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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Sobre guirlandas, luzes e bolas brancas.
Uma guirlanda verde pendurada à porta contava, no início de cada dezembro, que era esperado um Natal Feliz naquela casa.
Bolas brancas enfeitavam a sala.
Uma para cada ano... setenta e duas, setenta e três...
Em volta da árvore imensa da sala, as crianças decoravam, cuidadosas, os galhos. A mãe entregava os enfeites. Bolas, anjos e laços numa risonha e alegre linha de produção. O pai testava as lâmpadas do pisca-pisca e colocava, ao final, uma estrela no topo da árvore.
Bolas brancas enfeitavam a sala.
Uma para cada ano... oitenta e duas... oitenta e três...
Talvez a árvore nem fosse tão imensa.
Talvez os enfeites nem fossem tantos.
Mas as luzes brilhavam um Natal
por dentro de mim
quando o meu pai
acendia a árvore.
Bolas brancas enfeitavam a sala.
Uma para cada ano... noventa e duas, noventa e três...
A árvore certamente não era tão grande. E haviam mais laços do que bolas, quando eu entregava encantada os enfeites aos meus sobrinhos que decoravam, cuidadosos, os galhos, numa risonha e alegre linha de produção.
Música e risadas em todos os cômodos.
Mesa posta.
Abraços.
Crianças brincando pela casa.
Meu pai desembaraçava a fiação do pisca-pisca e testava as lâmpadas.
Bolas brancas enfeitavam a sala.
Uma para cada ano... números arredondados pela virada do milênio... cento e duas... cento e três...
E as luzes brilhavam um Natal
por dentro de mim
sempre que o meu pai
acendia a árvore.
Até o ano do Não-Natal.
Até o ano do silêncio.
O ano em que não houve luzes.
Nem por fora, nem por dentro.
Outro ano e outro dezembro.
Mais um dezembro.
Em outra porta,
nesse novo dezembro,
uma nova guirlanda contou:
era esperado um Natal Feliz
naquela casa.
O portal abriu-se
como o sorriso da irmã à porta.
Música e risadas em todos os cômodos.
Mesa posta.
Abraços.
Crianças brincando pela casa.
Na varanda, o sofá do último abraço.
Meus olhos fitaram, por um instante, a lembrança viva.
O riso das crianças me trouxe ao presente. Meu primo ajustava o pisca-pisca das luzes colocadas na tela da varanda.
Eu não esperava.
Mas as luzes da varanda piscaram
e acenderam um Natal
por dentro de mim.
A noite
cumpriu a promessa da guirlanda
e foi feliz.
Talvez eu coloque, no próximo ano, bolas brancas na sala.
Uma para cada ano.
(Flávia Côrtes - Dezembro de 2013)
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Avatares
Nunca estivemos tão próximos
e tão distantes.
Sabemos da vida do outro
em tempo real
todos os dias.
O que comeu ,
se foi ao cinema...
Mas não nos vemos por semestres.
Não importa quantos "k"
você escreva
numa janelinha branca.
Isso nunca terá
o som cristalino
da risada que se ri junto.
Corações desenhados no mural
enternecem, é verdade.
Mas eu gosto mesmo
é do calor do abraço.
Eu vou curtir todos os seus posts
porque realmente gosto de suas histórias.
Mas esse mural não tem nem de perto
o brilho do olho que conta.
A cidade não é tão grande
quando a vontade é maior.
(Flávia Côrtes - dezembro de 2013)
Nunca estivemos tão próximos
e tão distantes.
Sabemos da vida do outro
em tempo real
todos os dias.
O que comeu ,
se foi ao cinema...
Mas não nos vemos por semestres.
Não importa quantos "k"
você escreva
numa janelinha branca.
Isso nunca terá
o som cristalino
da risada que se ri junto.
Corações desenhados no mural
enternecem, é verdade.
Mas eu gosto mesmo
é do calor do abraço.
Eu vou curtir todos os seus posts
porque realmente gosto de suas histórias.
Mas esse mural não tem nem de perto
o brilho do olho que conta.
A cidade não é tão grande
quando a vontade é maior.
(Flávia Côrtes - dezembro de 2013)
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Dezembros
Ainda nem é o mês
de tudo novo
de novo.
Mas as pessoas
já vestem sorrisos.
Os olhos trazem uma ternura
quase inesperada.
