávia Côrtes - junho de 2014 - para minha mãezinha)
Eu ontem vesti azul por minha mãe.
A túnica azul florida foi presente dela e quando a vesti pensei:
"Já visto preto todo dia. Hoje, por mamãe, serei azul".
Explico.
Eu tinha doze anos e medo de escuro quando meu pai me ensinou a fechar os olhos e pensar no azul para dormir em paz.
Eu já era mulher feita e minha mãe ainda assim me dizia, em alguns dias especiais, que havia encomendado o céu daquele dia para mim.
Ela não falava assim desse jeito.
Ela me mostrava o azul e dizia:
"Olha o que eu encomendei para você hoje".
Eu não vi o céu no dia de ontem.
Dizem que estava especial.
Mas estava escuro demais aqui dentro. E eu não pude ir lá fora em busca do azul.
Não tem problema, mamãe.
Não se preocupe.
Não há mais medo.
O azul
que você e papai
me deram
eu levo agora
por dentro.
Mergulha você no azul, mamãe.
Segue em paz com sua luz.
(Flávia Côrtes - junho de 2014 - para minha mãezinha)
domingo, 22 de junho de 2014
sexta-feira, 6 de junho de 2014
O dia começou
com uma névoa
meio cinza e meio branca
sobre a montanha.
O sol fazia um efeito
prateado através da neblina
e dava um aspecto
surreal à manhã.
Pareceu-me apropriado
para uma manhã como a de hoje
quando o cotidiano
virou do avesso
e a gente ainda procura
no canto da mente
uma fresta de alegria
para mover o dia.
(Flávia Côrtes - Junho de 2014)
terça-feira, 27 de maio de 2014
Nem todo sólido se desfaz.
Quando você acha
que nada mais poderia
dar errado,
é quando realiza
que ninguém mais há
além de você.
Algumas coisas
simplesmente precisam
ser feitas.
E a gente acha força.
Sempre há
um pouco mais de força.
Em dias assim, é mágico
quando alguém te surpreende.
Tem gente que sabe da gente
antes mesmo da gente.
(Flávia Côrtes - Maio de 2014)
Para Everson, com amor.
Quando você acha
que nada mais poderia
dar errado,
é quando realiza
que ninguém mais há
além de você.
Algumas coisas
simplesmente precisam
ser feitas.
E a gente acha força.
Sempre há
um pouco mais de força.
Em dias assim, é mágico
quando alguém te surpreende.
Tem gente que sabe da gente
antes mesmo da gente.
(Flávia Côrtes - Maio de 2014)
Para Everson, com amor.
domingo, 25 de maio de 2014
A vida é ao vivo.
Não há ensaio.
Tiraram a rede de proteção.
Convém treinar
equilíbrio nos passos.
Vale manter
abertos os olhos.
Mas que adianta cautela
quando viver
é a possibilidade?
A certa altura
a gente aprende a cair
sem se estilhaçar.
Vantagem de quem se arrisca.
Não vai doer menos.
Mas facilita na hora de levantar.
E agora estamos
os dois aqui
no meio do azul
respiração entrecortada
olhos nos olhos
a vinte metros do chão
suspensos e inteiros ainda
e sem qualquer proteção.
Firmamos as mãos.
Fixamos os olhos.
Conectados soltamos
corpo, coração e pensamento.
E voamos.
(Flávia Côrtes - maio de 2014)
De repente
todos os versos
de amor
são nossos.
Todas as canções
fazem sentido
Qualquer ciranda
fala da gente
Que tormento isso.
Dói a espera.
A saudade é tanta
que sai de mim
e fica flutuando em volta
quase palpável.
Eu vou colher no ar
com as mãos
uns flocos de saudade
e guardar no travesseiro
para tentar dormir.
(Flávia Côrtes - maio de 2014)
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Quando a noite virou manhã
trouxe junto uma paixão
inesperada
e improvável.
Tinha tudo para dar errado.
E a única coisa necessária
para que desse certo.
Bem mais
que um bem querer.
