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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mágica e estranha a sina do poeta.
Ver o mundo virar palavra.
Deixar o olho fotografar a vida.
Digerir todo dia a si mesmo.

Sentir o ar se encher do sentimento mudo.
E esperar.

Esperar para ver se o verso veste palavra.
Esperar até as palavras rodearem devagarinho.

Até o texto vir inteiro e forte.
Até as palavras se esparramarem, cristalizadas, no papel.

E, enfim, ser igual a toda gente.

Agosto de 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Descompassos
Era época de falar de planos, projetos, valores
e cá estou eu a te contar de sonhos, suspiros e vontades.

Era época de te perguntar o que você faz, onde estudou, o que planeja
e cá estou eu te perguntando o que te encanta, instiga e desafia.

Era época de eu te falar do trabalho, da família, dos amigos
e eu me encontro te falando do que contenho e excedo.

Era tempo de eu querer saber onde mora, se tem um hobbie
e eu me encontro querendo saber o que tem esperado, suspirado, transpirado.

Era tempo de contar o que fiz ontem
e cá estou eu te contando do meu lugar do sonho e de como escolho livros.

Era tempo de saber o que vai fazer hoje
e eu me encontro querendo saber o que te faz feliz.

O tempo era de ser educada e simpática
e eu me vejo contando hábitos estranhos ao mundo,
te falo sobre poemas ditos na varanda,
mostro as metáforas que pulsam nas minhas palavras.

Mas o tempo
fundiu minuto em hora
no momento em que o espelho refletiu.

E a época
abriu o espaço
no instante em que nos reconhecemos.
Agosto de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O lugar do sonho é aquele que fica impresso na retina no momento exato em que você olhou para ele. Basta um olhar e a imagem fica guardada na alma. E brinca de vez em quando com a sua vontade.

O legal é que o lugar do sonho pode mudar. Porque se você é dessas pessoas que, como eu, têm mania de trazer sonhos para a realidade, uma hora dessas o lugar vai sair do sonho para entrar na lembrança... com todas as suas cores, sabores, sons, cheiros e toques. Vai deixar de te arrancar suspiros para te trazer sorrisos.

A primeira vez que isso me aconteceu eu fiquei quase triste. Senti falta de sonhar acordada com o lugar. Mas isso durou pouco... só até ver pela primeira vez o meu lugar do sonho. Um lugar que parece um pedaço do céu grudado no chão e que tem um nome que lembra manhãs de domingo.

Julho de 2009










quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Não é com você... é comigo. Não é comigo... é com você. Relaxa. Não é com a gente. Só não é.

Trabalho, família, momentos... nada disso nunca foi motivo para não viver, não fazer... sem saber, sem poder... O único motivo é não querer. Fácil e simples. Não precisa explicar. Não precisa entender. Não precisava nem dizer.

Então, relaxa. Sedutor é o reflexo. Encantador é o eco. Se você não quer... como posso eu, então, querer?

Agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009


Estranho Domingo


O domingo acordou mudo. Acordei cedinho e, como de costume, fiquei ouvindo o silêncio e esperando. As palavras não vieram.


Eu sabia, desde a hora que acordei, que não viriam... mas esperei assim mesmo. Assim como quem espera ligação de namorado novo. A gente sabe que não vai acontecer, mas espera. E a espera também é boa.


Deu vontade de dar uma ligadinha para as minhas palavras. Eu não sou muito boa nessa coisa de esperar. Mas aí, lembrei que tinha que ir ao mercado e saí para o meu domingo. Estranho e mudo domingo.


Agosto de 2009

domingo, 2 de agosto de 2009


Abri a porta para você. Verdade que eu só queria te ver um pouco. Mas você chegou aqui e me olhou desse jeito que só você olha. E me tocou desse jeito que ninguém mais toca. Teu toque derreteu o tempo e fez da hora a certa.

Eu te vi ir antes mesmo de você sair. Tudo bem. Eu que te deixei entrar. Então eu deixo você ir. Me faz um favor, vai. Encosta a porta para mim quando você sair.

Julho de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

Nem toda ordem coloca as coisas em seu lugar.

Arrasta para o centro da sala a sua cama. Troca as cortinas. Esvazia as gavetas. Tira do armário os lençóis novos. Joga fora os sapatos velhos. Compra uma cafeteira nova. Coloca um vaso de flores no banheiro. E pendura quadros novos nas paredes.

Se não funcionar...

Arrasta para o centro da cama as suas gavetas. Tira as cortinas. Joga fora os lençóis. Esvazia a cafeteira. Coloca na geladeira os sapatos velhos. E tira do armário as flores.

Julho de 2009
Brincando de Réplicas com a minha amiga Alice
Confiram o poema que gerou este:
http://loucurasfemininasdealice.blogspot.com/2009/07/alguma-coisa-esta-fora-da-ordem-na.html

Viro, eu também, o espelho através do vidro.

Que gosto é esse pelo abismo? Que atração é essa pela queda? Olhamos pela encosta, qual asnos, hipnotizados. A certeza do impacto não reduz, em nada, a sedução do vôo.

Nossa fragilidade nos fortalece. Nossa incoerência nos seduz. Relevamos a nós mesmos, mas também ao outro. Revelamos a nós mesmos, mas raramente ao outro. Perdemos a nós mesmos e também ao outro. Mas seguimos.

Julho de 2009
Este escrevi para um amigo que tem o desconcertante hábito de me virar espelhos de repente. Alguns, inclusive, em que eu ainda não tinha olhado.



A vontade de você é sem expectativas e sem espectros.

É gostoso conversar com você.
Gosto quando você me conta das suas histórias e das suas vitórias.
Te falo das batalhas que briguei por dentro.
Te conto dos medos que venci sozinha. 
Entendo quando você me conta dos seus receios e dos seus defeitos.
A gente se reconhece.

Te deixo me beijar por dentro e aprender meus beijos.
Aprendo o teu abraço.
Gosto quando você me olha, me vê e me traduz.
Gosto de olhar para você, bonito e nu,
contando para mim das coisas que você ama.
A gente se seduz.

Gosto de saber que posso me amparar em você,
mas que você sabe que isso vai ser muito raro.
E que não se incomoda com isso.

É bom me encontrar em você.

E é muito bom saber
que você sabe
que, se precisar, eu me perco de você.

Só não sei me perder de mim.


Flávia Côrtes - Julho de 2009
www.poetaflaviacortes.com.br
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Maiores informações: contato@poetaflaviacortes.com.br
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