Os dias ganham ares
de vésperas de feriados.
As luzes espalhadas
pela cidade
iluminam olhares.
Guirlandas ornam portas
e as casas se abrem.
Pessoas saem
da frente de suas telas
e se encontram...!
(coisa rara neste tempo)
Vizinhos que mal se olhavam
cumprimentam-se.
E até sorriem.
Os invisíveis nas calçadas
subitamente presentes.
Ainda nem é o mês
de tudo novo
de novo.
Mas pela primeira vez no ano
há, enfim, algo novo.
Até Janeiro.
(Flávia Côrtes - Dezembro de 2013)
sábado, 7 de dezembro de 2013
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
domingo, 24 de novembro de 2013
sábado, 16 de novembro de 2013
Sementes
Sempre tenho a sensação
de que uma estação se anuncia
por dentro da outra.
Já vi fevereiros
desaguarem outonos
qual grávidas prematuras.
Quem nunca viu um abril
tricotando casacos?
Já vi primaveras
sussurrando setembros
em meados de agosto.
Em novembro,
tem uma Primavera
prenha de sol
esperando Verão.
As flores
ganham um brilho.
Um viço de moças apaixonadas.
Os dias ganham
uma vivacidade,
um riso,
uma nitidez.
As tardes passeiam saias
e um vento fresco revoa
folhas e cabelos.
O sol intenso
e o vento fresco
pulsam possibilidades.
Tem um verão plantado
dentro de uma primavera
prenha de luz.
O sol beija as cores
e conta
vem vindo o verão.
E o poema brota
dentro da poeta
inseminada de verso
como semente
que rompe fruto
para florir.
Bem-vindo, Verão.
(Flávia Côrtes - Novembro de 2013)
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Subconsciência
Precisa de um tanto
de coragem
para olhar de fato
para dentro.
Sensação de criança
que observa
copo quase imóvel
em brincadeira do oculto.
Abriria Pandora a caixa
se guardasse
a si mesma?
Suspenderia Psiquê
a chama
ante a própria face?
Espio e espero.
(Flávia Côrtes - Outubro de 2013)
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Posologia
Cansa-me essa gente
que só consegue
enxergar política
e contexto histórico.
Esquecem que as gentes
são feitas de sonhos,
de amores
e quereres.
Toda vida nasce
com vocação para ser bela.
Ao contrário do que se pensa,
o olho que vê beleza
não se fecha perante ao podre.
A mão que aplaude,
se estende mais
do que a que bate,
acredite.
A voz que entoa
dificilmente
cala ao absurdo.
A quem não enxergar isso,
eu recomendo
um poema pela manhã
e uma canção antes de dormir.
Esse mal tem cura.
Flávia Côrtes - Outubro de 2013
Cansa-me essa gente
que só consegue
enxergar política
e contexto histórico.
Esquecem que as gentes
são feitas de sonhos,
de amores
e quereres.
Toda vida nasce
com vocação para ser bela.
Ao contrário do que se pensa,
o olho que vê beleza
não se fecha perante ao podre.
A mão que aplaude,
se estende mais
do que a que bate,
acredite.
A voz que entoa
dificilmente
cala ao absurdo.
A quem não enxergar isso,
eu recomendo
um poema pela manhã
e uma canção antes de dormir.
Esse mal tem cura.
Flávia Côrtes - Outubro de 2013
sábado, 5 de outubro de 2013
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Nem era
(Letra de Flávia Côrtes e música de Daniel Rolim)
Nem era,
não era
e nem era.
Não era prá você...
O tempo estava disfarçado de bonito
e eu nem sabia se ia
quando escolhi a saia rodada
que nem era para você.
Nem era,
não era
e nem era.
Não era prá você...
Teu perfume preferido
um acaso.
E o baton vermelho
o que tinha.
Eu nem sabia
se ia
e nem era prá você...
Nem era.
Não era.
E nem era.
Não era prá você...
Não te procurei no salão,
e não vi teu olho no meu.
Meu samba?
Não era teu.
Não era.
Não era teu.
Meu samba?
Não era teu.
Não era.
Não era teu.
Não era...
(Flávia Côrtes - Setembro de 2013)
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
A frase trouxe um sorriso
algo terno, algo cúmplice,
daqueles que trazem lembrança
do que não aconteceu.