Uma fome invadindo o peito.
Muito mais
que uma vontade.
Um desatino roubando o sono.
Coração desarvorado
em mais de um sentido.
E eu agora
te levo nos olhos.
E eu agora
te levo por dentro.
É que
a loucura
despiu o improvável
para vestir o sonho.
(Flávia Côrtes - Maio de 2014)
sexta-feira, 2 de maio de 2014
Certeza
Eu te sabia muito.
Desde a noite
em que me olhou
por dentro.
Um homem
que me conhece o cheiro
e me adivinha os olhos
não seria menos.
Mas
e esse tanto?
e esse sempre?
Como é
que eu te acompanho
uns passos
e você me leva assim
inteira?
Como é
que eu te abro
o corpo
e você se instala assim
nos poros?
E eu
que anoiteci pergunta
amanheço
sem precisar resposta.
(Flávia Côrtes - maio de 2014)
sábado, 26 de abril de 2014
Procura a Areal
A estrada
era estreita e sinuosa.
Um caminho verde
no meio do nada.
Um quilômetro
e a vista navegava
sobre um mar de eucaliptos
ondulados ao vento.
Outro quilômetro
e uma moça caminhava
rumo a algum lugar
que não se via.
A cada duas ou três curvas,
uma casa no alto de um morro,
um pasto,
um rio
e verde,
verde,
verde...
Eu quase achei
que era lenda
a tal cidade.
Uma Atlântida
submersa no verde.
Avalon
esperando neblina.
Shangri-la
oculta nos montes.
Mas a placa
indicando chegada
interrompeu
o poema.
Que pena.
(Flávia Côrtes - Abril de 2014)
A estrada
era estreita e sinuosa.
Um caminho verde
no meio do nada.
Um quilômetro
e a vista navegava
sobre um mar de eucaliptos
ondulados ao vento.
Outro quilômetro
e uma moça caminhava
rumo a algum lugar
que não se via.
A cada duas ou três curvas,
uma casa no alto de um morro,
um pasto,
um rio
e verde,
verde,
verde...
Eu quase achei
que era lenda
a tal cidade.
Uma Atlântida
submersa no verde.
Avalon
esperando neblina.
Shangri-la
oculta nos montes.
Mas a placa
indicando chegada
interrompeu
o poema.
Que pena.
(Flávia Côrtes - Abril de 2014)
sábado, 19 de abril de 2014
quarta-feira, 9 de abril de 2014
História de uma Folha-flor
As flores, ao longe,
pareciam folhas claras
e quase secas.
Contavam um pouco
do outono que chega
e clareia o verde
até fazê-lo rosa.
Olhando bem de perto, porém,
a textura delicada
das pétalas rosa-chá
diziam a graça daquela
que, se ao longe parecia folha,
de perto era tão flor
que dispensava nome
para florir pensamento.
Eu achei
que já sabia tudo
da Flor.
Mas uma volta completa
em volta dela
e ali estava ela:
inteiramente nova,
completamente diferente.
As coisas são assim.
A gente acha que já viu tudo
até olhar de novo
e a cada luz
e a cada ângulo
descobrir algo novo.
Com uma volta completa
e algum vagar
sabe-se muito
das coisas.
E das pessoas.
(Flávia Côrtes - abril de 2014)
As flores, ao longe,
pareciam folhas claras
e quase secas.
Contavam um pouco
do outono que chega
e clareia o verde
até fazê-lo rosa.
Olhando bem de perto, porém,
a textura delicada
das pétalas rosa-chá
diziam a graça daquela
que, se ao longe parecia folha,
de perto era tão flor
que dispensava nome
para florir pensamento.
Eu achei
que já sabia tudo
da Flor.
Mas uma volta completa
em volta dela
e ali estava ela:
inteiramente nova,
completamente diferente.
As coisas são assim.
A gente acha que já viu tudo
até olhar de novo
e a cada luz
e a cada ângulo
descobrir algo novo.
Com uma volta completa
e algum vagar
sabe-se muito
das coisas.
