Passos
A primeira dança não anunciou
a caminhada que iniciava.
Voltas vertiginosas pelo salão,
mãos entrelaçadas,
olhos nos olhos,
respiração acelerada.
Girava o cavalheiro,
girava a dama.
Entregues à música,
pensamento algum.
Só a vontade imensa
de não ir embora.
Um passo à frente,
um para o lado,
dois para trás,
mais uma volta,
um giro duplo
e a vida suspensa
em expectativa.
O passo em falso amparado.
Sem precisar apelo,
sem qualquer hesitação.
E o caminho que era de um
virou trajeto de dois
e, depois, direção de três.
E a dança se fez estrada.
Nem sempre plana,
nem sempre pavimentada,
algumas vezes colina,
muitas outras precipício.
Mas se, às vezes, montanha russa,
tantas outras, roda-gigante.
Girava o cavalheiro,
girava a dama
e, também,
girava a criança.
Assim dias viraram semanas
e as semanas se uniram aos meses
e os meses compartilharam a vida.
E, a cada curva dessa contradança,
permanece imensa
a vontade de estar.
Essa é a história de uma dança
que virou estrada.
E aquela estrada
floriu alameda.
Flávia Côrtes Costa
Maio de 2021
Para Everson e Sophia, com amor.
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