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domingo, 31 de janeiro de 2010


Gosto de estar com as pessoas. Do riso solto, do assunto sem rumo, de jogar conversa fora... ou conversa dentro. Mas também gosto de estar comigo. Eu também me faço muita companhia. E não é porque estou sozinha... que o meu riso é menos solto.. ou o meu assunto tem mais rumo.

Devaneios pela Palavra
Janeiro de 2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010



Escolhas

Tá bom, você precisa.
Decidir, escolher, optar, resolver.

O dia começa, e você precisa.
Atender aos pedidos!

Do filho,
do marido,
da mãe,
do chefe,
da empregada,
do médico,
do professor,
do dentista.

O dia corre e você tem.
Tem que fazer, tem que saber, tem que poder.

A noite chega e você precisa.
Precisa ouvir, discutir. saber.

Porque o certo, o correto, o direito,
é você ser essa pessoa
eficiente, organizada, decidida,
informada, bem vestida, articulada
e antenada!

Por que
seus filhos,
seu marido,
seu trabalho,
seus pais,
seus amigos
esperam.

E eles
 precisam de você.

Mas, hoje, só um pouquinho,
antes que o Hoje acabe,
pare e pense:
Quem precisa de quem?

Precisam de você?
Ou você precisa que precisem de você?

Quem precisa do que?

Seu filho?
Precisa que você saiba
ou que você sinta?

Seu marido?
Precisa que você faça
ou que você esteja?

Sua mãe?
Precisa que você ligue
ou que você escute?

Seu trabalho?
Precisa que você corra
ou que você faça?

E você?
Precisa do quê?
Precisa de quem?

Então, hoje, só um pouquinho,
antes que o Hoje acabe,
escolha ouvir a si mesma.

Decida olhar para o outro.
Escute o que não foi pedido.
A palavra que não foi dita
e grita.

Veja o que não foi mostrado.
O gesto que não foi feito
e pede.

Hoje, só um pouquinho,
antes que o Hoje acabe,
sinta.

Desfaça,
não faça.

Desorganize
ou não organize.
Por dentro ou por fora.

Permita.

O nome do Hoje é presente.
Isso não é por acaso.



(Flávia Côrtes - Janeiro de 2010)
www.poetaflaviacortes.com.br
Textos devidamente registrados na Biblioteca Nacional e protegidos quanto aos seus direitos autorais.
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Poesia Falada: Confira tudo sobre o CD no link Verso em Voz
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010



Condição de Poeta


Sabe, poeta não é ofício
é condição.
Ato involuntário,
compulsivo quase.
Poeta é aquele
que desorganiza por dentro.
Ou, simplesmente, não organiza.
Quer por querer,
quer por não saber.
E, talvez por isso, escreva.
Desorganizado que é por dentro,
precisa se achar do lado de fora.
Precisa mirar-se
no espelho branco do papel.

Esparrama palavra para não se perder de si mesmo.

E, assim, segue.
Esparramando versos atrás de si,
em tentativa de não esquecer
o caminho de volta.


(Flávia Côrtes - Janeiro de 2010)

Texto nascido em e-mail a um amigo, o Diego, que diz que não é poeta.
E escreve lindamente.

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010


Carta a Anna

Olá, Anna,
te escrevo aprendiz.

Escrevo à dona do verso,
à Dona do Verbo.
O verbo que pode.
O verso que eclode.

Me diz, Anna,
de onde vem?

Tanta força,
tanto encanto.

De onde vem
tanto?

Me conta, Anna
como vem?

O que mostra,
o que comove,
o que encanta,
o que espelha,
o que traduz,
o que seduz.

Porque a poeta,
diante do teu verso,
se reconhece aprendiz
daquela que se diz louca
e se diz!

Ah, Anna...!
Anna que compartilha,
Anna que mostra,
Anna que conta!

No seu verso,
uma vida,
um dia,
um momento.

Ah, Anna,
tua aprendiz te diz:

Se louca ou lúcida?
Que importa
diante de tanto!

Ah, Anna,
tua aprendiz te conta:

Teu verso
te mostra, te salva?
A ti, mas também ao outro!

E é, assim,
espelho e encanto
que te leio
e releio
e releio.

Porque é, assim, que me diz.
E, se a mim diz,
diz de mim.

Porque é, assim, que me conta.
E se a mim conta,
conta de mim.

Então, Anna,
me ensina!

E quem sabe, assim,
aprendo também
de mim!

Que me prefiro louca,
que me permito lúdica,
que digo,
que conto,
que mostro!

Não por gosto,
não por vaidade!

Mas
por vontade,
por necessidade,
por lucidez!

E aqui, sentada do teu lado,
te ouvindo,
te aprendo
e me aprendo!

E aqui, debruçada no teu verso,
te lendo,
te vejo
e me vejo!

E é, assim, que te escrevo,
Anna.

Te escrevo aprendiz.
Que aprende
e diz!



