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- ► 2010 (163)
domingo, 27 de julho de 2014
Círculos
A criança embalada
tece dedos
nos cachos adultos
e nem a noite menina
sabe bem
quem nina quem.
A menina aponta o céu
para mostrar
o quanto a ama.
Na outra ponta
a lembrança
da mãe
da promessa
do amor
maior que o céu.
A vida
dá outra volta.
E junta
o fim
ao começo.
Recomeço.
(Flávia Côrtes - Julho de 2014)
domingo, 6 de julho de 2014
Anjos
Uma vez, em um momento de dor,
uma amiga especialmente terna,
presenteou-me delicados
sinos de vento lilases.
Os sinos tinham
pequenas luas presas
com fios transparentes
e quando a brisa brincava
com os fios
e as luas tocavam os sinos
um som cristalino e suave
enchia o ar
e o coração da gente.
Quando eu era bem menina
me disseram
que, quando sinos tocam ao vento,
é porque anjos meninos brincam
e sorriem.
Nas manhãs de domingo agora
eu preparo o café
ouvindo o tilintar de sinos
que me contam o riso dos anjos.
E eu me lembro
do sorriso de uma amiga-anjo
que me trouxe sinos lilases
em uma noite
onde havia só silêncio.
E sorrio.
(Flávia Côrtes - Julho de 2014)
Para Ana Paula Soeiro - que espalha magia no mundo simplesmente por existir.
Queridos amigos e familiares,
Como todos sabem, minha mãezinha deixou esta vida no dia 24/06/2014, aos 72 anos, depois de uma árdua batalha de 24 dias pela vida.
Meus irmãos e eu optamos por NÃO excluir a sua conta do facebook. Bloquearemos o mural e manteremos suas publicações e fotos exatamente como ela as deixou.
Esta decisão tem motivos fortes, que declaro abaixo.
Após a morte de meu pai, em janeiro de 2012, eu presenteei um IPAD a mamãe. Tirei férias e ensinei-a a manusear o Facebook. Expliquei como "ver as notícias" no Feed (que ela chamava de Fred) e como fazer comentários nas postagens que gostasse.
No mesmo ano, trouxe-a para o ambiente da Poesia e levei-a a Saraus. Foi difícil, no início, convencê-la a sair de casa. Mas uma pequena "chantagem", apelando ao orgulho de mãe e dizendo como era importante para mim que ela assistisse a uma apresentação minha, a convenceu a ir ao primeiro sarau.
O que aconteceu em seguida foi algo mágico, embora não surpreendente, sendo mamãe a pessoa encantadora que sempre foi.
Minha mãe começou a fazer amigos. E não apenas amigos entre os meus amigos. Ela começou a resgatar amigos de infância e familiares através do Facebook. E isso aos 71 anos.
Uma vez, ela comentou comigo:
"Filha, eu sei que são seus amigos... e que seriam de qualquer forma gentis comigo. Mas sabe que eu acho que eles gostam verdadeiramente de mim? Quando seu pai morreu, eu achei que estava tudo acabado para mim... e agora eu descubro que posso fazer amigos."
Pois bem, nos últimos dois anos, mamãe conviveu cotidianamente através do Facebook com amigos e familiares. Ela comentou postagens, conversou com as pessoas inbox... e foi lindo para nós que somos seus filhos vê-la se reinventar quando a depressão seria o caminho óbvio após a morte de seu grande amor.
Apenas isso já seria algo maravilhoso.
Porém, eu ainda descobri que ela escrevia na adolescência e até o casamento. Escrevia poemas. E parou de escrever quando casou-se e teve todos os filhos.
E, com o Facebook, eu também presenciei minha mãe voltar a escrever.
Ela dedicava um carinho enorme na redação de seus "Comentários".
Mamãe redigia os "Comentários" num caderninho antes de digitar e, todos os dias, lia para mim o que escreveu. Fazia isso exatamente com o mesmo gosto que eu tenho quando escrevo um poema e o digo em voz alta quando fica pronto.
