Simultaneidades
Leu pela terceira vez
o verso.
Não por belo que fosse
(embora fosse belo),
mas para entendimento.
Simples e belo era o verso.
Porém, ausentes os olhos
da pessoa interrompida.
Antes do fim da frase, o toque de um celular.
Antes do início do riso, o alarme de um despertador.
Em meio ao caos cotidiano,
perece o encanto
e sobrevivem urgências.
Simultaneidades te subtraem
do que de fato importa
em desconexo tempo
de pessoas virtuais
supostamente conectadas.
Famílias coexistem ausências,
cada qual isolado em tela própria.
Amigos compartilham fotos,
mas raramente momentos.
Emotions substituem presença
em postagens comemorativas
em datas outrora festivas.
O poema, ao menos,
permite releitura.
A vida não necessariamente
autoriza reprises.
(Flávia Côrtes - abril de 2019)
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