E das pessoas.
(Flávia Côrtes - abril de 2014)
domingo, 6 de abril de 2014
Todo mundo quer ser feliz.
No fim do livro,
um beijo de novela.
Na cena final,
"felizes para sempre",
esta quase sentença.
"Ninguém é feliz todo dia",
dizem aqueles
que esqueceram
a alegria.
Eu perdi
o caminho ou o rumo
atrás da borboleta.
E saltando poças d'água
eu fui feliz.
Atrasei-me
vendo nuvens.
E assistindo passarinho,
eu tive paz.
Não sei se com isso,
um dia,
faltará algo
no verso final.
Mas preocupam-me pouco
aquelas três
douradas e desenhadas letras
do "FIM".
É que eu estou ainda ocupada
e um pouco encantada demais
para redigir epitáfios.
Por hora,
as manhãs me contam versos
num sorriso-sopro todo dia.
Larga a lupa.
Experimenta o lápis.
Não dá para ser
leitor da própria vida.
É seu filme, Protagonista.
Preenche você a frase:
"era uma vez..."
(Flávia Côrtes)
No fim do livro,
um beijo de novela.
Na cena final,
"felizes para sempre",
esta quase sentença.
"Ninguém é feliz todo dia",
dizem aqueles
que esqueceram
a alegria.
Eu perdi
o caminho ou o rumo
atrás da borboleta.
E saltando poças d'água
eu fui feliz.
Atrasei-me
vendo nuvens.
E assistindo passarinho,
eu tive paz.
Não sei se com isso,
um dia,
faltará algo
no verso final.
Mas preocupam-me pouco
aquelas três
douradas e desenhadas letras
do "FIM".
É que eu estou ainda ocupada
e um pouco encantada demais
para redigir epitáfios.
Por hora,
as manhãs me contam versos
num sorriso-sopro todo dia.
Larga a lupa.
Experimenta o lápis.
Não dá para ser
leitor da própria vida.
É seu filme, Protagonista.
Preenche você a frase:
"era uma vez..."
(Flávia Côrtes)
quinta-feira, 20 de março de 2014
O olhar se perde em labirinto.
No mosaico preto e branco,
colombinas jogam damas.
Alice troca chá por café.
Um quadrado
com vocação para triângulo
sempre pode
inventar-se losango.
O mundo muda de ângulo
por perspectiva
ou vertigem.
Se isso ocorre
por vontade de quem olha
ou por vocação da coisa olhada,
quem há de saber?
Flávia Côrtes - Março de 2014
quarta-feira, 19 de março de 2014
quarta-feira, 12 de março de 2014
domingo, 9 de março de 2014
Outono Rosa
Eu vi um Outono Rosa
se desenhando bem ali.
É março
e as árvores despejam
flores sobre o chão
como um tapete púrpura
a aguardar o Outono
que já vem vindo.
Dentro de algumas semanas,
galhos secos se erguerão
altivos contra o céu
aguardando novos brotos
e desafiando
a quem quer que diga
que não há beleza
onde não há
enfeites.
Que venha o Outono, então.
Flávia Côrtes - Março de 2014
terça-feira, 4 de março de 2014
Em festival
de domingos sucessivos
desfilavam os dias.
Um, dois... feijão com arroz.
Bobagens, risos e saudades.
Que domingo
é domingo mesmo
sem amigos?
Três, quatro... feijão no prato.
Música e folia.
No bloco, mamãe e eu.
Que domingo
é domingo mesmo
sem família?
Cinco, seis... prosa e verso.
Manhãs lentas descobrem poemas.
Tardes aceleradas encontram prosas.
Que domingo
é domingo mesmo
sem poesia?
Sete e oito... invenções.
A bailarina samba no pé.
O baterista gosta de jazz.
Toda criança sabe dançar.
Um cata-vento é mais que um poema.
Cantigas de roda giram para sempre.
Que domingo
é domingo mesmo
sem descoberta?
Nove e dez.
E o poema não acaba.
