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quinta-feira, 20 de março de 2014



Perspectiva


O olhar se perde em labirinto.

No mosaico preto e branco,
colombinas jogam damas.

Alice troca chá por café.

Um quadrado
com vocação para triângulo
sempre pode
inventar-se losango.

O mundo muda de ângulo
por perspectiva
ou vertigem.

Se isso ocorre
por vontade de quem olha
ou por vocação da coisa olhada,

quem há de saber?


Flávia Côrtes - Março de 2014

quarta-feira, 19 de março de 2014


Eu passo

Às vezes, é melhor
recolher os dados
antes

do que os cacos
depois.

É que não parecia um jogo.

(Flávia Côrtes - Fevereiro de 2014)

quarta-feira, 12 de março de 2014

Cinqüenta Minutos

O que é mudo
reverbera por dentro.

A palavra dita
exorciza.

Pelo menos,
foi assim que me contaram

Pelo menos,
Foi assim que me disseram.

Mas, por hoje,
o gosto
é Boldo.

(Flávia Côrtes - março de 2014)

domingo, 9 de março de 2014


Outono Rosa

Eu vi um Outono Rosa
se desenhando bem ali.

É março
e as árvores despejam
flores sobre o chão

como um tapete púrpura
a aguardar o Outono
que já vem vindo.

Dentro de algumas semanas,
galhos secos se erguerão
altivos contra o céu
aguardando novos brotos
e desafiando
a quem quer que diga

que não há beleza
onde não há
enfeites.

Que venha o Outono, então.


Flávia Côrtes - Março de 2014

terça-feira, 4 de março de 2014


Feriado

Em festival
de domingos sucessivos
desfilavam os dias.

Um, dois... feijão com arroz.
Bobagens, risos e saudades.

Que domingo
é domingo mesmo
sem amigos?

Três, quatro... feijão no prato.
Música e folia.
No bloco, mamãe e eu.

Que domingo
é domingo mesmo
sem família?

Cinco, seis... prosa e verso.
Manhãs lentas descobrem poemas.
Tardes aceleradas encontram prosas.

Que domingo
é domingo mesmo
sem poesia?

Sete e oito... invenções.

A bailarina samba no pé.
O baterista gosta de jazz.
Toda criança sabe dançar.
Um cata-vento é mais que um poema.
Cantigas de roda giram para sempre.

Que domingo
é domingo mesmo
sem descoberta?

Nove e dez.
E o poema não acaba.

Mais que um doce pelo seu pensamento.
Um beijo e um queijo.

Não me leve a mal, vai.
Hoje é Carnaval.

(Flávia Côrtes - Março de 2014)

domingo, 2 de março de 2014


Portal

Era um domingo comum.
O tanto quanto domingos
podem ser comuns pelo menos.

Na cama desarrumada, flocos de lençóis
emaranhados e brancos contavam preguiças.

A manhã seguia lenta
e o dia desenhava tardes
entre amigos e risos.

Na espera da tarde,
fotos antigas
de um tempo tão vivo.

Nas fotos, mais que imagens.
Momentos.

Por um instante, o amor desfez o tempo.
Portal.

E era um domingo quase comum.


(Flávia Côrtes - Março de 2014)





Conta-gotas

Mais dia
menos dia
a goteira das horas
alisa a pedra
e escorre a mágoa.

É que o tempo,
conta-gotas do sempre,
é também
o encarregado do nunca.

Nunca mais também acaba.

(Flávia Côrtes - Março de 2014)