Rio Riacho
Nasci numa cidade à beira-mar
encrustada entre montanhas
e com uma floresta no meio.
Isso garante uma umidade
quente e constante.
O verão goteja nas frontes
e o inverno
tem alguns dias ao ano
e só.
Quem não gosta de água
deve evitar morada no
Rio de Janeiro.
Não é nem que chova.
Na verdade,
quase não água por fora.
É que a cidade transpira.
Quem olha o ar em dezembro
enxerga o calor incolor
evaporado do asfalto
e denunciado em termômetros
e sabe
que os elevados graus descritos
são bem inferiores
à sensação térmica
de vulcão à sombra.
Julho mostra moças
de mangas compridas e shorts
passeando nas manhãs de domingo.
E a cidade acorda sob edredons
ainda que haja, frequentemente,
ar condicionado nos quartos
só para garantir o conforto
da manhã quase fria
nesse meio inverno.
As árvores mostram
orquídeas floridas.
Nas calçadas, folhas outonais
se recusam a ranger sob os passos.
É que numa cidade-água
amendoeira em julho
até veste por do sol
e decora calçada,
mas se prefere silêncio.
E o poema escuta.
(Flávia Côrtes - julho de 2015)
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domingo, 26 de julho de 2015
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