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Delicadezas
Em dezembro, estive por uma semana em uma pousada com minha mãe e irmãs.
Foram as primeiras festas de fim de ano sem o meu pai. E viajamos em busca de dias mais amenos em tempos tão dolorosos para a minha família.
Foi uma boa decisão.
Os dias foram encantadores e as pessoas, na pousada, extraordinariamente gentis. Com zelo, atenção e carinho, arrumadeiras, garçons, recepcionistas e a dona da casa, em cada detalhe do dia a dia, ajudaram, de alguma forma, a suavizar um tempo que pensávamos tristes.
E foi assim que trouxemos, todos, o riso de volta ao rosto de minha mãe.
Sendo impossível agradecer plenamente por isso, antes de partirmos, escrevi bilhetes de agradecimento a todos os que cuidaram de nós diretamente. Acrescentei aos cartões um poema escrito por lá e, para os funcionários, incluí uma pequena bonificação (pequena mesmo).
Pois bem, hoje, recebi pelos Correios uma correspondência da dona da casa. Dentro do envelope, uma foto de um buquê de flores e, no verso da foto, um bilhete que dizia:
"Flávia,
bem vi que você é uma poeta.
Adorei o que você escreveu. Quero ler mais de sua poesia.
Anote o meu e-mail... Volte sempre. Laura."
E ainda há quem não acredite em delicadezas.
Janeiro de 2013
Nós
(Flávia Côrtes e Renato Gusmão)
Em nossas vidas
somos o que vivemos
dizemos o que somos
e somamos
líquidos e sólidos
vitrais e papéis
os nós humanos
tão cruéis
tão normais
na palavra
o tudo
ou nada
no sempre do ontem
o resto do hoje
amanhã o rosto
oposto de vida e morte
coisas do verbo loucura
quem comanda é a fala
e nada nos cala
visgo de amor
e sanha
nossa própria fissura
Verbaliza-nos
vida insana.
(Texto escrito em parceria poética por Flávia Côrtes e Renato Gusmão)
Para conhecer o verso do Renato, acesse o blog:
http://cordapatria.blogspot.com.br/
Desalinhos
Não há arrepio arrepiado
que desalinhe de fato
se não desfizer antes
a linha do pensamento.
É o não adivinhado
e o não previsto
que faz a gente perder
o caminho do "não".
(Flávia Côrtes - Janeiro de 2013)
Quase Poema de Beijinhos
Havia já um tempo
que eu não me amanhecia.
E o dia começava
daquele mesmo jeito
que já se sabia.
Um jeito de todo dia.
E eu seguia por tardes brancas
em busca de lagos azuis
pontilhados de beijinhos de chuva
como peixes suspirando ar.
Em uma tarde assim
um verso de beijinhos revoava
em volta de mim.
Mas eu não sei
como termina esse verso.
Ficou caído na poça d'água.
(Flávia Côrtes - Janeiro de 2013)