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terça-feira, 21 de junho de 2016

Engavetamentos.

A vida, às vezes, ganha,
sem aviso prévio,
outra dimensão.
(A vida, aliás, tem mania disso...)

Estado de sítio é pouco.

Um leão por dia?
Ou doze trabalhos
antes do meio dia?

Mas a gente se adapta.
A gente sempre se adapta.
(Gente, aliás, tem mania disso...)

E acaba que, nessas horas,
é que a gente descobre

quem
alinha ombro,
arregaça mangas,
empresta presença
e ouvidos

sem que seja necessário
bradar reforços.

E há quem se importe
com as almofadas.

(Flávia Côrtes - dezembro de 2015)

terça-feira, 14 de junho de 2016

Altos e Baixos

A arte pode ajudar
a fazer deste ioiô
roda-gigante.

Quem sabe
o que pode acontecer
se você desapegar da linha
e escolher ser carretel.

A bailarina sabe
que fixar o olhar,
um ponto a cada giro,
clareia a mente da tontura
e a preserva da queda.

Até descidas têm horizontes.

(Flávia Côrtes - junho de 2016)


domingo, 12 de junho de 2016

Mistérios sobre a Alegria

Eu sempre fui uma Pessoa Alegre
daquelas que encontra a própria Alegria 
todo dia.

Alegria de Pessoa Alegre
surge do nada,
sem convite ou aviso,
uma ou algumas 
vezes ao dia.

Porém, dia desses, eu percebi,
um tanto curiosa,
que anda meio sumida
a minha Alegria.

Não é que não venha 
nunca.

Mas tem se comportado 
assim como um filho 
que há pouco saiu de casa.

Aparece para almoçar
aos domingos,
nunca falta 
em aniversários
e lembra de datas 
comemorativas.

Mas não percebe a falta que faz
quando não liga todo dia
ou não acha um tempo 
para aparecer sem aviso
só para um café 
e algumas risadas.

Confesso que levei um tempo
para perceber a ausência
da minha Alegria.

Isso porque eu não ando triste.
Ando, aliás, bem feliz.
Todo dia eu sou Feliz.

Surpreendente isso
de perceber 
que a Felicidade pode existir 
dissociada da Alegria.

Custei para entender o motivo:
Cansaço Extremo.

Até para ser feliz, 
a pessoa precisa 
de energia.

Falta hora no dia.
Mas, ainda assim, 

é tempo de apagar as luzes mais cedo.

(Flávia Côrtes – Junho de 2016)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sinfonia

O ruído
continuo e permanentemente
do motor subindo a serra
se misturava a outros sons.

Um trepidar de vidros
das janelas.

As conversas paralelas
das gentes
que iam ou voltavam
de algum lugar.

Olhos fechados
aguçavam ouvidos
que brincavam
de separar e unir
os sons.

Apitos
pediam
paradas.

Um ou outro motor
ultrapassava.

A intenção era sono.

Mas o destino
poema.

(Flávia Côrtes - junho de 2016)