Mais que um doce pelo seu pensamento.
Um beijo e um queijo.
Não me leve a mal, vai.
Hoje é Carnaval.
(Flávia Côrtes - Março de 2014)
domingo, 2 de março de 2014
Portal
Era um domingo comum.
O tanto quanto domingos
podem ser comuns pelo menos.
Na cama desarrumada, flocos de lençóis
emaranhados e brancos contavam preguiças.
A manhã seguia lenta
e o dia desenhava tardes
entre amigos e risos.
Na espera da tarde,
fotos antigas
de um tempo tão vivo.
Nas fotos, mais que imagens.
Momentos.
Por um instante, o amor desfez o tempo.
Portal.
E era um domingo quase comum.
(Flávia Côrtes - Março de 2014)
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Ele tinhas asas
e eu, às vezes, virava nuvem.
Eu dormia sono solto
quando ele me escrevia.
Eu telefonava
quando ele não estava.
Ele voava alto
e eu ainda era terra.
Eu virava nuvem
e ele já estava chão.
Mas os dois,
de formas diferentes,
saltavam no azul.
Ele de corpo inteiro e asas.
Eu de alma alada e pensamento solto.
Talvez por isso
nos reconhecêssemos.
Talvez por isso
seguíssemos serenos
no tempo
enquanto nossos ponteiros
se alinhavam.
Levávamos a tranqüilidade
dos que já se sabem.
O tempo nunca é só um " quando'
quando já se sabe um "ainda".
E o tempo já era tão nosso.
(Flávia Côrtes - fevereiro de 2014)
sábado, 22 de fevereiro de 2014
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Física Moderna
Os ponteiros subitamente
giram insanos.
Cada hora parece menor
ou duram os minutos menos tempo?
As pessoas,
carbono que são,
sob pressão viram carvão
ou diamante.
Tem gente que opaca.
Tem gente que brilha.
É que gente não é só matéria.
Nem toda mudança
é proporcional à força
quando o que te move
é ação
e não reação.
Nem toda aceleração é fruto da força.
Nem tudo o que repousa estagna.
Mas o movimento
movimenta.
(Flávia Côrtes - fevereiro de 2014)
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Deus quando inventou a melancia
estava de bom humor.
Tem algo mais lúdico de comer
do que melancia?
Vermelha, gelada, doce.
Crocante sem deixar de ser macia.
Os carocinhos existem
para você prestar atenção
e ir devagar.
Estão ali para te lembrar
que mesmo o que é doce e colorido,
com pressa, pode te engasgar.
(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2014)
domingo, 2 de fevereiro de 2014
A Dona do Boteco
O nome dela era Eulália. Eulália Almodóvar. E ela era a dona do Boteco.
Eulália veio da Espanha com os pais ainda bebê. E o Brasil sempre foi para ela algo estrangeiro.
O pai, agricultor, cruzou o atlântico atrás de um sonho. Queria ser comerciante. A família estabeleceu-se no bairro do Estácio no Rio de Janeiro. E era lá que ficava o Boteco.
Com 8 anos, Eulália já freqüentava o Boteco. Saía da escola e corria para lá. Ela gostava de olhar as gentes. Ajudava o Pai a arrumas as mesas, a lavar a louça... mas ia mesmo para olhar as pessoas. Eulália gostava de gente.
Aprendeu cedo que o pai gostava de tudo muito limpo. E a limpeza, de alguma forma, era uma maneira de agradar a ele para que permitisse a presença dela no Boteco.
Ela nunca entendeu por que o Pai quis ter o Boteco.
O Pai não gostava de barulho. Incomodava a ele que as pessoas rissem ou falassem alto. Música era algo que não existia no Boteco. O Pai não gostava. As paredes eram muito brancas. Brancas de limpeza e limpas de cores. A única coisa colorida que havia no Boteco eram uns ovos cozidos que Eulália arrumava encantada no balcão. O Pai não gostava de cores.
