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segunda-feira, 23 de abril de 2012



Bordado à Chuva

Pela vidraça,
cristais de chuva
escorrem em teias.

No ar,
um cheiro fresco
ecoa pingos.

Em delicado artesanato,
associo fonemas.

Suspendo o lápis,
agulha do invisível,
e prendo o pensamento
em fio prateado
para bordar em verso
o desenho que a chuva
escolheu
quando brincou de aranha
na tela da minha janela.

Desaprendo o mundo
no reflexo invertido
da gota.

E bordo.

(Flávia Côrtes - Abril de 2012)



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Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.


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terça-feira, 17 de abril de 2012


Parto e Partitura


Uma palavra escrita no meio do papel
germinando um verso.
Assim me ensinava o poeta.

Lembrei da aula de ciências da pré-escola
da brancura do algodão rasgado
pelo germinar do broto verde

Achei bonito isso.

Queria eu ter uma criação assim.
Delicada e cuidadosa
Um parto de cegonha
Um escrever de agricultora

Queria eu plantar uma letra semente
em miolo de página branca
e ficar ali, paciente e maternal,
observando o brotar do grão.

Eu nunca consegui escrever olhando palavra.

E páginas brancas, no máximo,
me remetem a nuvens
ou a lençóis.

Eu só escrevo quando a Poesia olha para mim.

Às vezes, a Poesia se escancara em frente aos meus olhos
e as letras começam a me escorrer pelos dedos
sem que eu possa controlar.

É algo como peito de mãe
escorrendo leite no meio da rua
só porque ouviu choro de criança.
E nem era sua aquela criança.

Às vezes, estou quieta no meu canto
naqueles dias em que a gente acorda normal
naqueles dias em que a gente nem é poeta
um dia assim como o de hoje

Aí, vem uma lembrança ou um pensamento.
E, pelo canto do olho,
eu vejo a Poesia me olhando.

Já tentei, algumas vezes, desviar o olhar,
mas olho de Poesia prende olhar de Poeta.

Adeus, Dia Normal.
Cá estou eu de novo.

Escavo com as mãos versos ainda não escritos
como quem desenterra raízes.

Reconstruo jardins suspensos
ao toque de um dedo verde.

E o papel volta ao lençol.
Embrulho a cria e te entrego.

Embala.


Abril de 2012

segunda-feira, 9 de abril de 2012


Espaço Aéreo


Há noites
em que cada um
alça vôo solo
quer por ebulição de idéias
quer por sede de silêncio

E se um busca casca
e casa vira casulo

O outro pega carona
em pé de vento
e acelera o pensamento

Um olhar desatento
os diria isolados.

Mas a sintonia dos paralelos
é justamente
esta.

Noite alta
horas lentas
idéias soltas

cada um em seu próprio ritmo
cada um em seu próprio mundo
e, ainda assim,
conectados.

Entre uma viagem e outra,
ele pousa um olhar carinhoso sobre ela.

Entre um poema e outro,
ela o presenteia um sorriso.

Olhar e sorriso se tocam.

Quase um roçar de pontas de asas
que se buscam durante o vôo.

Porque aqueles que se sabem
não precisam invadir
espaço aéreo do outro.

E se permitem.

Abril de 2012

terça-feira, 3 de abril de 2012

Verão

Foi a estação
que me convidou
a lançar um olhar
aumentativo
sobre a vida

Eu
só disse
Sim

Janeiro de 2012