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domingo, 31 de julho de 2011


Tempo Corrido ou Tempo Escorrido

Angra desacelera o tempo.

É como se o tempo passasse
um pouco mais lento
só para a gente
apreciar
a beleza

E é quando o tempo
passa lento assim
que dá para
descobrir
o que não se vê
em tempo corrido

Em tempo escorrido
se vê o vento fazer textura prateada em espelho d’água
brincando de ofuscar o sol
só para prender o olhar
da gente

Em tempo escorrido
se vê o sol encontrar passagens por trás das nuvens
colorindo bordas amarelo-luz em flocos cor de chumbo
só para transbordar a alma
da gente

Em tempo escorrido
se descobrem verdes
em folhas diferentes

E só em tempo escorrido
a retina admira
com propriedade devida
a arquitetura delicada
da teia

Neste domingo
Angra desacelerou o tempo para mim
por dentro
e por fora

Você pode achar que eu estou
aqui
agora
te dizendo um poema

Estou nada...
Ainda estou
acompanhando o vôo da gaivota
sobre a baía de Angra

Daqui a pouco eu volto
Mas em tempo escorrido, tá?

Julho de 2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011


Recomendações de uma Leitora de Manoel de Barros

Estou lendo a “Poesia Completa”, de Manoel de Barros. Comecei tem uns dois meses. Um livro apaixonante. Vim aqui recomendá-lo.

Você há de me perguntar como posso levar esse tempo todo para ler um livro com no máximo 500 páginas e ainda dizer que é apaixonante.

Bem, para ser sincera, eu ainda não cheguei à metade do livro. Acho que li umas 200 páginas até agora. E posso afirmar, com absoluta certeza, que é apaixonante.

Existem bons motivos para eu estar na página 200, acredite.

Na verdade, são duas coisas.

A primeira é que eu descobri que leio Manoel de Barros muito melhor em manhãs de domingo. Sim, porque os domingos, já há muito tempo, fazem manhã em mim. Manhãs de domingo escorrem – o que é perfeito para desaprender coisas. Principalmente se você está experimentando-se lagarto pela primeira vez. Hoje, por exemplo, descobri que há lagartos que dão para pedra e outros que dão para água. Domingo que vem vou tentar experimentar-me lagarto que dê para água. Porque essa coisa de tentar-se lagarto, para alguém habituado a nuvem e borboleta, é, verdadeiramente, muito difícil. Pode ser que eu esteja tentando o tipo errado de lagarto. Imagino, de qualquer forma, que eu dê muito mais para água do que para pedra. Vamos ver.

A segunda é que o verso de Manoel ecoa na gente. Você lê um verso e fica ali, olhando o eco do verso. Não dá para seguir adiante, lendo outro verso, antes de absorver aquele que está ecoando na sua frente. E têm uns versos que dão vontade de ficar manhã inteira olhando, meio como quem solta o olhar na beira do mar esperando maré subir só para descobrir o que vai sobrar de areia.

Enfim, voltando ao assunto inicial: Vim aqui recomendar um livro apaixonante que está germinando em mim.

Chama-se “Poesia Completa”. O autor é um poeta com nome de passarinho.

Flávia Côrtes
Poeta, Leitora de Poesia e Desaprendiz de Coisas
Julho de 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011




Jogo

As regras são
claras,
antigas,
conhecidas.

Toda mulher aprende
ainda menina.

Ligar.
Não ligar.
Deixar.
Não deixar.
Esperar.
Instigar.
Manipular.

Conheço a cartilha.
Sei do protocolo.

Então, porque
a palavra aberta,
o olhar direto,
o sorriso claro,
o poema?

Te conto.
É esse olhar poeta
que me impede o jogo
e que me impele à vida.

Um pouco escolha,
um pouco sina,
descarto regras.

Será que perco?
Será que ganho?

Me diz você.

Eis aqui as cartas.

Eis aqui
a mulher.