(Flávia Côrtes - Janeiro de 2010)

Encantada diante da palavra exposta e forte de Dona Anna Maria Dutra de Menezes de Carvalho, em seu livro, “O Auto de Ana, A Louca – Poemas Lúcidos”



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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


O nome do hoje é presente. Isso não é por acaso.


Devaneios pela Palavra
Janeiro de 2010

A vontade que tem
É a vontade que vem
É a vontade que é sem

Sem tempo
Sem rumo
Sem prumo
Sem fundo

A vontade que tem
É a vontade
Que é

E vontade faz.

Janeiro de 2010

domingo, 17 de janeiro de 2010


Ofício da Palavra

Hoje o meu domingo acordou ocupado. Arrancada bruscamente do sono para saber o que dizer.

Explico. Escolhi por ofício ser a pessoa que sabe o que dizer... o que dizer a quem pede, o que dizer a quem reclama, o que dizer antes do problema, o que dizer durante o problema, o que dizer no dia seguinte, o que dizer a quem pergunta, o que dizer para que não precisem perguntar...

Estranha escolha a minha. Escolher pensar palavra, organizar palavra, premeditar palavra.

Minha palavra escorre
Sem pensamento
Sem parênteses
Sem asteriscos

Meu verso organiza sem métrica
A ele, permito
Deixo que minhas consoantes impliquem com as vogais
Autorizo qualquer coletivo
E me divertem metáforas

Confesso.
Sou absurdamente melhor na palavra escorrida do que na palavra escrita.

Janeiro de 2010
Esse texto nasceu crônica, mas o verso se intrometeu no meio sem pedir licença... e eu deixei.

sábado, 16 de janeiro de 2010


Sumidouro
A gente está sumindo no tempo
Vontade novinha precisa de mais que voz

Precisa de cheiro
De toque
De gosto

Precisa de olho
Precisa da mão subindo pelas costas

Não vive de atenção
Apenas

Janeiro de 2010

Não é que eu não escute a razão
Nem que eu não quisesse
Fala demais a minha razão

Passa o dia me dizendo
O que é bom para mim

Me conta toda hora o que eu sabia
Mostra para mim o que eu podia
Sussurra no meu ouvido o que eu devia

O problema
É a minha vontade

A minha vontade invade

Janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010


Só a moldura

Aí você não veio.
E eu não te pedi para vir.

Quem quer
faz

Quem quer
pede

Não fazer,
não pedir:

Espelho da vontade.
Ou da falta dela.

(Flávia Côrtes - Janeiro de 2010)
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Alguma vez você já sentiu como se o dia te desse uma soca?
Assim como uma onda que você não viu
O dia quebra em cima de você


De surpresa
O dia te arrasta!

E, se você tentar colocar os pés no chão
Te arranha, te lanha, te quebra, te afoga

Em dias assim, acredite
Melhor prender a respiração
E se deixar levar

Solta o corpo
Deixa o dia passar

Janeiro de 2010

domingo, 10 de janeiro de 2010


Não dá para apagar o que se viveu

Dá para chorar
Sofrer
Sentar pelado no banheiro
Encolher dentro do chuveiro
Abafar grito no travesseiro

Até cansar

E, se não for assim
Não dá para guardar o sofrimento depois
Ele fica ali
Latejando

Lágrima para dentro
Empoça
Faz bolo no meio do pescoço
Sangra ferida no estômago
Derrama no peito
Explode veia na cabeça

Então
Chora a lágrima para fora, vai
Vive a sua tristeza
Plenamente
Antes de guardar

Janeiro de 2009




Moderadamente


Sou péssima em fazer as coisas moderadamente.

Tá bom... dá para beber moderadamente.
Até dá para comer moderadamente.
Acho que consigo gastar moderadamente.
E posso tentar trabalhar moderadamente
de vez em quando.

Mas viver moderadamente...?!
Aprendi, não...


Flávia Côrtes – Janeiro de 2010
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010


Queria mesmo que fosse mais que um vento

Um pouco por encanto
Um pouco por surpresa

Tão surpreendente
Tão inesperado
Não precisar contar

Cansa um pouco, sabe
Ficar repetindo a toda hora

O que gosta
O que sente
O que encanta
O que excita
O que irrita
O que desafia
O que instiga
O que emociona
O que seduz

Eu não quero mais ficar me contando
Quero alguém que olhe para mim e saiba

É por isso que torço pela gente

E por que você me toca do jeito que você toca
E porque você me olha do jeito que você olha
E porque tem uma voz que me enche o pensamento

Janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010


Para apaixonar...

Um dia?
Não.
Um instante... um momento... um olhar.

Um instante para a gente se olhar
Um olhar para o tempo parar
Um momento para o mundo girar

Mas, e se não for?
Sim, tem pessoas que passam...
Vento ou ventania
Mas passam.

Ah, se não for...
Que importa?

Levanta o rosto no vento, vai...
Vive!

Janeiro de 2010