Ela dizia... "Filha, eu não sou poeta, mas sou Comentarista".
Pois bem, eu sou poeta e posso afirmar que, quando eu me for desta vida, não vou querer que alguém delete os meus poemas.
Desta forma, também não deletarei o perfil de minha mãe e nenhum de seus Comentários.
Que fiquem publicados no Facebook os Comentários de Helena Côrtes Xavier, a mais linda Comentarista que eu tive a honra e prazer de conhecer.
Conheço-a bem e sei que é assim que ela gostaria que fosse. Portanto, que assim seja.
Um abraço a todos,
Flávia Côrtes
Como todos sabem, minha mãezinha deixou esta vida no dia 24/06/2014, aos 72 anos, depois de uma árdua batalha de 24 dias pela vida.
Meus irmãos e eu optamos por NÃO excluir a sua conta do facebook. Bloquearemos o mural e manteremos suas publicações e fotos exatamente como ela as deixou.
Esta decisão tem motivos fortes, que declaro abaixo.
Após a morte de meu pai, em janeiro de 2012, eu presenteei um IPAD a mamãe. Tirei férias e ensinei-a a manusear o Facebook. Expliquei como "ver as notícias" no Feed (que ela chamava de Fred) e como fazer comentários nas postagens que gostasse.
No mesmo ano, trouxe-a para o ambiente da Poesia e levei-a a Saraus. Foi difícil, no início, convencê-la a sair de casa. Mas uma pequena "chantagem", apelando ao orgulho de mãe e dizendo como era importante para mim que ela assistisse a uma apresentação minha, a convenceu a ir ao primeiro sarau.
O que aconteceu em seguida foi algo mágico, embora não surpreendente, sendo mamãe a pessoa encantadora que sempre foi.
Minha mãe começou a fazer amigos. E não apenas amigos entre os meus amigos. Ela começou a resgatar amigos de infância e familiares através do Facebook. E isso aos 71 anos.
Uma vez, ela comentou comigo:
"Filha, eu sei que são seus amigos... e que seriam de qualquer forma gentis comigo. Mas sabe que eu acho que eles gostam verdadeiramente de mim? Quando seu pai morreu, eu achei que estava tudo acabado para mim... e agora eu descubro que posso fazer amigos."
Pois bem, nos últimos dois anos, mamãe conviveu cotidianamente através do Facebook com amigos e familiares. Ela comentou postagens, conversou com as pessoas inbox... e foi lindo para nós que somos seus filhos vê-la se reinventar quando a depressão seria o caminho óbvio após a morte de seu grande amor.
Apenas isso já seria algo maravilhoso.
Porém, eu ainda descobri que ela escrevia na adolescência e até o casamento. Escrevia poemas. E parou de escrever quando casou-se e teve todos os filhos.
E, com o Facebook, eu também presenciei minha mãe voltar a escrever.
Ela dedicava um carinho enorme na redação de seus "Comentários".
Mamãe redigia os "Comentários" num caderninho antes de digitar e, todos os dias, lia para mim o que escreveu. Fazia isso exatamente com o mesmo gosto que eu tenho quando escrevo um poema e o digo em voz alta quando fica pronto.
Ela dizia... "Filha, eu não sou poeta, mas sou Comentarista".
Pois bem, eu sou poeta e posso afirmar que, quando eu me for desta vida, não vou querer que alguém delete os meus poemas.
Desta forma, também não deletarei o perfil de minha mãe e nenhum de seus Comentários.
Que fiquem publicados no Facebook os Comentários de Helena Côrtes Xavier, a mais linda Comentarista que eu tive a honra e prazer de conhecer.
Conheço-a bem e sei que é assim que ela gostaria que fosse. Portanto, que assim seja.
Um abraço a todos,
Flávia Côrtes
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