É que não aconteceu,
mas foi quase.
Um quase com gosto de ainda.
(Flávia Côrtes - setembro de 2013)
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos
quanto aos seus direitos autorais.
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segunda-feira, 9 de setembro de 2013
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Sentido e Direção
Não se perde o rumo
por abaixar os olhos.
Há tempo
para contemplação.
Atentar infinitos
não desnorteia bússolas
de quem conhece
o eixo.
Até o chão
para ser caminho
precisa de direção.
(Flávia Côrtes - Setembro de 2013).
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Certezas
Por trás de cada nuvem
sempre tem um azul.
E eu nem sempre preciso
apagar o sol
para saber estrelas.
Toda lua é cheia
se te reflete.
A metade inteira
não é menos bela.
Inícios,
às vezes,
me bastam.
(Flávia Côrtes - setembro de 2013)
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Boa Hora
Pétalas decoradas de chuva
pela manhã
contam que ainda é inverno
no Rio de Janeiro.
Uns brotos
nas árvores quase secas
sussurram setembro.
Vermelhos desafiam a sentença
e crescem.
Há os que vêem, em invernos, estiagens.
E suportam.
Há os que tricotam casulos.
E esperam.
E há
os que se enamoram
da gestação.
(Flávia Côrtes - agosto de 2013)
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Extra!
Está na rede social!
Então, deu no Jornal!
(... ou mais que isso...)
Mas o que funciona bem
para fugir do mar sereno
que me mostra
o Jornal Nacional,
vira piada no meu mural.
E a pessoa "gentil"
chama a outra de "grossa"
na rede social.
E a pessoa "modesta"
chama o "metido" de "misantropo"
na rede social.
E a gente faz o que, né?
Bloqueia ou dá risada.
E procura "misantropo"
no dicionário.
Porque, no tempo do meu pai,
Modéstia era arma
de incompetente.
Vamos, portanto,
ao Google
descobrir a Misantropia
que a Nova Era nos mostra.
(Flávia Côrtes - agosto de 2013)
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Sanidades
Manter-se são
é verbo que flexiona
com o sujeito.
Depende de cada um.
E ninguém consegue
manter-se sujeito oculto de si mesmo
por muito tempo.
(Flávia Côrtes - agosto de 2013)
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quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Azul Plissado
Em tempos exaustos,
às vezes, preciso
dormir com as janelas abertas
para não perder a hora.
Não é ruim acordar com luz.
É até bonito.
Hoje mesmo
acordei com o azul brincando
de saia plissada
com o branco da persiana.
O problema é que o dia
não te deixa regular a hora.
Vai te acordar as seis da manhã,
ainda que você possa dormir
até as sete e meia.
E, às seis da manhã,
até a beleza cansa.
Daí, a gente escolhe
se reclama
porque o dia acordou cedo
ou se espia a manhã de volta
por trás da saia plissada
da persiana.
A vida inventa beleza em tudo.
Mas para ver
a gente precisa
escolher ver.
(Flávia Côrtes - agosto de 2013)
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segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Sabe essa gente que traz no olho um sorriso
e no sorriso uma luz?
Sabe esse povo que tem no nome uma música
e no sobrenome uma guerra?
É uma gente que diz que não é poeta,
mas que o pensamento voa
ou paralisa
num verso.
É de um ombro que alinha no teu
para qualquer briga
e que te abraça
em qualquer tempo.
Pois é...
... nem todo mundo vê
nem todo mundo sabe
nem todo mundo sente
o tanto de força que precisa ter
para levar um sorriso desses todo dia
um brilho desses todo dia
uma ternura dessas todo dia
no meio dessa luta que é
o dia-a-dia.
Flávia Côrtes - Agosto de 2013
Para minha amiga Morena Grijó.
Porque você é dessas.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
domingo, 11 de agosto de 2013
2451
(Flávia Cortes & Renato Gusmão)
Entre um Sudeste e um Norte
desnorteia a distância
e só a nós compete
aquela noite
nossa lembrança
o que te dou
de um errante passageiro
ou me deste rimas
do teu Rio de Janeiro
nesse riso clima
entre valsa e partido alto
uma voz de deusa
esgarça outro poema seda de asfalto
a luz do pensamento
viaja num átimo
vigília de estrelas íntimas
dentro das noites porvir
sorria um verso
e Bem Além é aqui.
