Eu ontem vesti azul por minha mãe.
A túnica azul florida foi presente dela e quando a vesti pensei:
"Já visto preto todo dia. Hoje, por mamãe, serei azul".
Explico.
Eu tinha doze anos e medo de escuro quando meu pai me ensinou a fechar os olhos e pensar no azul para dormir em paz.
Eu já era mulher feita e minha mãe ainda assim me dizia, em alguns dias especiais, que havia encomendado o céu daquele dia para mim.
Ela não falava assim desse jeito.
Ela me mostrava o azul e dizia:
"Olha o que eu encomendei para você hoje".
Eu não vi o céu no dia de ontem.
Dizem que estava especial.
Mas estava escuro demais aqui dentro. E eu não pude ir lá fora em busca do azul.
Não tem problema, mamãe.
Não se preocupe.
Não há mais medo.
O azul
que você e papai
me deram
eu levo agora
por dentro.
Mergulha você no azul, mamãe.
Segue em paz com sua luz.
(Flávia Côrtes - junho de 2014 - para minha mãezinha)
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