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quarta-feira, 25 de abril de 2018

Reflexões Verdes

Sempre achou bonitas
as árvores que ladeavam a rua
e a deixavam menos cinza
todos os dias.

Não só à rua na verdade.
Também a ela.

Todo dia as via.
E aquilo fazia bem.

Levou anos
para perceber
nem todas inteiras.

Aquelas que ali estavam,
antes dos fios,
erguiam-se gigantescas rumo ao céu
como cabe a uma árvore.

A fiação passando
indolor
abaixo.

Aquelas, porém, que
possivelmente chegaram depois
tiveram os galhos laterais
pouco a pouco amputados
antes da fiação.

Isso não impedia,
porém,
a majestade.

Nem por isso menos belas,
nem por isso menos altivas,
nem por isso menos árvores,
erguiam-se
(ainda que metade)
gigantescas rumo ao céu.

Como cabe a uma árvore.

A fiação passando,
ao lado,
logo abaixo.

Indolor.

Pelo menos a nós
que não somos árvore.

Flávia Côrtes
Abril de 2018









segunda-feira, 9 de abril de 2018

Trincheiras

Em tempos sombrios,
alistaram-se
em suas próprias
batalhas.

Isolados
em meio ao
fogo cruzado,
resolutos e firmes,
mantiveram-se
certeiros.

Por sobrevivência,
superaram medos,
abandonaram hábitos,
ignoraram limites.

Na mira,
inabalável,
o alvo.

E, ainda assim,
remota era
a vitória.

Até que um dia,
a força da aliança
superou aquilo
que se teimava
só.

Foi quando
a guerra de um
virou batalha do outro.

Já não importava
o breu da noite mais densa,
o frio do inverno mais árido,
o calor da batalha mais árdua.

Havia paz.


Abril de 2018
Flávia Côrtes 
(Para Everson, que me acompanha,
na alegria e na tristeza, em todos os dias
da minha vida.)