(Texto escrito em parceria poética por Renato Gusmão e Flávia Côrtes)
Para conhecer o verso do Renato, acesse o blog:
http://cordapatria.blogspot.com.br/
(Flávia Cortes & Renato Gusmão)
Entre um Sudeste e um Norte
desnorteia a distância
e só a nós compete
aquela noite
nossa lembrança
o que te dou
de um errante passageiro
ou me deste rimas
do teu Rio de Janeiro
nesse riso clima
entre valsa e partido alto
uma voz de deusa
esgarça outro poema seda de asfalto
a luz do pensamento
viaja num átimo
vigília de estrelas íntimas
dentro das noites porvir
sorria um verso
e Bem Além é aqui.
(Texto escrito em parceria poética por Renato Gusmão e Flávia Côrtes)
Para conhecer o verso do Renato, acesse o blog:
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sexta-feira, 26 de julho de 2013
Memória Afetiva
Um dia eu descobri
que as borboletas
eram pétalas
que meu pensamento alado
revoou.
Mas e daí...?
Hoje cedo eu também vi
que onde Ipês,
Alamandas.
E nem por isso menos amarelas.
E nem por isso eu menos colibri.
E se nem por isso menos,
talvez por isso tanto.
Chame de percepção
se quiser.
Eu
poesia.
(Flávia Côrtes - Julho de 2013)
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terça-feira, 16 de julho de 2013
O que é o que é?
Eu não faço idéia do que acontece em algumas madrugadas no andar de cima. Quer dizer, eu acho que só acontece em algumas madrugadas. Mas pode ser que aconteça em todas. E eu só perceba quando acordo de noite por sede ou pesadelos.
É um barulho engraçado. O som parece com rodinhas ou rolimãs... e não são poucas! Ou, então, de algo borbulhando alto.
Não é nem que incomode demais. Nunca é o barulho que me acorda.
Mas quem é que consegue dormir depois imaginando
o que
será
aquilo...?
Máquina de lavar roupa ligada na madrugada..?
Bomba de piscina borbulhando no ar vazio...?
Meia dúzia de crianças insones andando de velotrol...?
Fábrica de costura clandestina com máquinas antigas de pedal...?
Fantasmas arrastando correntes pelos cômodos vazios...?
Enfim, moro aqui há seis anos. E há seis anos me intriga o barulho.
Algumas vezes já pensei em ir lá tocar a campainha e descobrir. Mas a curiosidade nunca foi maior do que a preguiça de levantar da cama.
De mais a mais, invariavelmente eu acabo dormindo no meio do jogo de adivinhar o barulho.
Ou, então, ocupo-me com algo mais interessante do que discutir com vizinhos às três da manhã.
Hoje, escrevo.
(Flávia Côrtes - Julho de 2013)
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Concordâncias
Para saber
como é a pessoa
veja como ela age
quando o pronome
deixa de ser
na primeira pessoa.
(Flávia Côrtes - Julho de 2013)
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domingo, 7 de julho de 2013
Amparo
Só parece
que é você
quem cuida
quando
quem é cuidado
é alicerce.
(Flávia Côrtes - Julho de 2013)
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Bem-te-vi
abrindo a manhã
conta que está sol.
Não tem malmequer
que abale
esse bem querer.
Plantou um
copo-de-leite nos olhos
e a deixou assim
toda terna.
Amor-perfeito apaixonado
por girassol
abandonou o quintal.
Sempre-viva
preferia-se guirlanda
e saltou do vaso de flor.
Para reforma ortográfica,
ninguém pediu plebiscito.
A poeta
não encontrava palavra
para fechar o poema.
Não tem problema
porque o poema
também não encontrava
quando abriu a poeta.
A gente finge que é cinema
e escreve
FIM
(Flávia Côrtes - Julho de 2013)
sexta-feira, 5 de julho de 2013
Mudança de Planos
A viagem seria no fim da tarde
em um dia em que
a reunião atrasou;
pediram um relatório extra;
34.000 emails "duplicaram" na caixa postal ;
o teclado desconfigurou;
a impressora parou de imprimir;
os táxis desapareceram.
Nada acontece por acaso.
Graças a Deus,
que te faz ficar
exatamente
onde você precisa
e quer estar.