Aos doze anos, Eulália já ajudava a servir as mesas. O Pai ensinou-a a manter as sobrancelhas franzidas e a boca esticada num risco. Dizia que isso afastava o assédio dos bêbados.
A boca teria ficado esticada para sempre, fosse ela outra menina. Mas Eulália tinha um riso que era largo e solto. Seria impossível manter aquela risada afivelada por tempo demais - ainda que a pedido do Pai.
No dia em que o Pai morreu, a Mãe quis vender o Boteco, mas Eulália não deixou.
Para a mãe, ela disse que não queria se desfazer do sonho do Pai. Convenceu-a de que não fazia sentido terminar a Escola de Formação de Professores em busca de uma profissão, quando havia o negócio da família para cuidar.
Isso foi que ela disse para a mãe. Era mais fácil do que contar que nunca passou pela cabeça dela ser professora. E que sempre quis ser a dona do Boteco.
Foi assim que Eulália Almodóvar largou a escola com 17 anos e assumiu o Boteco. E agora que ela era a dona do Boteco, podia fazer dele o que quisesse.
Ela pendurou xales espanhóis nas paredes do Boteco. Coloridos, viçosos, com franjas... vermelho, amarelo, azul.... Eulália adorava cores. E agora ela era a dona do Boteco. Portanto, haveria cores.
Ela colocou música no Boteco. Eulália adorava música. Estavam no Estácio. E talvez o normal fosse que houvesse samba como em qualquer outro boteco do Estácio. Mas Eulália gostava mesmo era de música flamenca. E agora ela era a dona do Boteco. Portanto, haveria música e dança flamenca.
Ela manteve o mobiliário original. Simples e de madeira escura. Um pouco por tributo ao pai, um pouco por recordação da infância. Quem perguntava a ela o motivo, recebia uma gargalhada em resposta. E Eulália dizia: "Agora eu sou a dona do Boteco. E faço dele o que eu quiser"
As pessoas estranharam um pouco no início.
Um Boteco muito simples e muito limpo no Estácio com música e dança Flamenca e xales coloridos pendurados nas paredes. Mas era isso o que mantinha a casa sempre cheia. Isso e o riso escancarado da dona do Boteco.
O nome dela era Eulália Almodóvar. Ela gostava de cores, de música, de gentes e de riso.
E ela era agora a dona do Boteco.
(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2014)
Nota da Autora:
Este é o meu primeiro conto com personagem criado e concebido.
Agradecimento especial a Patricia Carvalho-Oliveira e ao seu curso Lupa - O ator consciente, que abriu em mim um canal que eu não conhecia ainda.
Eulália Almodóvar é minha primeira personagem. Eu nunca criei antes uma personagem na vida. Hoje eu concebi e ainda encarnei no curso de teatro. E escrevo o conto para tirá-la de dentro de mim... ;)
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Não deixa o dia partir
sem uma coisa boa.
Todo dia merece
algo feliz ou gostoso.
Vale algo que tenha feito
ou querido fazer.
Querer fazer
é a primeira fase do fazer.
Tudo o que a gente faz
começa
na vontade,
no impulso
ou no sonho.
Então, não precisa ainda
ter acontecido
para ser bom.
Pode ter sido uma vontade.
Eu, por exemplo, hoje
tive vontade de por do sol.
Acabei não indo porque estava
no colo da minha mãe
no ar condicionado.
O dia estava quente
e o cafuné estava bom
e eu não fui.
Mas vontade de por do sol
também é bom.
Toda noite é mais bonita
quando se despediu do sol.
Ainda que por dentro.
(Flávia Côrtes - Janeiro de 2014)
domingo, 26 de janeiro de 2014
Um dia você descobre
que esteve indo
por tempo demais.
Foi cada dia uma partida.
Em todo momento uma largada.
Estréias sucessivas.
Prólogos incessantes.
Até o dia
em que o começo
foi chegada.
E deu essa vontade
de ficar.
Às vezes, a gente precisa
se perder um pouco
para se encontrar.
(Flávia Côrtes - Janeiro de 2014)
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
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