Flávia Côrtes - Julho de 2011
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.

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Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
Maiores informações: contato@poetaflaviacortes.com.br
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terça-feira, 12 de julho de 2011


Era uma vez

E éramos nós dois e o mundo
em um tempo
onde qualquer sonho
era possível

Sem metáforas
mas criativos,

sem encenações
mas poéticos,

desenhávamos
um futuro
de arte
e poesia

Sonhos sonhados
em madrugadas
viravam fatos
em nossos dias

Fizemos o que foi possível
antes da décima segunda badalada
dissolver o encanto
e paralisar
o sonho

Dizem que só o beijo
de um amor verdadeiro
desfaz o feitiço

Aguardemos
cem anos.


Julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Veleiros

E eu
Que conduzo os meus caminhos
Que imprimo os meus ritmos
E escolho os meus rumos


Soltei amarras
Em redemoinho
Pleno
Do teu toque

Foi bom te ver
delicado e firme
tomar o leme
e realinhar o rumo

Então te deixo escolher
por que águas
por que ventos
e a quantos nós

E aprecio a viagem.

Julho de 2011

domingo, 10 de julho de 2011

Êxodo

Migrei
De nós dois

Não sem olhar
Para trás
É verdade

Mas é que me prefiro
Estátua de Sal
Do que ter-te
Eternamente
Em mim

Porque amores
que não se estingüem
viram mitos

Conduzi-me
Portanto

Sem revelações
E sem regras

Nem santa
Nem prometida

Mas senhora de mim

Julho de 2011
Forma e Conteúdo

E quando vejo
cá está você
em meu verso

De novo
Ainda
E novamente

De certa forma
já está em mim

Descubramos juntos,
então,
todas as formas.


Julho 2011


Ciclos

Quando me dei conta,
foi-se o faz de conta.

E, na realidade de nossos cotidianos,
se me perguntam
se já fiz as contas,
se valeu a pena,
me espanto...!

Contar o que?

Arte?
Intangível.

Amizade?
Imensurável.

Fechamos o ciclo,
cumprimos o círculo,
terminamos o circuito
de Outra Paixão.

E, naquilo que não tem início ou fim,
nos descobrimos,
nos mostramos,
e nos soubemos.

Então, eu te conto
incontáveis vezes
esse faz de conta.

Era uma vez, um grupo de amigos...
...
E foram felizes.

(Flávia Côrtes - Julho de 2011)

www.poetaflaviacortes.com.br


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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Rapunzel

Se a escalada ainda te encanta
Ainda que me faltem as tranças
Te estendo as mãos

E quem sabe me ajuda
A derrubar os muros

Julho de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011


Licença Poética

Te quero num hiato de tempo
Ritmada vogal ecoada
Entre as consoantes
de nossos dias

Só não me peça explicações
De como conjugo
Teu verso em mim

Esquece a gramática, vai

Ou, então,
chama
isso
de liberdade poética


Julho de 2011


Naturismo

Descobriu-a nua
Entre linhas
Antes mesmo
De sabê-la nua
Entre lençóis

E agora
que já a viu
Inteira

Pode até baixar os olhos
Mas falta força ou vontade
Para suspender
O vestido


Julho de 2011

sábado, 2 de julho de 2011


Efemeridades

E se eu descubro desenho
em nuvem

E escuto sino
em pingo d’água

Por que o espanto
em eu ter visto tanto?

Por que a surpresa
em eu ter sido muitas?

Você devia saber

A arte dá perenidade
ao efêmero


Julho de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011


(des) proporções

Pela manhã?
10% bom humor...
90% você sabe o que

Sem você por perto,
administro as proporções,
fazer o que?

música, café da manhã, um banho

Mas com você por perto
Ah, com você por perto...

Beijo onde encontrar pele
até te tirar do sono
até você me olhar com olhos que me dizem
eu bem sei o que

Julho 2011