Flávia Côrtes - Julho de 2013
(Para meus irmãos e minha mãezinha)
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A viagem seria no fim da tarde
em um dia em que
a reunião atrasou;
pediram um relatório extra;
34.000 emails "duplicaram" na caixa postal ;
o teclado desconfigurou;
a impressora parou de imprimir;
os táxis desapareceram.
Nada acontece por acaso.
Graças a Deus,
que te faz ficar
exatamente
onde você precisa
e quer estar.
Flávia Côrtes - Julho de 2013
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Coisa de Passarinho
Estava chovendo bem pouquinho.
Parei três minutos
para ver um passarinho
beijando flor
em frente ao meu portão.
Passarinho com asa molhada
também voa...?!
Surpreendente mesmo
é que levou três minutos
para crescer um ipê amarelo
em frente ao meu portão.
Mágico o dia
em que o teu pensamento amarelo
voa assim.
Coisa de passarinho.
Flávia Côrtes - Julho de 2013
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segunda-feira, 1 de julho de 2013
Combinou com os russos?
As pessoas são o melhor que elas podem ser
no momento em que estão sendo.
E pode ser
que esteja
tudo bem.
Basta bastar.
Flávia Côrtes - Julho de 2013
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domingo, 30 de junho de 2013
É exclusividade do inverno
estas manhãs silentes
onde só se ouve,
muito ao fundo,
o latido um tanto rouco
de um cão.
Não pede nada este cão.
Late como quem canta.
E, ainda que não seja
uma manhã tão fria,
dá esta vontade de ficar.
Acendo a luminária
para emprestar à manhã
um ar de seis da tarde.
Deixam de pulsar as urgências.
Calam-se todas
para ouvir
a balada do cão rouco
que canta baixo
numa manhã
quase fria.
Algumas coisas só acontecem
em manhãs de inverno.
(Flávia Côrtes - Junho de 2013)
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Brumas
O pensamento amanheceu
como amanhecem
manhãs de inverno.
Havia um certo vagar.
Uma sensação
de edredom ao relento.
Uma coisa fria por fora
e quente por dentro.
Um calor sem urgências.
Desses que dão vontade
de ficar.
Assim como
a primeira taça de vinho,
o segundo encontro,
a terceira dança.
No quarto,
ainda era cedo.
Havia tempo ainda.
(Flávia Côrtes - Junho de 2013)
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quarta-feira, 5 de junho de 2013
Boldo
Boldo
Há quem veja loucura
no inverso do próprio conceito
de lucidez.
Olhos fixos no espelho,
estranham
o que não é reflexo.
A mim ainda espanta
essa gente que prefere
janelas fechadas
e que leva no rosto
um amargo.
Que Chá de Boldo
resolveria o problema
dessa gente
que leva no peito
uma indigestão com a vida?
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
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Há quem veja loucura
no inverso do próprio conceito
de lucidez.
Olhos fixos no espelho,
estranham
o que não é reflexo.
A mim ainda espanta
essa gente que prefere
janelas fechadas
e que leva no rosto
um amargo.
Que Chá de Boldo
resolveria o problema
dessa gente
que leva no peito
uma indigestão com a vida?
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
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sexta-feira, 31 de maio de 2013
Desfile
O fim de semana chegou
despindo-se
de maio.
Ainda caem as folhas por algumas semanas,
antes que o inverno sopre
para fora do armário
casacos.
Em passos largos,chega o ano
ao centro da passarela
e te encara na escolha.Meia estação
ou estação inteira?
Pleno
ou metade?
Não como avesso do sim
vale mais que um talvez.
O ano desfila.
E você?
Espectador?
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
quarta-feira, 29 de maio de 2013
No poente de um dia
desenhado em uma noite,
movimentos opostos
de nuvens e aves
prendiam o olhar
na beira do cais.
Nuvens brancas esfiapadas
corriam velozes na direção do vento.
Abaixo delas, negras gaivotas em bando
voavam em sentido oposto.
E se o vento pastoreava as nuvens,
desafiavam as aves a ventania.
Eram como peixes corredeira acima.
Os movimentos contrários
de nuvens e aves
em flocos e asas,
o preto no branco,
confundiam o olhar
numa suave vertigem.
Deitada na madeira quente do cais,
uma poeta sonhava versos.
Nuvens passando horizonte abaixo,
aves passando horizonte acima,
pensamentos em sumidouro:
passavam como tudo passa.
Acordada,
transcrevo os versos sonhados
e percebo.
Nem tudo passa.
Tudo pode passar.
Mas, se verdadeiro e forte,
levamos por dentro
para sempre.
Impressos por trás da retina
assim como um sonho.
Tatuados na alma,
assim como um poema.
Como esse
que eu transcrevo agora.
domingo, 26 de maio de 2013
sábado, 25 de maio de 2013
Horizontes
A janela era outra,
como outra era a varanda,
mas a minha montanha estava lá
olhando para mim.
Pensei mesmo
que não a veria novamente.
E havia uma saudade
antecipada e pesarosa
entre nós duas
há dias.
Os olhos da montanha
pousados nos meus
me tranqüilizaram
(como sempre fazem).
Eu realmente acho
que tudo vai ficar bem
agora.
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
Nota para quem me lê:
Isso não é um poema.
É só uma paz que escorreu de mim
nesta manhã.)
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Boreais
Corpos desenhados
na penumbra
em relevo do desejo.
Dois intensos
e o que não se evita.
Dedos e línguas em labaredas
como fogo morro acima.
Desejo líquido escorre
como água encosta abaixo.
Ventos solares incendeiam
e o poente alvorece
no grito úmido
da aurora.
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
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Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.
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domingo, 19 de maio de 2013
Estranha
Sei que gosto de um livro de poemas quando me pego dizendo trechos em voz alta,
repetindo-os, dando risada em algumas partes. E, se o verso for muito bom, eu preciso levantar e caminhar um pouco para dizê-lo mais uma vez.
Alguém que me veja lendo, em uma praça ou varanda, há de pensar:
"Que moça estranha aquela...!"
É que a poesia,
quando ecoa em mim,
meio que transborda.
E eu não sou silenciosa
naquilo que me transborda.
Agora mesmo, é sábado,
há cinco travesseiros espalhados na cama,
a voz da Sade enche o quarto,
há um Leminski aberto ao meu lado
e eu aqui, conversando sobre abstratos.
"De fato, estranha esta moça...!"
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
terça-feira, 14 de maio de 2013
Coletivos
Enquanto você for
ombro e mão,
sempre haverá mais gente em volta
do que quando você for boca
ou precisar de chão.
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
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segunda-feira, 13 de maio de 2013
Azul Rendado
Os olhos da mulher buscavam
o céu azul por trás
da delicada renda branca
das nuvens.
As mãos do homem descobriam
a pele branca por baixo
da delicada renda azul
da mulher.
A cidade abaixo.
A paixão acima.
Em renda, agora vermelha,
dois incendiavam
o poente.
A noite soprou o sol
e acendeu luzes douradas
dentro deles.
Flávia Côrtes - Maio de 2013
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quinta-feira, 9 de maio de 2013
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Nada é tão simples assim.
Um cheiro de café
não é só um cheiro de café.
É um sabor de pausa,
um desacelerar,
uma renovação.
2% de cafeína
diluída em outras substâncias
não explicam isso.
O gosto da água
não está escrito
em insossas enciclopédias.
É o avesso da sede.
Um alívio,
um frescor.
2 átomos de hidrogênio
abraçados a oxigênio
não contam isso.
Um feijão de mãe
nunca precisou de mais do que
alho, sal e cebola
para ser inesquecível.
O olhar do teu amigo
dispensa legendas.
Então, porque este esforço todo
para entender
100% do que
sente
ou quer?
Não precisa ser
tão complexo
assim.
Viva!
(Flávia Côrtes - Maio de 2013)
domingo, 28 de abril de 2013
(C)oração
Que a sua boa intenção
jamais ofusque
o seu bom senso.
Porque desde que o mundo é mundo
enche-se o inferno
de boa vontade.
Que a sua boa vontade
não te leve
à indelicadeza.
Se levas flores no peito,
não esqueças
de descalçar os coturnos.
Porque não é de hoje
que marcham exércitos
sobre terras santas.
Abençoadas as mães
que ensinam aos filhos:
"Obrigado!"
"Por favor!"
E "Desculpe-me!"
Lembra, então, Coração:
"Como é que se fala...?"
(Flávia Côrtes - abril de 2013)
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quinta-feira, 25 de abril de 2013
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